quinta-feira, 27 de junho de 2013

MEU INESQUECÍVEL JAÚ

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES

MEU INESQUECÍVEL JAÚ

Existem sonhos que nascem e morrem conosco, outros conseguimos realizar e merecem ser compartilhados.
 
Sempre tive vontade de pescar no Pantanal Mato-Grossense. As dificuldades, o ambiente rude de Selva, a circunspecta, sábia e agradável solidão, a diversidade da fauna e da flora, minha queda pelo ambiente selvático, o tamanho dos "gigantes", me atraiam sobremaneira.

Lia a respeito em várias revistas especializadas. Continuo lendo e colecionando.
Visitei a serviço o Mato Grosso, tanto do Sul como "do Norte". Sempre como disse, à serviço, pela PM. Ora para participar de Seminários de Narcotráfico nas Fronteiras, ora para atuar como Instrutor em Instruções Especializadas ou  Operações Integradas  com outras Forças. Mas nunca pude reservar um mísero torrão de tempo para lançar um pedaço de linha dentro d'água em busca de um Pacu, Pintado, Piranha, Corvina, Dourado ou outro qualquer habitante fluvial local.

A vida continuou e o sonho não se materializava. Ora e muito ora, falta de dinheiro, ora falta de planejamento, ora de tempo, ora de como saber fazer para concretizar a vontade de pescador.
Um belo dia, por razões fortuitas, em comparecimento ao aniversário de meu amigo José Carlos Erthal no Município de Bom Jardim, conheci o  Engenheiro  Afonso Erthal, pescador emérito  e regular das terras pantaneiras. Surgiu o assunto e ele imediatamente me convidou para sua próxima pescaria, claro que imediatamente também aceitei.

Em um dia de Agosto  do ano de 2004, após obter permissão da D. Dalva, embarquei em um ônibus fretado em Nova Friburgo, junto com uma equipe de mais 13 pescadores amadores, os companheiros: Afonso, Augusto, Carlinhos Santos, Carlinhos Ferreira, Mauricio, Wilson, Celio, Jorge Pontes, Emilio, Thiers, Thales, Carlyle e Nelson, os quais em sua maioria já por 10 anos  repetiam o mesmo ritual.

Enfrentamos 30 horas de viagem ( dai a necessidade de 2 motoristas) até  chegarmos em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Cada um com seus apetrechos pessoais, equipamentos diversos, varas pesadas, molinetes robustos, carretilhas, demais tralhas, complementos e ansiedades. Lá viemos conhecer as iscas próprias: minhocuçu, tuvira, muçum, peixes pequenos vivos/mortos ( iscas brancas), frutas ribeirinhas( pequenas melancias, maracujás e abobrinhas), sem contar com uma infinidade de iscas artificiais.

Embarcamos em uma Chalana, Barco Hotel, muito confortável, de nome Paola I, com camarotes para 14 passageiros, em duplas, contendo banheiro, cama beliche  e restaurante comum. Amarrados a Chalana lá iam 7 botes de alumínio, com motor de 25 CV, reservados para nossas incursões.

Sobe-se cerca de 300 KM o Rio Paraguai. Paradas são estipuladas pelos organizadores, permitindo que em cada uma se procure um tipo de peixe. Duplas são formadas e com seu Piloteiro partem entre 5 e 6 horas da manhã. Ás vezes fica-se direto até as 18 horas na faina, e às vezes retorna-se para almoçar, mas sempre encerrando a pescaria no final da tarde por medida de segurança (o esturro da onça é perceptível incontáveis vezes, principalmente ao anoitecer). O equipamento é bruto , Molinetes,  Carretilhas, Varas, Linhas, Anzóis e Miudezas que suportem pelo menos Peixes  de 15, 20 Kg ou mais, muito mais. Pelotas de chumbo para JAÚ , a maioria entre 200 e 400 gramas ou mais, completam a tralha.
 

Nossa dupla foi formada  pelo  Dr Afonso, nosso querido GLP ( Grande Líder Pescador ) conhecido como caçador implacável do Tubarão do Rio Paraguai, o JAÚ e por mim, marinheiro de 1ª viagem. O Piloteiro foi o Fernando, conhecedor profundo das manhas dos peixes pantaneiros.

Após toda uma extensa noite de navegação fluvial, com uma radiante manhã batizada por excelente desjejum, finalmente saímos para o primeiro dia de pescaria. O piloteiro Fernando nos reservou uma exploração nos "poções", acidentes geográficos de grandes profundidades e submetidos a inclementes correntezas. Pois é lá o habitat do poderoso JAÚ. Não saia de minha cabeça ter que lançar e puxar no molinete com frequência, chumbadas de 200/400 gramas.  E foi exatamente o que aconteceu. É realmente uma pescaria radical, em tudo e por tudo. Lançar a chumbada na forma tradicional é quase impossível. Usa-se assim o seguinte artifício. O piloteiro nos conduz ao centro do "poção", abre-se a argola de controle, libera-se a super chumbada, e com o barco em alta velocidade em direção a uma das margens do Rio, segura-se o caniço com firmeza e cautela, soltando-se o máximo de linha possível. Ao atingir a margem é só trancar, posicionar-se e esperar.

O JAÚ é um peixe  de couro cientificamente chamado JUNGARO JAHU, que domina os "poções" dos rios, os quais possuem cerca de 20, 30, 50 metros de profundidade ou mais.
É um Bagre gigante que atinge até 2 metros  e 180Kg. Normalmente encontra-se no Pantanal do Sul, com peso até 70, 80kg.
É peixe valente, peso pesado, lutador de MMA, mas nem por isso menos manhoso. Sua grande boca e cabeça enganam o pescador "bola de ferro". O JAÚ não arremete desesperado contra a isca, a exemplo do Dourado. Não abocanha o pequeno cascudo, o chumaço de minhoca, como seria proporcional a sua bocarra, e sai como um busca-pé já ferrado,  fazendo o freio do molinete gritar, conforme eu pensava.

É bicho manhoso, com jeito de "cerca Lourenço". Chupa o minhocuçu, a tuvira, o cascudo, o muçum, o acari, a curimba,  como se fossem iguarias francesas a serem degustadas com solene calma e circunstância, com o cantinho de boca, no caso com o cantinho da bocarra.

Lançamos nossas iscas nos poções e nos preparamos para aguardar longos períodos , ao mesmo tempo que cruzávamos os dedos para que as Piranhas e ou Armaus/Abotoados não encontrassem nossas iscas antes dos procurados JAÚS.

Passado algum tempo, e algumas liberações  olímpicas de chumbadas ( haja braço), foi aí que chegou a minha hora... Com  todo seu aparato bucal, o JAÚ faz apenas uma pequena pressão na isca, cheira, torna a cheirar, passa seus bigodes em volta da isca, envolve-a com sua gosma natural e começa a puxar devagarinho. Aí começam as nervosas  adivinhações,- é um pequeno Mandi, é um filhote de Cachara, é um famigerado Armau/Abotoado, um Palmito saliente !!! A linha   0.70 então se retesa. O silencio é absoluto. A respiração se torna pesada. O Bugio ruge mais forte, as Arâncoras e os Caracarás bradam suas gargalhadas no interior das macegas, como a zombarem da taciturnidade do Tuiuiú mais próximo.




O " bola de ferro" Wilton atento, já então com algum suor, a cobrir-lhe o rosto. A ponta do caniço ( Combate, suporte de 80 Libras) começa a baixar lentamente , o Piloteiro então fala baixinho, atenção, é ele, é o JAÚ, conte até dez e ferre com força. Difícil acreditar. A linha cada vez mais retesada, a ponta do caniço continua a descer. È fibra maciça, começo a contar, 1,2... 5...Afonso então fala pela primeira vez, é ... esse é grande Coronel, cuidado , não deixe a linha nem a vara encostarem na borda do barco. Nesse momento tudo vem a cabeça. O rabo dos olhos faz uma viagem, o Rio Paraguai, o céu, os pássaros na margem, o barulho dos Guaribas urrando próximos, a ponta do caniço, a linha parecendo feita de fio de aço, e aí bate um inicio de desespero. E agora ? O equipamento vai aguentar? Será  que a vara é  mesmo resistente? A linha e os distorcedores, será que  resistirão ao peso do "monstro"? Será que fiz todos os nós de maneira correta? O anzol nº 9 vai abrir ? A técnica da ferrada estará mesmo certa? Ou ficarei com cara de bobo, sujeito a gozações dos companheiros e piloteiros ? Tudo isso em uma fração de segundos.......

Decido. É comigo mesmo , não vou esperar até dez de jeito nenhum, 6,...7 e ,  sinto entre meu cérebro, minhas mãos e braços, a vara, o molinete, a linha retesada, o anzol e a isca, que meu Peixe está ali, que o Peixe da minha vida está ali, a meu alcance, nesse momento me transformo em um pescador semi-experiente. Mais 2 centímetros de baixa de vara dou a primeira fisgada. Todo o conjunto ficou pesado. Escuto um grito do Piloteiro,- confirma Coronel, confirma que ele está pedindo mais....
Dou a segunda fisgada, agora não tenho mais dúvida  que estou com um peixe grande na linha.  Agora sim , agora é que a briga começa. Imediatamente o freio do Molinete Daiwa, Modelo BG 60, dispara em um ruido que poucas pessoas tiveram o prazer de registrar. Ajeito a vara de pesca. Não posso me emocionar nesse momento , tem que ser briga de inteligencia. Se eu puxar ao mesmo tempo do disparo do freio do Molinete a linha não resiste. O que tenho que fazer é sustentar o conjunto, pedir a Iara e Netuno  que o peixe não encontre galhadas e troncos no fundão do Rio para o enrosco fatal, e arrumar o caniço para não tocar no barco, e assim criar um obstáculo que poderá quebra-lo. O peixe pára de repente, começo a recolher linha, sempre cuidando para a mesma e a ponta do caniço permanecerem causando tensão na boca do peixe. É ai que um novo mundo  no esporte da pescaria se abre para mim. O barulho da fricção do molinete, alto, vibrante, em alguns momentos impedindo que se percebesse outros sons da natureza ou dos colegas.   É realmente adrenalina pura. Aí pude sentir que a reação da fricção  do freio do aparelho te atinge pela vibração passada através da vara de pesca, não necessariamente pelo ar, vibrando e impregnando  todo seu corpo. E tome linha, e recolhe linha e tome linha e recolhe linha. O piloteiro experiente, imediatamente havia liberado o bote dos camalotes( gigogas) ribeirinhos e com o motor bem devagar, seguia o peixe, ajudando-me bastante, alertando apenas para que não deixasse ele ir para  fundo do poço (alguns tem mais de 50 metros de profundidade). Mas como? Como evitar ???

