terça-feira, 17 de março de 2015

A Historia do GAM ( Grupamento Aeromarítimo Ten PM Antunes) da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro- 5ª Parte/ Conclusão.


ESCANINHO DE RECORDAÇÕES

Continuação/Conclusão.

Alguns fatos  que passo a narrar logo a seguir ( não o serão com intenção absoluta, apenas garimpando algumas nuances), creio que darão mediana  sustentação a " teoria da conspiração ", que já se apoderava do Comando da PM , à época, evidenciando que o Projeto Asas Móveis da PMERJ, corria serio risco de não  se concretizar, pelas razões expostas abaixo.

No prosseguir da luta administrativa, viemos a saber que :

1. Nosso Planejamento/ Proposta oficial contendo todos os pré-requisitos exigidos em lei para criação de novos Órgãos na PM, encaminhado por nosso EMG ( Estado Maior Geral ) com mais do que tempo útil para a SSP ( Secretaria de Segurança Pública, sim senhores,  a SS, já foi SSPública  ), estava simplesmente acautelado ( engavetado ) em poder do Delegado de Policia Civil Reimão, Subsecretario Operacional, creio que com a melhor das intenções. Ocorre que o Delegado era oriundo do Serviço de Salvamento do Corpo de Bombeiros, sendo muito ligado fisicamente ao Posto da Barra da Tijuca, e amante dos esportes náuticos. Assim,   viu em nosso Projeto uma grande oportunidade de realizar antigo sonho de criar um Órgão na Policia Judiciaria ( Civil ), para combater o crime no céu e no mar,  à semelhança daquele que nós  estávamos propondo, como Policia Ostensiva. Pronto, assim que nosso Projeto começou a tramitar na SSP, ele" pediu vistas",  segurou nosso Projeto, torno  a dizer,  creio que com as melhores das intenções,  enquanto fazia o dele. O resultado foi que, por longo tempo,  a nossa Proposta  não tramitava pelos canais competentes.  Felizmente, tomamos conhecimento a tempo e conseguimos neutralizar tal investida, digo mal entendido;

2. O Chefe do CGOA, Cmt Maia, Engenheiro, oriundo dos quadros do DER, eternamente contrario a qualquer iniciativa que desse autonomia ás Forças Policiais na área de Patrulhamento Aéreo, tratou durante anos, enquanto pode,  de obstaculizar a devolução do Helicóptero da PM  que estava sob sua guarda desde a década de 90. Até o último momento ( Oficio número 248/ 02- 20/3/02)-Cmdo Geral), tentamos junto ao CGOA a devolução de nossa Aeronave |Prefixo PPEMA, não obtendo êxito ( Of 217/02- 22/3/02-CGOA ). Conseguimos no entanto avançar com a atitude tomada na defesa de nossa Aeronave nova, comprada pelo Governo e sendo aprestada na Helibrás,  conforme registrado mais a frente;

3. Além dos vários problemas de engenharia encontrados no local escolhido para a construção de nossa Base ( era  a antiga Sede do CMM - Centro de Manutenção de Material) da PM do antigo Estado do Rio de Janeiro, desativado portanto desde o ano de 1975, o que mais me preocupou e nos fez perder precioso tempo, foi a questão do solo. Ocorre que o solo ao se fazer as primeiras sondagens  mostrou-se problemático , tendo em vista ser à beira -mar, em área aterrada. Tal fato, atrasou um pouco as obras fazendo fugir  pelos meus dedos   o cronograma inicial. O Cel Maia, Chefe da DGAL  ( Diretoria Geral de Apoio Logístico) e sua equipe,  mergulharam  de cabeça nesse problema com garra e profissionalismo, e através de novas escavações,  estaqueamento e múltiplas  camadas de concreto especial, inclusive adotando-se o método moderno à época denominado " nível zero ", chegaram a padrão de excelência das instalações , dentro daquilo que se tinha a mão. Mas o tempo corria;

4. E,  finalmente a última tentativa ( pensava eu ) de " golpe de mão " ( física ) que o Projeto sofreu, esta  já no derradeiro momento, a qual passo a narrar :

Estava eu representando  nossa PMERJ , em reunião extraordinária de Comandantes Gerais ( desmilitarização, desconstitunacionalização, termo circunstanciado, etc,,.. como sempre. ), no Estado de Goiás, quando em meio as intermináveis reuniões, recebo telefonema  angustiado de meu Ch EMG ( Chefe do Estado Maior Geral ), Cel PM Montenaro, dando conta que havia recebido um telefonema do Gerente Geral da Helibrás em Itajubá, Minas Gerais,  informando que o Helicóptero  nosso já estava pronto para a entrega, mas que naquele momento  lá estavam para recebê-lo uma equipe a paisana chefiada por um Major  do Corpo de Bombeiros que estava a disposição da SSP/RJ  ( Secretaria de Segurança Pública ) e portava um Oficio assinado por aquela Secretaria de Estado  determinando a entrega do Aparelho àquela equipe alienígena. . Dessa forma, perguntava qual deveria ser o  procedimento daquele Gerente.

Fiquei estarrecido e muito aborrecido. Um desconfortável sentimento de perda começou a me incomodar.  Um cenário mental imediatamente  transcorreu diante de meus olhos. Se aquilo acontecesse, estaria se repetindo o descalabro do primeiro helicóptero ( era da PM mas não saia da CGOA ). Teríamos que inaugurar um Grupamento Aéreo sem asas.... Inacreditável.

De bate pronto comuniquei ao Ch EMG/ PMERJ  minha decisão, dando-lhe as seguintes missões:

1. Avisar ao Gerente da Helibrás que de forma alguma, sob nenhum pretexto, ele deveria entregar nossa Aeronave a um não PM;

2. Localizar o Tenente PM Balthar, Oficial nosso que fazia Curso de Mecânica de Aeronaves na Helibras, e determinasse que o mesmo se armasse e fosse imediatamente para o interior  de nosso Helicóptero, estivesse onde estivesse. Lá dentro não acatasse ordem de ninguém a não ser minha ou do CH EMG. Não permitisse que ninguém, civil ou militar, se aproximasse do Aparelho em um raio de 10metros. A partir dai aguardasse novas ordens. Tal missão foi cumprida com zelo total;

3. Acionar o Cel PM Claudecir Ribeiro da Silva para que montasse equipe e seguisse imediatamente por terra para Itajubá e lá  resgatasse, usando os meios necessários , a nossa Aeronave em perigo. Tal missão também