Não penso em mais nada, o momento do paralisante receio da vara quebrar, da linha estourar, do anzol abrir, do distorcedor quebrar, do molinete trincar,  já havia sido  superado. O superficial gotejar de suor no rosto, agora era um rio caudaloso a ensopar todo o corpo, os braços doíam, o pescoço parecia suportar pesada cangalha.  E o combate prosseguia. Era o meu peixe.....

Após infindáveis minutos que mais pareceram horas, o bichão parou. Nada quebrou, nada arrebentou a linha permanecia com aquele peso, agora já mais  suportável. Os braços ainda estavam a reclamar, as mãos latejavam.  A rotina até certo tempo saudável, de puxar e monitorar pela fricção desembestada, cessou. O piloteiro falou. Ele cansou Coronel ( Já haviam passado cerca de 30 minutos entre a primeira pressão na linha e aquela parada). Calma, muita calma agora, vou recolhendo linha e deixando ela sempre retesada , vara e linha. Adrenalina saia pelos poros. Roupa  colada no corpo. O calor era forte, muito forte.

De repente as cabeçadas. Teria eu pescado um bezerro insubordinado ???? Cada vez que eu recolhia alguns metros de linha o JAÚ respondia com vigorosas cabeçadas, provocando, agora com menos tempo e intensidade, novos disparos da fricção do molinete. Mais algum tempo de luta e a superfície próxima ao bote se torna revolta, pequenos redemoinhos e grandes borbulhas anunciam que o "monstro" estava chegando a tona . Ato contínuo, uma grande cabeça animal se apresenta fora d'água. Era realmente um grande e belo JAÚ, meu primeiro peixe que poderia chamar  de porte.

Ouviu-se um grito, -não deixe ele encostar no baaaarco-, era o Afonso, velho de guerra. A principio procurei obedecer mesmo sem saber porque. Mas depois intuí, ele era grande e forte, não enorme ( com a continuidade das idas ao Pantanal tive oportunidade de ver peixes muito maiores) , mas  para mim, naquele momento ele era o maior peixe do mundo..., e com certeza usaria a lateral do barco como alavanca para arrebentar todo o material e desaparecer nas profundezas do Rio Paraguai. Como sempre, tinha razão o Dr Afonso.

Me recompus (estava com o corpo todo torto), levei a vara mais a frente de meu corpo, afastando-a o máximo que pude da borda do barco. Naquele momento, meu corpo, a vara, o molinete, a linha, o anzol, e já agora o Peixe, eram novamente uma coisa só. O "Imperador" ( este título foi dado posteriormente ao JAÚ, pelos outros pescadores) não me escaparia ( passavam pela minha cabeça naquele momento pensamentos estapafurdios e irrealizáveis, tipo, se necessário, mergulharia no rio em cima do peixe se eu sentisse que ele estava para escapar).

A partir daí foi relativamente fácil,  consegui, com muita cautela, mantendo  a linha sempre esticada, trazê-lo, cansado, vencido, a beira do barco e o embarcamos sem muito esforço. O peixe tinha 1,27 metros de comprimento e 51,7 KG de peso, apurado já na Chalana. Fora uma luta de cerca de 35 minutos. Eu também estava exausto. Sua enorme cabeça se destacava do resto do corpo, sua cor era diferente dos outros JAÚS que eu havia visto em fotografias, sua pele era enegrecida.  Seus barbilhões( bigodes) possuíam um movimento frenético. Os ferrões e nadadeiras eram enormes, seus pequeninos olhos reviravam-se. Um muco leitoso escorria por todo seu corpo.
Não tive tempo de decidir se o soltaria ou não. Infelizmente a luta pela sobrevivencia havia sido demasiada para aquele belo espécime. Em poucos minutos, emitindo um ronco como se fosse um felino e um bufado como se um equino fosse , o magnífico JAÚ fechou os dois pequenos olhos e parando de se debater aos poucos, ficou imóvel. O Piloteiro assumiu o momento falando, Coronel, Dr Afonso,  isto não é normal, mas eu já vi outros peixes morrerem assim,  e ninguém até hoje por aqui conseguiu saber porque. Vamos embora. Tá na hora do almoço. O barco começou a se mover, Afonso falou, não fique assim Coronel, é da vida. Instintivamente passei a mão por todo corpo do JAÚ e falei entre entristecido, desconfortável e algo comovido, obrigado e desculpe companheiro, não era essa minha intenção, que o Todo Poderoso Senhor dos Rios o leve para o mais piscoso Corixo do Paraíso.

E continuamos a pescaria.

sábado, 22 de junho de 2013

A História do CAVEIRÃO ( 4ª Parte)

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES
 
Continuação.
 
Um tiroteio frontal infernal teve inicio. Até ai tudo bem. Em conduta de Patrulha, o procedimento protocolar seria abandonar imediatamente as  Viaturas, abrigar-se como puder, responder ao fogo de forma seletiva ou com toda potencia de fogo, e progredir, se possível em direção ao objetivo. O Batalhão lidava com essas situações com absoluta regularidade, portanto até aí, nada de novo, além das descargas de adrenalina, mas isso faz muito bem a saúde.
Mas dessa vez havia um fato novo. Um sorriso sarcástico apareceu no rosto do Caveira 05, o Cap Moura, que passou a falar baixinho, rangendo os dentes- eles não sabem ainda que estamos com o Blindado Paladino, nosso protetor e arma secreta....E mais sarcástico ainda, em meio ao enxame de "abelhas de chumbo" que passavam cada vez mais perto, já começando a me deixar um pouco mal humorado e porque não dizer um tanto  irritado ( nunca me senti muito confortável  ao tomar tiro), o Caveira 05 continuou falando, dessa vez um pouco mais alto, como se estivesse falando sozinho- seus ratos, estão me ouvindo seus ratos de barriga branca, o Paladino da Justiça está aqui...., na nossa frente, junto de nós, para nos proteger, com seu manto de chapas de aço. Nós vamos esmagar todos vocês, vamos esmagar........
 
Aí aconteceu ao mesmo tempo, tiro, bomba, granada e desastre. É que o motor do Paladino iniciou um processo de infarte agudo do "miocabeçote", oriundo dos fatores de risco, velhice, tiro de fuzil no lombo, granada na "sola dos pés", excesso de peso e necessidade de acessar ladeira íngreme. O somatório desses fatores condicionantes para o mal, foi fatal para nosso aliado. O bicho bem  na nossa frente, começou a tossir, tremer, estertorar, patinar, e a emitir ao fundo um barulho que lembrava um esgar de agonia. À frente, e nas laterais, uma cortina de tiros, muitos tiros, granadas muitas granadas, se abatia sobre nós. O nosso protetor, ali, paradão, tipo cavalo teimoso do regimento Heitor Cony acometido de  vícios redibitórios, a recusar obstáculos, naquela fria madrugada,  na escuridão daquela  estreita rua do Morro da Mineira. Até que, na fração de segundos que pareceram horas que esta situação durou, ele, o Paladino, o "Trem de Aço", começou a recuar. Com todo aquele tamanho e peso, começou a  recuar justamente  sobre o nosso carro que vinha imediatamente atrás.

Aquele parrudo para- choque traseiro começou a esmagar a frente de nosso velho Opala. incluindo aí, nessa altura já parte do motor, que começou a liberar um doloroso ruido  de ferro sendo despedaçado. O problema era que eu, o motorista e o Caveira 05 ainda estávamos dentro dele. A rapidez com que tudo havia acontecido, não nos tinha ainda permitido o desembarque sob fogo inimigo.
Foi aí que, com um barulho seco, e bastante alto, mesmo para aquele quadro de situação, seguido de rolos de fumaça ( até hoje tenho a lembrança de que eu teria sentido naquele momento, além da fumaça, algo parecido com cheiro de enxofre), a porta trazeira do Paladino se abriu e rostos pintados de preto e verde, ferozes, surgiram saltando, pulando,  bradando gritos de guerra ( alguns pronunciavam eram palavrões mesmo), com as alças e massas de seus Fuzis Automáticos Leves  buscando alvos a responsabilizar. Era a Guarnição que estava sufocada dentro do Blindado.

Tenho até hoje comigo a bélica imagem da silhueta daquela cena proporcionada pelo contraste: Caveiras em formação de combate, Fuzis guarnecidos, e os clarões do fogo inimigo ao fundo. Era como Cloroacetofenona ( gás lacrimogêneo) lançado em quantidade, dentro de formigueiro ou cupinzeiro. Nesse instante, como se tivéssemos combinado antes, nossos instintos acordaram ao mesmo tempo, o motorista, eu e o Cap Moura. As portas direitas do Opala, na fração de segundos que o esmagador Paladino permitiu, foram abertas a coturnadas, e como se dizia na Ilha Grande, no tempo que lá trabalhei, " caímos na folha", buscando instintivamente uma viela estreitíssima e escura, situada na perpendicular da rua principal. Lá,  nós três e mais dois combatentes da Guarnição do Paladino, passamos imediatamente a fazer parte do reboco, tal foi a nossa capacidade de virar parede e piso. Tudo na busca mimética de nos tornarmos invisíveis e intangíveis à colmeia de balas ( projetis) que com fidelidade absoluta ao fuzis dos traficantes, buscavam nossos corpos ( naquela época, coletes à prova de bala, na quantidade, conforto e eficácia que conhecemos hoje, eram sonhos inimagináveis). A segunda reação foi escrutinar com os olhos de onça e caveira, o túnel onde havíamos nos metido, em busca de atiradores inimigos ou  vestígios dos mesmos, pois naquela situação  poderíamos facilmente nos deparar com destrutivo fogo cruzado. Tal não aconteceu, e a partir daí nos concentramos na forte e regular barreira de tiros que vinha da parte superior da rua. Cabe registrar que nesse momento a sensação, em razão da ação das outras Patrulhas do Batalhão, era de que todo o Morro estava imerso em tiroteio .
O fato novo naquele instante, além dos tiros, era que mais uma vez o Paladino parecia ter passado para o lado do inimigo. Suas chapas de aço, em ângulo adverso, atravessadas no caminho principal, propiciavam cada vez mais condições para que estilhaços  e projetis ricocheteados, passassem a centímetros das sanguessugas  achatadas nas  superfícies possíveis, que éramos nós (ah que saudade das instruções de cobertas e abrigos verdadeiros). O Caveira 05 não parava de grunhir, tentando encontrar um humor que realmente ninguém tinha naquele momento, mas ele continuava falando com os dentes cerrados -Blindado traidor, além de tentar esmagar a gente, ainda quer nos transformar em peneira. Calabar, Calabar.....
 
Consegui contato por sinais e berros com alguns Combatentes dispersos mais próximos, a maioria na mesma situação que meu pequeno grupo, e formando uma nova Patrulha de Combate, com o bravo Cap Moura como homem ponta , dada a criticidade do momento, iniciamos a progressão em direção ao grosso dos tiros. Isso foi possível porque nesse ínterim, as Patrulhas  que receberam a missão da abordagem das Torres para o Campo de Futebol, conseguiram após penoso deslocamento colocar os traficantes da contenção da principal boca de fumo em situação de fogo direto, o que ocasionou, infelizmente  para a Comunidade, até hoje quero crer que por puro acaso, a destruição de dois enormes  transformadores de energia elétrica, provocando  um imenso apagão na Zona de Combate, permitindo assim que nos deslocássemos, morro acima,  em maior grau de segurança. ( CONTINUA)

 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

VIVA A PM, VIVA OS POLÍCIAS !!!!!!!!!!!

Revirar baú de recortes de jornais, é extremamente perigoso para o coração. Mas , apesar do risco de encontrar-se de vez em quando matérias que podem levar a fatais emoções, também podem levar a garimpo vitorioso de contexto geral, conforme a pérola abaixo, de autoria do jornalista e renomado escritor português Guilherme de Melo, que fui resgatar na página 18 do Diário de Noticias, de Lisboa, do dia 4 de Maio de 1986, Domingo.


"OS POLÍCIAS

 DELES se tem dito o pior. O mais chocante. O inimaginável. Com alguma razão, reconheça-se. Por culpa  de alguns  - que importa não confundir com os demais. Uma coisa é a parte, outra o todo. Uma a árvore, outra a floresta. Lugar-comum? Decerto. Mas que é  assim, é.

Neles, se aponta a prepotência, a arrogância, o usar da força sem, muitas vezes, cuidar, antes, de saberem se lhes assiste usá-la. E provavelmente, não.

No fundo, o problema é, essencialmente, um problema de educação. Ou de falta de educação. De incultura. De impreparação. E passa por uma coisa chamada civismo. Porque são os guardiões do cidadão como entidade cívica, deles se espera e a eles cabe o próprio exemplo de civismo. Que nem sempre têm. Ou por outra: de que nem sempre têm a ideia exata.

Deles se diz tudo o que se sabe  - esquecendo, entretanto, o medo que à noite alastra na cidade poluída, espreita às portas, entreabre as janelas. Que se deita na cama de cada velha solitária e acompanha as férias de cada família ausente da casa fechada por um mês. O medo que escreveu " proibido" em cada parque da cidade, que assoma às esquinas e se oculta pelos portais. Um medo que veste blusão e mastiga chiclete, usa o esticão ao passar rente a quem passa e rasga a distância, impune, sobre as motorizadas roubadas. Anda de ponta-e-mola e usa espingarda de canos serrados.

Eu sei. Eu sei que tudo isso é fruto da sociedade que de dia para dia fomos deixando apodrecer - e acabar com ele implica, antes de tudo e acima de tudo, curar essa sociedade que gangrenou. Só que , enquanto isso se não faz ( e conseguirá, ainda fazer-se ?) o medo é o rei e senhor da cidade - e eles, apenas eles, o outro medo que o trava. Ai de nós se, com todos os seus erros, com todos os seus defeitos, com todos os seus excessos a corrigir, apesar de tudo eles não existissem - os Polícias....."
Guilherme de Melo


Obs1- E este quadro acima não previa a Cidade tomada por bandos de vândalos, saqueadores, arruaceiros, baderneiros, destruidores da Ordem Pública, incendiários e ladrões de todo gênero........

Obs2- Minha Polícia ( PMERJ) é filha da Polícia Portuguesa ( GRP, hoje GNR), com muita honra.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Ainda não à venda do QG/PMERJ. Visão estratégica.


Segue abaixo, parte de texto confeccionado em Março de 2012, dado  a conhecer junto ao Clube dos Oficiais da PMERJ (AME) e publicado neste Blog em 1º de Junho do corrente, sob o título: "Não à venda do Quartel General da PMERJ, "NON PASSARAN".
Tal documento abordou o problema sob três aspectos, o histórico, o ESTRATÉGICO e o do amor/respeito institucional.
O que cabe registrar, de acordo com os princípios da conveniencia e oportunidade, no momento é o aspecto ESTRATÉGICO, isto é : e se realmente o QG/PMERJ for vendido, e seus ocupantes passarem para o prédio do BPChq, e a sede do BPChq for remanejada para o Quartel do antigo 24º BIB (Batalhão de Infantaria Blindada) do Exército Brasileiro, conforme o planejado pelo Escalão Superior??? Tal Quartel fica na Av Brasil. A quilômetros de engarrafamentos impiedosos do TO (Teatro de Operações) onde historicamente se realizam as grandes manifestações na Capital Fluminense ( Candelária, Rio Branco, Cinelândia, Pr Vargas). O BPChq vai chegar a tempo??. E se for baseado com antecedencia, onde será, tendo em vista que o único espaço físico/útil/estratégico, já terá sido vendido, o QG/PMERJ????? Creio que já passou da hora de um sensato PODER MODERADOR atuar e impedir tal  infeliz ideia de venda/demolição/destruição do QG/PMERJ. Antes que seja tarde demais:

.Parte do texto..............................................................................................................
"Não conseguimos igualmente, vislumbrar, como, além de responsabilizar-se pela Polícia Ostensiva, também preservar a Ordem Pública (Art. 144 da Constituição Federal), sem que tenhamos o mínimo de espaço físico para colocar nossos homens, periodicamente, como soe acontecer ao longo de 204 anos, em regime de sobreaviso, expediente prolongado, prontidão e ordem de marcha.
Não nos esqueçamos que distúrbios civis são cíclicos, o que está em ordem hoje, amanhã poderá não estar. Facilmente, independente de qualquer ideologia, nas grandes cidades principalmente, uma massa humana pode se transformar de aglomeração em multidão, daí em turba e turba multa, e nesses casos somente as Polícias Militares, por capitulação legal e constitucional bem como, competência profissional, adquirida ao longo de séculos do exercício da atividade , historicamente, tem conseguido evitar a afronta pela força desmedida e as graves perturbações da ordem pública, com o fito de enfraquecer, destruir e provocar a dissolução do Estado/Governo, evitando males inimagináveis.
Portanto aqueles que inadvertidamente tem criticado que Quartéis de Polícia são grandes, tem campos de futebol, ginásios de educação física, espaçosos alojamentos e Ranchos etc, estão a apostar no caos, nos massacres, nos grandes desastres, na morte coletiva de brasileiros por ocasião de distúrbios civis. Essas pessoas, seja por inocência, ignorância, desconhecimento, romantismo exacerbado ou caracterizada má fé são um mal para a população fluminense."
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Desta forma, não temos mais nenhuma dúvida, de que a realidade atual, com as manifestações, ora legais e  legítimas, ora entregues à sanha de baderneiros/arruaceiros,  afrontadores e destruidores da Ordem Pública, no centro da Cidade do Rio de Janeiro, está mostrando que estrategicamente, por exemplo, a localização do QG e do BPChq, não podem nunca sair daqueles sítios históricos. Materializar essa infame iniciativa, será realmente um crime de lesa-pátria, improbidade administrativa e ausência total de responsabilidade profissional/policial/militar, a demonstrar de maneira incisiva um ato de gestão temerária.





 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ainda a respeito da indecorosa e fatal ausência absoluta de pundonor militar na iniciativa de venda do Quartel General da PMERJ. Ou, a força da maldição de todos os santos e demonios existentes nos mais elevados céus ou recônditos subterrâneos infernais , mais cedo ou mais tarde desabará sobre a cabeça dos vendilhões do Templo Sagrado.

Após meu pronunciamento a respeito da falta de lógica, que justificasse a venda/demolição/ destruição do QG/PMERJ, prosseguimos na luta, sempre junto ao Clube dos Oficiais e sua Diretoria, tentando sensibilizar as forças vivas de nossa Sociedade contra tal atitude insensata do poder público. Assim foi junto ao Comando Geral da PM, Ministério Público, Defensoria Pública, Advogacia Geral da União, IPHAN, Petrobras, Sociedade dos Arquitetos e Engenheiros, Comando Militar do Leste, Associações de Moradores, Associações de Policiais Militares, Irmandade da PM,  Imprensa, Redes sociais, colocação de Outdoors, Câmara Municipal, ALERJ, etc...
 
Após incessante luta, em razão de determinação do MP Estadual, chegou-se a conclusão que o procedimento da venda teria que ser submetido a ALERJ. Luz no final do túnel. Imediatamente, e hoje digo, romanticamente/ingenuamente/infantilmente, passou pela nossas cabeças, que não seria possível que os ilustres representantes do Povo, que por tantos anos (séculos), independente de ideologias ou tendencias e preferências  politicas, além do conhecimento a respeito  da missão constitucional bicentenaria da Casa de Vidigal, tiveram suas vidas e de seus familiares, amigos e correligionarios em algum, ou vários momentos, ligados ao nobre e diuturno  trabalho de Anjo da Guarda da Policia Militar, permitissem a concretização do desvario, provocado pelo  intenso frenesi, tendo como pano de fundo o barulho das caixas registradoras da especulação imobiliária durante alguns meses,  de destruir-se tal obra carregada de imenso legado heróico e histórico para a sociedade fluminense, e por que não dizer, para a história nacional.
Cabe registrar inclusive a omissão de todos que por lá passaram, de nunca terem tomado a iniciativa de tombar tal Patrimônio Histórico. É que na cabeça de guerreiros honrados nunca houvera espaço para se admitir siquer mencionar o evento venda/demolição/destruição do Templo Sagrado. Durante quase 200 anos foi TABU. Aqueles que ousassem, interna ou externamente tocar no assunto corriam risco de serem transformados em nuvem. Em algo ou alguém de absoluta invisibilidade moral. Em algo ou alguém que inexoràvelmente caminharia em direção a um Túmulo sem Honra. Mas as coisas mudaram.
 
Nada foi capaz de deter a marcha do  "trem da morte" cornucópico do QG. Inclusive, ao procurarmos, eu e os Presidente e Vice Presidente do Clube dos Oficiais, Coronéis Fernando Belo e José Maria, a Presidência daquela Casa de Leis, com o intuito de solicitarmos apoio, fomos tratados como se tal fato já estivesse consumado, de forma quase belicosa e totalmente indiferente aos anseios da Instituição de D. João VI. Não só autorizaram, com raras excessões de alguns representantes a quem seremos eternamente gratos, em sessão rapidíssima a venda do QG, como também do 2º BPM, 6º BPM e outros próprios públicos, nivelando  inclusive Quartéis centenários com mínimas  e nada históricas construções ( apartamentos)  situadas em ruas secundarias de Niterói.
 
Diante desse quadro, nada mais a fazer que  tomar a decisão abaixo, registrada em carta pessoal, naquele mês de Setembro de 2012, na qual muito decepcionado e profundamente entristecido como Cidadão Fluminense,  com os mecanismos de gerencia  republicanos de hoje, resolvi devolver a Casa dos Representantes do Povo a maior Comenda recebida  em minha vida profissional até os dias de hoje:

Integra da carta:

"DD Deputado Estadual Paulo Melo


Venho através desta, comunicar a Vossa Excelência que estou utilizando do sistema dos Correios para devolver a essa Casa Legislativa minha Comenda (Medalha) Tiradentes, a mim concedida tão honrosamente em solenidade ocorrida em 1997, pelos motivos que elenco abaixo:

1. Não consigo entender como necessário, justo e saudável institucionalmente para a Bicentenária Policia Militar, a venda/implosão/demolição de seu Símbolo Maior de Poder e Autoridade, o seu Bastião da Lei e da Ordem, seu Quartel General;

2. Os argumentos apresentados até agora, inclusive por Vossa Excelência, pessoalmente, a este Servidor Público,bem como ao Coronel Fernando Belo e ao Coronel José Maria, por ocasião da votação do projeto autorizando a venda do QG e outras instalações Policiais Militares, não consigo aceitá-los como factíveis do ponto de vista do pensamento técnico - cientifico militar, citando-os a seguir: "Problemas ligados a ego", não são, já que não estamos defendendo nada pessoal, e sim institucional; "Já viajei por muitos Países e nenhuma Policia tem Quartel, só aqui", não Senhor, não confere, pois, a quase totalidade dos Oficiais Superiores ao realizarem suas viagens curriculares depara-se com imensas instalações prediais a dignificarem os que ali trabalham em defesa de seu povo, sediando seus Comandos e Estados-Maiores, a exemplo das Policias de Nova York, Washington, Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica, Japão, China, Chile, Peru, Bolívia, Rússia, etc. Os nomes das Sedes em alguns casos são diferentes, mas as funções são as mesmas que as nossas, quanto ao fato de "já ser assunto encerrado", somente Deus tem esse poder;

3. Não há como aceitar também, como argumento técnico, a justificativa tornada pública, toda vez que o assunto é tratado, de que "uma nova visão que busca, ao diminuir os aquartelamentos aumentar-se-á a quantidade de Policiais nas ruas".  Primeiro porque em regra, as instalações não são tão grandes assim, levando-se em conta a missão constitucional das Policias Militares, segundo, porque, a se confirmar isso, no exato momento, estaríamos vivendo uma situação em que a Tropa em sua maioria, estaria sendo escondida nos subterrâneos dos Aquartelamentos dada a sua "imensidão espacial", o que não ocorre; e finalmente todo o Oficialato sabe que este enfoque sempre foi e sempre será um problema de Gestão, qual seja, o Gestor Militar de má fé ou incompetente, independente do tamanho de seu Quartel, sempre usará de subterfúgios para, gordurosamente, aumentar sua atividade meio ( administração) na retaguarda, durante o planejamento do emprego de sua Tropa, em detrimento da atividade fim, o  Policiamento Ostensivo nas ruas. Reafirmo, é uma questão de Gestão, não de Arquitetura.

4. Desta forma, não vejo outra solução para este velho Soldado, que não seja devolver a essa Casa de Leis, a Comenda que tão orgulhosa e honrosamente trago em meu peito até agora, motivo de sublime satisfação, a sempre mostrar a meus amigos, parentes, vizinhos e principalmente meus netos e seus pequenos companheiros, como o símbolo do reconhecimento maior recebido como Servidor Público Especial, dos representantes de toda Sociedade Fluminense, por haver dedicado minha vida à causa da Segurança Pública em nosso Estado. É que, Senhor Presidente, a partir do momento em que baldados todos os nossos esforços, a certeza  me faz convicto, que chegará o dia em que o arrependimento de tal decisão, inquestionavelmente virá, mas aí, tarde demais, nossa Bicentenária Casa das Ordens, já não mais existirá, por ter sido produto de venda, como se símbolo de honra não fosse, e sim apenas objeto comercial, material, sem alma, me faz tanto mal, que a Comenda (Medalha) Tiradentes, a partir daí, passará, em vez de emblema de orgulho e honra, a ser um pesado fardo. Pesado demais em meu peito, a carregar como marca de vergonha e desonra, que não conseguirei conviver, sem devolvê-la, por haver testemunhado e nada ter podido fazer para evitar golpe tão mortal contra a honra e as tradições de nossa Policia Militar, bem como contra o respeito a seus antepassados, às gerações atuais que não conseguem entender o que está se passando e às gerações futuras, a quem, estará se negando o direito de privar da verdadeira história que brota há 204 anos daquelas paredes, vigas e colunas feitas de carnes mortas e feridas por ferro e fogo, amalgamadas com o sangue derramado por milhares de heróis sociais.

Despeço-me desejando sucesso e vitórias, tanto para Vossa Excelência como para a Casa que preside.
Rio de Janeiro, Setembro de 2012

CEL PM WILTON SOARES RIBEIRO, Ex- Comandante Geral da PMERJ







 

sábado, 15 de junho de 2013

Continuando a respeito da homenagem à PM Treme Terra.

2. A CIDADE DE NITERÓI DEVE, PRINCIPALMENTE À SUA POLICIA MILITAR, O TÍTULO OFICIAL DE " CIDADE INVICTA".

2.a. Graças à PM Treme Terra, do antigo Estado do Rio de Janeiro, a qual foi a PRIMEIRA força de combate, a travar renhido confronto, em terra, no Morro da Armação na Ponta da Areia e na Praia Grande, hoje Praça Araribóia, a comando de seu destemido Comandante Geral o Maj EB Fonseca Ramos, nos dias 6, 7, 8 e 9 de Setembro do ano de 1893, contra os sublevados de parte da Marinha de Guerra ( Almirante Custodio José de Melo), por ocasião da Revolta da Armada, não permitindo o desembarque completo dos anti- republicanos, até que reforços do Exercito e da Policia Militar do Município Neutro da Corte ( Guanabara) aqui chegassem. O objetivo dos revoltosos era implantar neste estratégico rincão pátrio de terras niteroienses, uma Cabeça de Praia a principio, e após, uma Base Militar sólida que proporcionasse aos revoltosos condições de se estabelecerem e se organizarem para atentarem contra a recém implantada República cuja Capital era o vizinho Município Neutro, hoje Município do Rio de Janeiro. Em razão desse ato heróico, a Cidade de Niterói foi condecorada com o honroso Título de " CIDADE INVICTA", o qual, orgulhosamente, ostenta até os dias de hoje.


Importante registrar 3 suportes científicos que ajudam a alicerçar os fatos narrados acima, e que dizem respeito ao então Comandante Geral da PMRJ, Maj Fonseca Ramos:

2.b. O primeiro, pelo reconhecimento da Cidade de Niterói ao seu defensor, ao construir com verba pública, o Mausoléu onde seus restos mortais estão sepultados, no Cemitério do Maruí, no Bairro do Barreto:

" ....o Monumento foi encomendado ao Arquiteto Desidério Strauss e inaugurado solenemente pelo Prefeito Feliciano Sodré e pelo PRESIDENTE DA REPUBLICA, Hermes da Fonseca, em 1911.

Solene e significativo pelo seu simbolismo, consiste numa base em forma de fonte, onde se apoia o busto em bronze de Fonseca Ramos, entre duas piras. Uma coluna partida de granito simboliza a interrupção da existência. Junto dela estiliza-se um castelo, tendo gravadas nas quatro faces as palavras que resumiam as qualidades do homenageado: CALMA, BRIO, CORAGEM, ENERGIA. Uma pirâmide , cuja ponta delgada busca o céu, representa a audácia. Na parte fronteira da base colocou-se um medalhão de bronze com os dizeres: A CIDADE DE NITERÓI A SEU GLORIOSO DEFENSOR, GENERAL FONSECA RAMOS. 29.7. 1911......."




2.c. O segundo, através do reconhecimento da República ao conceder-lhe local de honra no monumento construído na Praça da Cinelândia, em homenagem ao General Floriano Peixoto, consolidador da República, sitio histórico de visitação pública até os dias de hoje:

"....o Monumento foi levantado na praça ajardinada e fronteira à Biblioteca Nacional, representando uma apoteose à Nacionalidade .......................................................................................
.........nas quatro faces do toro agulhento, de granito nacional, estão embutidos baixos-relevos de mármore branco, representando os elementos que concorreram para a ação decisiva de Floriano Peixoto na defesa da República : o Exercito, na resistência enérgica do General Gomes Carneiro; a Marinha, na fidelidade do Almirante Gerônimo Gonçalves, Comandante da Esquadra Legal; A POLICIA, PELO GENERAL FONSECA RAMOS, NA REAÇÃO VITORIOSA DE NITERÓI; Júlio de Castilhos e o elemento civil, por um grupo de jovens patriotas ..........."



2.d. E finalmente, vamos encontrar no Congresso Nacional, como representação de todo Povo Brasileiro seu maior reconhecimento em vida, o qual está perpetuado no SUMÁRIO DO DECRETO Nº 213, DE 5 DE DEZEMBRO DE 1894, DO CONGRESSO NACIONAL, QUE PROMOVE EM CIRCUNSTÂNCIAS EXTRAORDINARIAS ( DEFESA DA CIDADE DE NITERÓI), A GENERAL DE BRIGADA, O ENTÃO COMANDANTE GERAL DA PMRJ, MAJ FONSECA RAMOS:

DECRETO Nº 213 DE 5 DE DEZEMBRO DE 1894

Considerando que relevantíssimos foram os serviços prestados em Nicteroy, na defesa das instituições republicanas brasileiras, contra os revoltosos de parte da Armada Nacional , pelo Maj Reformado e General de Brigada Honorário do Exercito, Luiz José da Fonseca Ramos, acentuadamente nos dias 6,7,8, e 9 de Setembro de 1893 e 9 de Fevereiro de 1894, opondo tenaz e heróica resistência à ocupação da Cidade por aqueles , tendo às suas ordens nos PRIMEIROS DIAS, APENAS 78 PRAÇAS DE POLICIA ESTADUAL, armados a COMBLAIN, mal municiados, estando entretanto, os revoltosos armados a KROPACHETK, apoiados fortemente pela ARTILHARIA DOS NAVIOS DE GUERRA;

Considerando.............................................

Considerando que Nicteroy,- objetivo almejado da revolta e CUJA POSSE SERIA PARA ESTA ( REVOLTA) A POSSE DO PAIZ,- chave da defesa da Republica , centro das simpatias por aquela, se não tem nos PRIMEIROS MOMENTOS como seu defensor O GLORIOSO GENERAL FONSECA RAMOS ( Obs- então Comandante Geral da Policia Militar Treme Terra), difícil é imaginar O QUE SERIA HOJE DO BRASIL, DE SUA UNIDADE;

Considerando................................................................



Art 1º- É considerada no Posto de General de Brigada a reforma do Maj e General Honorário do Exercito, Luiz José da Fonseca Ramos, com todas as vantagens desse Posto, como se efetivo fosse.

Art 2º Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das Sessões , 5 de Dezembro de 1894, Gabriel Salgado dos Santos, Thomaz Cavaicarui, Ovídio Abrantes, Antônio de Siqueira.


III. FOTOGRAFIAS DE SALVADOS HISTÓRICOS

HOMENAGEM A POLICIA MILITAR DO ANTIGO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, A POLICIA TREME TERRA.

VIVA a PM !!!!!!!!!
 
Trabalho apresentado ao Centro de Memória Treme Terra, órgão criado pela Sociedade Treme Terra com objetivo de preservar acervo ligado a história dos Vigilantes Obreiros.
 

 
A quem Niterói deve o Título Oficial de " CIDADE INVICTA" ?????

I. A GLORIOSA POLICIA MILITAR DO ANTIGO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

1. Em 14 de Abril do corrente, a Policia Militar do antigo Estado  Rio de Janeiro, completaria , se na ativa estivesse, 178 anos. Foi criada pelo Governador ( Presidente de Província)   Joaquim José Rodrigues Torres, através da Lei nº 16 de 14 Abril de 1835, com o nome de Guarda Policial da Província do Rio de Janeiro, e sediada na Capital da Província, hoje Niterói.

2. Seu primeiro Comandante Geral foi o Brigadeiro João Nepomuceno Castrioto, então Capitão EB Ajudante de Ordens do General Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, à  época, Ten Cel EB e Comandante Geral da Policia Militar ( Corpo de Guardas Municipais Permanentes ), da Sede do Governo Imperial ( Município Neutro da Corte/ Distrito Federal/ Guanabara, e hoje Município do Rio de Janeiro).
 
 

II. O TREME TERRA E A HISTORIA

1. A PM Treme Terra desempenhou varias missões de importância capital para a Ordem Publica fluminense , a Soberania Nacional e a Consolidação da República. Vejamos alguns momentos de sua trajetória histórica:

1.a. Constituiu em 1865, o 12º  Corpo de Voluntários da Pátria, que escreveu páginas heróicas na Guerra do Paraguai, tendo combatido com coragem e vigor ímpar ( "SEU PISAR FORTE NO TERRENO, SEUS RÁPIDOS E CADENCIADOS DESLOCAMENTOS, BEM COMO AS FEROZES ATITUDES MARCIAIS POR OCASIÃO DOS RECONTROS COM O INIMIGO, FAZIAM A TERRA TREMER, DAÍ O TÍTULO OBTIDO DE 'TREME TERRA' AO LONGO DOS 5 ANOS QUE A GUERRA DUROU"). Foi coroado de glorias nos combates em que participou, tendo sido a primeira Tropa brasileira  a ser condecorada por D. Pedro II, através Decreto Imperial de Janeiro de 1866. Teve atuação destacada nas batalhas de RIACHUELO, TUIUTÍ, CURUZÚ, CURUPAITÍ, HUMAITÁ, AVAÍ, LOMAS VALENTINAS, PIQUICIRÍ, ANGUSTURA E AQUIDABÃ. Ora como 12 º CVP, ora renumerado como 44 º CVP.
 
 
1.b. Parte de Combate do Comandante do 12º Corpo de Voluntários da Pátria ( O Treme Terra), Ten Cel PM João José de Brito, após a vitoriosa Batalha de Curupaití, a qual deu origem a várias condecorações, e onde o 12º teve entre mortos, feridos e extraviados, 83 baixas: 

                                                          PARTE DE COMBATE

" Quartel do 12 Corpo de Voluntários , no Acampamento de Curuzú, 23 de Setembro de 1866.

Ilmo. Sr.- Como V. Ex. presenciou, o Corpo sob meu comando foi ontem o primeiro a avançar sobre as trincheiras inimigas. Transposto o primeiro fosso, prosseguiu com crescente entusiasmo até junto da artilharia paraguaia, onde foi fulminado à queima roupa por continuadas descargas de metralha e fuzilaria. O Alferes José Lopes Ferreira, que conduzia a Bandeira, no momento em que ia cravá-la na trincheira inimiga, teve a mão espedaçada por uma bala. Achando-me a pequena distancia desse lugar, entreguei-a ao Alferes Luis José Garcia , o qual bem como o Sargento Brigada Cândido Mathias de Faria Pardal, que depois a tomou, caíram feridos. Os Oficiais e Praças deste Corpo correram à porfia para junto do Estandarte Nacional, a fim de defendê-lo; o inimigo fez por algum tempo convergir seus fogos sobre aquele ponto, fazendo-nos experimentar grandes perdas.

Os Oficiais e Praças, todos cumpriram dignamente o seu dever. A Bandeira deste Corpo  crivada de balas, ensanguentada e com a haste partida, atesta o denodo e valor do Corpo, que me orgulho em comandar.

.....Este Corpo conta com 83 Praças de Pré fora de combate, entre mortos e extraviados.

Corre-me o dever de fazer especial menção ao Capitão Mandante deste Corpo Domingos Carlos de Sá Miranda, pelo valor e sangue frio com que se conduziu no combate.

Os Capitães Antônio José da Cunha, Joaquim Maria da Conceição, Alferes -Ajudante Antônio Luiz Rodrigues de Araújo, dito Quartel-Mestre José Joaquim Rodrigues de Araújo, Gratulino de Araújo Costa e Henrique Antônio Pinto, são todos dignos de elogios pela coragem e intrepidez que mostraram. As Praças extraviadas, acredito que estejam todas mortas, atenta a celeridade que desenvolveu o inimigo em explorar o campo e as matas próximas do lugar onde se deu o combate.

Deus guarde a V. Sa. Ilmo. Sr. Tenente Coronel Comandante da 2 ª Brigada da Ala esquerda de Infantaria, do 2º Corpo de Exercito em operações contra o Paraguai.

João José de Britto, Tenente Coronel Comandante."
 
Continua em próxima postagem.........
 
 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A História do "CAVEIRÃO" ( Terceira parte)

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES


Pela manhã ( madrugada), em razão de convocação ao QG, para reunião inopinada, designei o Maj Beltrão, meu Sub Cmt, para comandar a Operação em Vigário Geral, e assisti a saída do Comboio da sacada do 3º andar do BPChq, então, Sede do BOPE. Ali ia o verdadeiro Maj Beltrão/ Patton ou Maj Beltrão/ Rommel, com parte do tronco e a cabeça fora da escotilha de "nosso" aliado PALADINO, como se fosse uma esfinge de moeda. Difìcilmente eu havia visto militar  com expressão tão feliz e orgulhosa. Aprumado e circunspecto, olhar firme no horizonte, lá ia o Maj Beltrão/Patton/Rommel em direção a um difícil objetivo. Nada  em seu semblante demonstrava preocupação no partir para mais uma missão que pudesse lembrar, que ele e sua Tropa estavam indo em direção ao perigo sempre real e iminente. Que estavam indo em direção a nervosas bocas de fuzis de guerra, granadas dilaceradoras e munições também de guerra. Que suas vidas a partir daquele momento corriam risco de morte. Fiz um tênue e rápido diagnóstico de Cmt: Creio que o "colete a prova de balas coletivo" já está funcionando, pelo menos psicologicamente. Ao ver a saída daquela Tropa, naquele momento, me senti tomado de grande emoção.

Não fez feio o PALADINO. Atingiu o objetivo resfolegando, tossindo, tremendo, suarento, reclamando, fumacento, mas chegou. Não penetrou nas favelas porque não houvera necessidade tática ( mas mesmo assim, recebi telefonema do QG, após retornar da reunião, para saber que história era aquela  do PALADINO metido em favela. Foi ai que lembrei que havia esquecido de avisar ao Escalão Superior a respeito do emprego da "nova arma"...). Ao final da Operação, que culminou com algumas prisões e apreensões de armas e drogas, deixando a Policia Militar o recado que não permitiria mais ações e nem guerras de facções, a Viatura Especial retornou a Base sem alteração.

O Maj Beltrão estava vibrando com a aquisição de nossa nova ferramenta de trabalho. Na minha cabeça, três palavras latejavam continuamente, Mineira, Mineira, São Carlos, São Carlos, Zinco, Zinco.
 Algum tempo depois , a desejada Operação na Mineira foi planejada novamente, já como Operação Integrada, entre BOPE e Delegacias Especializadas da Policia Civil, mais precisamente DRE ( Delegacia de Repressão a Entorpecentes). Nos meandros do planejamento, como sempre, coube-nos os setores mais complicados  e de difícil acesso ( ou seja, aqueles que os criminosos já posicionam seu fuzis de enfiada com bastante antecedencia).

 Começou a Operação. A madrugada era de lua cheia. Os lobisomens uivavam, ao mesmo tempo em que caprichavam no posicionamento de suas armas em seus setores de contenção. O que não sabiam no entanto, era que a Onça estava com sede e a Caveira com fome, ambas usando dentes de prata, muita sede e muita fome....

O Batalhão progredia em 6 Patrulhas. Duas buscando flanquear pela direita, duas pela esquerda. Estas tinham a missão de atingirem as Torres, subjugar as sentinelas inimigas   e baterem o terreno de cima para baixo nos dando cobertura. As duas finais, em deslocamento de baixo para cima, muito mais expostas portanto, buscavam o engajamento frontal. Eu comandava diretamente essas duas Patrulhas. Queria ver o "branco dos olhos" do inimigo Zé Aipim, assassino do Sgt do BOPE. Mesmo "politicamente incorreta" , aquela era sim, uma "expedição punitiva", fundamentalmente necessária em uma "Escola de Comando" séria, honrada, nobre e justa para com seus componentes.

Toda a progressão era controlada pela visão, sinais/sons ou relógio, tendo em vista que à época não existia telefone celular e os Aparelhos Rádio eram uma lástima de ineficiência. Minhas duas Patrulhas tinham como meta realizar a Ação no Objetivo, caindo de surpresa se possível, sobre a principal "boca de fumo" da Mineira denominada de " a Praça é Nossa". Dominado esse ponto crítico,  a possibilidade de ficarmos sob fogo cruzado diminuiria sobremaneira.

À testa do Comboio ia impoluto o PALADINO, com uma guarnição de 12 homens. Imediatamente atrás, em um velho Chevrolet Opala, íamos além do Motorista, eu e o Cap Moura, meu Oficial de Planejamento e Caveira 05, que eu havia ajudado a formar em 1978. A seguir o restante das Equipes.

Nessa altura, os Radios HT já não falavam, não pela estratégia do "silencio de radio ou das comunicações", mas pela inoperância técnica no terreno. Como disse, Celular e Nextel ainda estavam no campo dos sonhos. O silencio era absoluto, a não ser pelo motor das Viaturas e o resfolegar vacilante,  cada vez mais preocupante do PALADINO a nossa frente. Cabe registrar no entanto que a época, "cães já ladravam, crianças já choravam e vagabundos já vazavam" ( foi o que aconteceu logo a seguir). Ao completar o Comboio a curva conhecida como " do poste deitado", que nos colocaria em condições de desembarque e progressão a pé, momento mágico do preparo profissional do BOPE (Cabe aqui registrar que é  muito bonito e emocionante ver o BOPE progredir no terreno. São como artistas letais realizando uma coreografia quase animal. Ora seus homens confundem-se com pedras, rochas, arvores, ora com lagartos, ratos negros e morcegos, ora com águias e harpias. Sempre cuidando um do outro, o BOPE nunca abandona seus feridos pelo caminho). O momento crucial aguardado por todos nós havia chegado: Hora de enquadrarmos pelo fogo e surpresa, o pessoal do tráfico de drogas responsável pela  contenção/segurança da "boca" principal da Praça é Nossa. Estávamos contando inclusive, assim esperávamos e necessitávamos, com o Apoio de Fogo das Patrulhas da Torre, para isso designadas. Foi quando o mundo explodiu em ferro e fogo.......( CONTINUA).

domingo, 9 de junho de 2013

HOMENAGEM AO MAJ PM PEREIRA

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES

Na próxima Terça feira ( 11/6), um grupo de Oficiais Treme Terra visitará em Nova Friburgo um companheiro de farda que está muito mal de saúde. Já o fizemos há uns três meses atrás, é o  Maj Pereira.

 
Com muito orgulho reproduzo abaixo texto histórico, confeccionado pelo Cel PM Ronaldo, encaminhado ao Cel PM Piancó, no qual relata atitude heróica e inteligente do então Aspirante PM Pereira, que, com a sua capacidade de decisão, forjada em nossa saudosa Escola  de Formação de Oficiais ( hoje transformada em um patio de containers) salvou a vida de seus subordinados, no que poderia ser um combate desproporcional ( uma vez que  os revoltosos desciam com todas as Unidades do Exercito sediadas em Minas Gerais e mais a Policia Militar daquele  Estado, que já havia aderido ao movimento) e sanguinário entre irmãos  brasileiros. OBS- Cabe registrar que à época a nossa PMRJ, não possuía efetivo, telefone celular, radio móvel , armamento e munições compatíveis para a situação, binóculos militares, nem mesmo viaturas que permitissem acionar mensageiros. Enfim, não estava apetrechada de forma alguma para o cumprimento da missão recebida pelo nosso Aspirante. Segue a narrativa:



                                   " Saudações e abraços a todos.

Infelizmente não participarei pessoalmente do grupo que irá visitar o nosso amigo José Pereira, nesse momento tão difícil de sua vida. Não estarei em pessoa mas espiritualmente estarei unido a vocês nessa linda manifestação de solidariedade fraternal e Cristã ao amigo. Diariamente invoco ao Pai Criador pelo amigo Pereira em meu Terço Matinal, às 07 horas, pedindo o seu restabelecimento, creio que o nosso Deus fará por ele o que for de melhor.
Quero aproveitar essa oportunidade para me declarar um grande admirador do nosso "irmão Pereira", por muitas de suas qualidades de amigo, mas sobretudo por um "episódio", que até se contava com certa jocosidade em que ele fora protagonista, coisa de nós brasileiros, que às vezes vaiamos até o Hino Nacional. Quero me referi ao episódio acontecido no dia "31 de Março de 1964", noite gloriosa do nosso País, que estava quase absorvendo oficialmente o perigoso regime comunista russo, quando as Forças Armadas declararam o movimento revolucionário de "31 de Março de 1964". Toda a imprensa brasileira divulgava o fato, o país parara, entramos em regime de prontidão. A nossa gloriosa e saudosa e antiga PMRJ, então comandada por um "simpatizante" comunista, oficial do Exército, ficou um pouco "atônita", teríamos que obedecer ordens do nosso comandante geral. Em Barra do Piraí, onde se instalava o Terceiro Batalhão, servia o garboso Aspirante-a- Oficial José Pereira, coitado, recebeu ordem para comandar um Pelotão de Policia e ficar na divisa do município de Barra do Piraí, num local denominado Belvedere, a fim de deter o prosseguimento dos revoltosos que vinham para o Rio de Janeiro. Missão dada, missão "mais ou menos" cumprida pelo inteligente e sagaz Aspirante Pereira. Os seus comandados, como eles depois contavam, todos "se borravam" menos o Aspirante, que com sua conhecida tranquilidade e inteligência aguardava os "inimigos". Muito tempo depois, quando os revolucionários se aproximaram, o grande aspirante-a-oficial Pereira comandou: Pelotão Sentido, cobrir, firme, Ombro Arma!... A passo firme, sem tremer, dirigiu-se ao comando revolucionário, um General, e apresentando-se: Aspirante-a-oficial-José Pereira- do Terceiro Batalhão da PMRJ- se apresentando solidário aos vossos ideais, pronto para cumprir todas as ordens. e assim chegou em Barra do Piraí, sem nenhuma contestação de seus superiores, foi verdadeiramente um ato, não somente de inteligência mas também premunitório.. Vivi 27 anos na PMERJ, nunca vi e soube de uma atitude tão inteligente, corajosa e lúcida como esta do nosso amigo Pereira, digna de se registrar nos anais históricos de nossa PMRJ, que por um desequilíbrio de sua parte poderia causar uma tragédia, faz-nos lembrar o General romano ANÍBAL, que ao atravessar os Alpes, vendo que seus soldados, cansados, esmoreciam, subiu a um monte e bradou: Não esmoreçam meus soldados, coragem, além dessas montanhas nos esperam planícies imensas... e venceram a difícil batalha...
O que narro ouvi muitas vezes de muitas praças daquele batalhão, que declaravam, emocionados, orgulhosos, como eu estou agora ao narrar por escrito esse lindo episódio de nossa história policial, que fora um momento muito difícil para eles, que, por qualquer erro por parte do "Aspirante Pereira", eles poderiam pagar com a própria vida. E assim o nosso Amigo Pereira foi o primeiro cidadão fluminense a se solidarizar com os ideais revolucionários de 31 de Março de 1964, por isso devemos nos orgulhar de termos como amigo este verdadeiro guerreiro " Asp-a-Oficial- José Pereira", um exemplo para todos nós.
Terminando, vou transcrever aqui um trecho da "Oração pelos doentes", que diariamente eu rezo no terço matinal: Vós, ò meu Deus, fazei penetrar em seu coração estas palavras: O importante é a saúde da alma! Ò Senhor que se cumpra nele a Vossa vontade completamente e, se desejais que se cure, seja-lhe concedida a saúde completamente... Amém.
E assim, amigo Piancó, que vocês possam levar ao amigo Pereira muita alegria neste ato fraterno .
MEU ABRAÇO AMIGO A TODOS VOCÊS.
RONALDO "


Viva o Aspirante PM Pereira, viva a PM!!!!!!!!!!! Obrigado caros amigos Ronaldo e Piancó.

terça-feira, 4 de junho de 2013

A " MANICACA"

 
ESCANINHO DE RECORDAÇÕES                                                  


                                                     


 A " MANICACA"




Era o inicio do ano de 1979 na Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Uma reunião seleta ocorria no Gabinete improvisado nas ruínas existentes nos confins setentrionais da  pedreira do CFAP, Centro de Formação Aperfeiçoamento de Praças ( posteriormente passou a ser a base da Recarga da PM). Lá funcionava garbosamente e com elevado espirito de corpo, a primeira Sede do Nu/COE ( Núcleo da Cia de Operações Especiais- hoje BOPE)), o qual havia sido criado no inicio do ano anterior. Seu fundador e primeiro Comandante , o Cap PM Amêndola presidia a reunião. Os demais participantes eram: eu ( Ten Wilton), o Ten Paulo José, o Sgt Matos, o Sgt Adaildo, o Sgt Dias, o Sgt Hirnerio, o Sgt Tenório , mais os Oficiais e Sargentos recém formados no COESP Cat B I/ 78 ( 1º Curso de Operações Especiais), em número de doze. Cabe registrar que a iniciativa do Cap Amêndola em programar o 1º COESP, deveu-se a necessidade extrema de implantar na Corporação a mentalidade do "CURSADO", isto é, o melhor entre os melhores, de tal forma que após o termino do Curso, o Nu/COE passasse a contar nos seus quadros com combatentes plenamente habilitados na área de Operações Especiais de Policia, e a partir dai, a Unidade cada vez mais se impusesse técnica e logisticamente no combate direto a criminalidade violenta em nosso Estado.
Os futuros Caveiras, receberam diretamente do Cmt Amêndola, a missão de se reunirem em caverna contígua e em conjunto, confabularem e apresentarem, em tempo recorde, uma proposta de   modelo para um brevê/manicaca oficial, que atendesse ao conceito e a magnitude de um Curso de Operações Especiais da PMERJ. ( até mesmo porque os Cursados todo dia cobravam do Cap Amêndola a formatação de um brevê para o Curso). A partir daí, o clima de tiro, bomba e quejandos, somado a terrível pressão psicológica e a enorme responsabilidade de apresentar um trabalho definitivo, a altura do ainda TURNO DE ALUNOS,  se apoderou do Grupo. Passado não muito tempo ( parecia que todos sabiam realmente o que queriam desde o inicio, estando a faltar apenas a inspiração do Chefe em dar a ordem), eis que surge o saudoso ex-Aluno Ten Rangel, 01 do 1º COESP, representando a Patrulha, trazendo o resultado do trabalho coletivo: Em um esboço, feito em papel oficio, à caneta, destacava-se a CAVEIRA LAUREADA, já então com seu enigmático sorriso, como se estivesse a zombar da Faca de Trincheira cravada no alto de sua cabeça, e as duas Pistolas cruzadas em seu invisível pescoço  a gritarem ao mundo, SOU PM, SOU PM.
Recordo-me como se fosse hoje, da reação do querido Cmt Amendola. De pé, no meio da improvisada sala, entre sorrisos nervosos de canto de boca e perdigotos a voarem em direção ao desenho, bradava,:"VOOVOVOCES QUEREM ME,ME,ME DERRUBAR, VOVOVOCES QUEQUEREM ME DERRUBAR, PÔ,..PÔ,....PÔ.....??????????"
Pois bem, após submeter a proposta a nossa apreciação, como Instrutores e Monitores do recém concluído Curso, que éramos, ele aprovou a manicaca da CAVEIRA. Essa decisão, histórica, todos percebemos, foi emoldurada com uma expressão em sua face guerreira, de um mixto de orgulho e satisfação de dever cumprido.  Os formandos logo que os primeiros modelos ficaram prontos, passaram a envergá-la orgulhosamente nos inflados peitos. A principio, as primeiras Caveiras eram apenas prateadas, sendo usadas indistintamente por Oficiais e Praças cursados.
O Comandante Amêndola não foi derrubado, e a CAVEIRA como SÍMBOLO DE SUPERAÇÃO e VITÓRIA SOBRE A MORTE, está aí até hoje, tendo mais tarde virado símbolo maior do agora BOPE, sucesso absoluto no combate aos crimes e criminosos violentos, através de seus " heróis anônimos".

Mais a frente, já em 1981, após algumas tentativas frustadas de oficialização do tão ambicionado Brevê, o Cap Amendola enviou detalhada documentação  ao Sr Cmt Geral da PMERJ, o Cel Cerqueira, do Exercito Brasileiro, solicitando a tão  esperada formalização do Brevê, obtendo o aprovo do Escalão Superior.
Só que, no momento em que o desenho da CAVEIRA apareceu em documento oficial da PM, publicado no Diário Oficial, parcela do mundo jornalistico desabou sobre o Comando Geral. Eis que , principalmente o Jornal do Brasil, a revista Veja e o periódico O Pasquim dedicaram vasta matéria a respeito. O Pasquim inclusive, produziu extensa reportagem jocosa , posicionando o Brevê da Caveira sobre vários momentos e locais da vida nacional, inclusive, sobre a manta do cavalo do então Sr Presidente da Republica, General João Batista Figueiredo. Aí foi a vez do Cmt Cerqueira se pronunciar em audiência reservada com o Cmt do Nu/COE:  Ô Amendola, não é possível, vocês querem me derrubar, não é possível, vocês querem derrubar o Comando !!!!!!

O Cmt Cerqueira não foi derrubado, o Brevê da Caveira prosseguiu impoluto nos diplomas e no peito dos  Cursados, cada vez em maior número, pois os COESP, inspirados no Projeto Piloto do 1º COESP, de 1978,  visando o aprimoramento técnico-profissional de Capitães, Tenentes, Sargentos Cabos e Soldados, não mais pararam de ser  programados e executados na Corporação.

A partir de 1991, já como BOPE, o Emblema  da Caveira, criado pelo Ten Cel PM Paulo Cezar ( Bichão), pintado em grande circulo vermelho na parede de seu gabinete, na sede do Batalhão, no 3º andar do prédio do BPChq, teve o inicio de sua oficialização, através de estudo/esboço, contendo um trabalho completo, com sugestões para Brasão, Flâmula, Estandarte e Insígnia de Comando, confeccionados pelo Cap Penteado, P/4 ( Oficial de Logística) e sua competente equipe. Após minha aprovação como Cmt do BOPE, foi tal proposta, encaminhada ao "Escalão Girafa". Novo golpe de sorte, pois o responsável pela arte final viria a ser o Caveira 02, Ten Cel Teixeira, então Chefe da APOM do EMG, que abraçou a causa com grande entusiasmo. Finalmente, o resultado derradeiro da obra foi chancelado  pelo Cel PM Nazaré Cerqueira, Cmt Geral da PMERJ e publicado em Diário Oficial, tudo no ano  de 1993, ano este inclusive em que a conhecida Boina preta com a " bolacha"/emblema, metálica, ( antes era em tecido, usada no bico de pato) da Caveira, formalizada por Portaria em Bol Interno, baixada por este Oficial, passou a fazer parte do uniforme do BOPE,  não mais deixando de emoldurar a cabeça dos CAVEIRAS. Até que enfim a complementação da ostensividade  do reconhecimento, sucesso e gloria institucional, através da oficialização de seus símbolos maiores. Vida longa para a manicaca do COESP, vida longa para a CAVEIRA, vida longa para o BOPE, vida longa para os símbolos do BOPE, vida longa para a PM!!!!!!!!






sábado, 1 de junho de 2013

NÃO À VENDA DO QUARTEL GENERAL DA PMERJ - "NON PASSARAN"

QUEREM VENDER/DEMOLIR O BASTIÃO MAIOR DA LEI E DA ORDEM EM NOSSO ESTADO, A CASA DOS BI-SECULARES VULTOS HISTÓRICOS DE NOSSA PM, O CAMPO SANTO CONTRITO ONDE GOTEJA O SANGUE E OS PEDAÇOS DAS CARNES FERIDAS E MORTAS DE NOSSO HERÓIS SOCIAIS, NOSSO QUARTEL GENERAL, O QG DA PMERJ.

 
Em Março do ano passado (2012) surgiu a noticia que as autoridades governamentais de meu Estado pretendiam vender/demolir o quase bicentenario Quartel General da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Tomado de infeliz surpresa, e grave indignação, creio justa, primeiro como Chefe do Estado Maior Geral e Cmt Geral da Corporação, que fui, segundo como PM, com quase 40 anos de serviço ativo, que também fui e terceiro como cidadão e patriota que sou, julguei-me na obrigação de encaminhar ao Sr Presidente do Clube dos Oficiais da PM (AME), a comunicação abaixo, hoje com pequenas correções e inserções, que ora acredito ainda útil para conhecimento, daqueles que ainda lutam por um futuro melhor para nosso filhos e netos:

 
AO DD PRESIDENTE DO CLUBE DOS OFICIAIS
Sr CEL PM FERNANDO BELO


Não posso e não devo calar-me nesse grave momento de extermínio do Patrimônio Policial Militar, por isso encaminho-vos minha colocação a respeito do problema.

Qual é a lógica da venda do Quartel General da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro?

1. Não é a lógica da modernidade, pois se fosse, seria demolido o Quartel General atual e construído no mesmo local, no mesmo sitio histórico, nosso, um prédio moderno, funcional e inteligente;

2. Não é a lógica do “desaquartelamento”, pois a Polícia sem base é a Polícia propícia a aderir ao movimento dos sem-quartel, e a Polícia sem quartel daria margem a política de governo da “des-secretarização”, da “des-delegacização”, da “des-bombeirização”,da “de-seseguização”, da “des-procurizaçâo”, da “des-camarização”, da des-alergização, da des-tribunização, enfim da “des-sedização”, isto é, nenhum Serviço Público mais, necessitaria de Sede, desta forma, estas poderiam ser vendidas açodadamente e gulosamente, implantando-se de vez, a escola peripatética de administração. Mas como tal fato só está a envolver a Polícia Militar, cabe a pergunta, por que só o PM tem que perder a sua casa?

3. Não é a lógica do mimetismo ao se tentar copiar as civilizações ditas mais modernas, pois nós, em nossas viagens de estudo de polícia comparada, pudemos visitar, inspecionar, fotografar e filmar, o Quartel General da famosa Polícia Francesa (é um quarteirão), da Scotland Yard, (é um quarteirão), da Polícia fardada alemã, (são dois quarteirões), dos Carabineiros do Chile e da Itália, (grandes Quartéis), da Polícia de Nova York, todos os QG, majestosas construções, a renderem homenagens àqueles que ali trabalham, enfim, todas as Policias do dito primeiro mundo e também àquelas que tivemos oportunidade de visitar no cone sul, possuem dignas instalações para seus Quartéis Generais;

4. Não é a lógica das forças assemelhadas de terra, a exemplo de nosso glorioso co-irmão, o Exército Brasileiro, que ao longo de sua existência teve e terá sempre alguns de seu quartéis fechados, remanejados, adaptados, vendidos ou doados. É que, nesse caso, o seu inimigo é diferente, dada a sua missão constitucional, desta forma, hoje, se o pretenso inimigo dele, e consequentemente da Pátria, está na Amazônia, sendo lá que nos dias de hoje, o Brasil corre risco em sua integridade territorial , arrastando junto a preocupação com a soberania nacional, é para lá portanto que os Quarteis do Exercito tem que ser deslocados. Não é o nosso caso, porquanto nosso inimigo (adversário), o criminoso, o traficante de drogas, o portador de fuzis, pistolas e granadas, os batedores de carteiras,os estupradores, os homicidas, os pedófilos, os ventanistas, os latrocidas, efetivos e potenciais, podem surgir a qualquer hora, e em qualquer parte de nosso território estadual, daí a necessidade de mantermos nossas bases operacionais (Quartéis) onde estão e, de acordo com a necessidade, nos articularmos e desdobrarmos cada vez mais em outros núcleos, alicerçados cientificamente pela Teoria dos Sistemas e Subsistemas;

5. Não é a lógica da ausência de recursos para manutenção física dos próprios estaduais. Seria risível, indigno, vergonhoso, vexatório e até assustador, pois, primeiro, todo orçamento sério e responsável teria obrigatoriamente que contemplar tal necessidade, e segundo, para onde o Comando fosse deslocado, sua nova sede (mesmo que fossem contêineres ciganos) teria que ser manutenido (despesas) com recursos públicos.

Enfim, não conseguimos vislumbrar dentro de um enfoque científico, qualquer suporte administrativo/técnico, tático ou estratégico que amparasse a iniciativa da venda do Quartel General da PMERJ.
Não conseguimos vislumbrar, em termos de respeito profissional ao homem e mulher Policial Militar e, sob a ótica não menos importante da funcionalidade das instalações PM, como um Comando obraria em sua missão diuturna de dirigir a vida de 70.000 homens e mulheres (a PMERJ busca esse efetivo) fardados e armados, com poder de vida e de morte sobre seus semelhantes, com necessidades logísticas monstruosas e terríveis, às quais, cada uma demanda no mínimo lugar salubre, seguro e compatível para apoiar a tropa com material bélico, almoxarifado, tesouraria, rancho, alojamento, salas de aula e pátios para permanente instrução, etc, além da necessidade de departamentalização ótima para um Estado Maior Geral, nas já acanhadas e acotoveladas, e também a necessitar melhorias, instalações do BPChq,sem falar que este, a qualquer momento poderá também entrar no frenesi das caixas registradoras das companhias imobiliárias (ainda bem que o BPChq, pelo menos em um primeiro momento, tombado está).
Não conseguimos igualmente, vislumbrar, como, além de responsabilizar-se pela Polícia Ostensiva, também preservar a Ordem Pública (Art. 144 da Constituição Federal), sem que tenhamos o mínimo de espaço físico para colocar nossos homens, periodicamente, como soe acontecer ao longo de 204 anos, em regime de sobreaviso, expediente prolongado, prontidão e ordem de marcha.
Não nos esqueçamos que distúrbios civis são cíclicos, o que está em ordem hoje, amanhã poderá não estar. Facilmente, independente de qualquer ideologia, nas grandes cidades principalmente, uma massa humana pode se transformar de aglomeração em multidão, daí em turba e turba multa, e nesses casos somente as Polícias Militares, por capitulação legal e constitucional bem como, competência profissional, adquirida ao longo de séculos do exercício da atividade , historicamente, tem conseguido evitar a afronta pela força desmedida e as graves perturbações da ordem pública, com o fito de enfraquecer, destruir e provocar a dissolução do Estado/Governo, evitando males inimagináveis.
Portanto aqueles que inadvertidamente tem criticado que Quartéis de Polícia são grandes, tem campos de futebol, ginásios de educação física, espaçosos alojamentos e Ranchos etc, estão a apostar no caos, nos massacres, nos grandes desastres, na morte coletiva de brasileiros por ocasião de distúrbios civis. Essas pessoas, seja por inocência, ignorância, desconhecimento, romantismo exacerbado ou caracterizada má fé são um mal para a população fluminense.

Finalmente, registramos, que estamos a ver sim, na venda do QG/PMERJ:

a. A lógica das 336 moedas,

b. A lógica do desamor institucional, da falta de corporativismo sadio e do desconhecimento total e absoluto a respeito de 204 anos de luta, prestação de serviço e proteção à Sociedade por parte da gloriosa Corporação Policial Militar,

c. A lógica da obediência ( a exemplo da venda da nossa ESPM – Escola Superior de Polícia Militar) à irrefreável sanha da especulação imobiliária, a atropelar, sepultar, destruir qualquer coisa que lhes ouse opor obstáculos na busca dos cada vez maiores ganhos, mesmo que sejam patrimonios públicos com legados  heróicos e históricos. Essas pessoas não tem compromisso com a história e nem com o sangue Policial Militar derramado. Nós, os Policiais Militares de sangue, temos.


Vamos encerrar companheiros, falando um pouco de história, honra e sentimento.

No espaço físico de solo pátrio denominado QG da PMERJ, localizado na Rua Evaristo da Veiga, nº 78, não ficam só sediadas as vetustas instalações do nosso Comando Geral.
Lá estão imersos e vagueantes também, os espíritos de brasileiros que para ali foram em outrora hospital, terem sua qualidade de vida melhorada.
Estão imersos e vagueantes os espíritos dos religiosos capuchinhos da Ordem dos Barbonos, que ali passavam suas longas vidas a conversar com Deus.
Lá está a 1ª muda de café plantada no Brasil.
Lá vagueiam os garbosos espíritos dos fundadores e mantenedores dos destinos da ínclita Irmandade Nossa Senhora das Dores, entre eles do Imperador Pedro II, fundador de sua Imperial Capela, erguida para homenagear os heróis da PM que lutaram na Guerra do Paraguai.
Lá estão imersos e vagueantes os espíritos do Marechal Vidigal, Comandante da Guarda Real de Polícia; do Brigadeiro Castrioto, 1° Comandante da Polícia Militar do antigo Estado do Rio de Janeiro; do Major Portugal, Conselheiro de Dom Pedro I; dos Coronéis Assunção e João José de Brito e todas as suas tropas, heróis da Guerra do Paraguai; do Duque de Caxias, que comandou a Polícia Militar durante 7 anos; do Marechal Hermes da Fonseca, Chefe do Estado Maior Geral e Comandante da PM e Presidente da República; dos saudosos Coronéis Carlos Magno Nazareth Cerqueira, Manoel Elisyo dos Santos Filho, Gonzaga, Vidal, Rangel, Barros,Vargas, e tantos outros brasileiros ilustres. E principalmente, por lá vagueiam também os ensanguentados espíritos e/ou as memórias ou ainda as claudicantes presenças físicas dos mais de 5.000 policiais militares mortos ou feridos, amputados, tetraplégicos, loucos, arruinados física e mentalmente em defesa da Sociedade Fluminense.
Principalmente por esses heróis sociais, pelo perceptível e permanente cheiro das gotas, ribeiros e igarapés de sangue, que a criminalidade fez brotar de suas veias por estarem defendendo os homens, mulheres e crianças de nosso Estado do Rio de Janeiro, sangue esse entranhado em cada grão de areia formador daquele divino solo, que não podemos desistir.
Queremos também que nossos espíritos por lá vagueiem, quando nossa hora chegar, até a eternidade, junto com nossos bicentenários heróis, temos esse direito.

O Quartel General da Rua Evaristo da Veiga n? 78 tem que continuar com a sua vocação de eternidade, para o bem de toda a população fluminense.

Nós, a Policia Militar, todos os nossos ancestrais e descendentes e demais cidadãos de nossa terra fluminense, e por extensão, a Nação brasileira, pelo que a PMERJ representa para a história do Brasil, precisamos de todo e qualquer centímetro quadrado do solo pátrio do Quartel General da PMERJ.
Ele é nosso !!!!! , não foram os homens, foi a história que nos deu.
Por isso somos contra, radicalmente contra, irreversivelmente contra a venda do QG/ PMERJ, e/ou qualquer outro patrimônio seu, sem a devida fundamentação administrativa/técnica, tática ou estratégica. Para isso contamos com o espírito patriótico de todo PM vivo ou morto.
Selva!!!!

Niterói, março de 2012.
WILTON SOARES RIBEIRO – Cel PM Ex -Cmt Geral

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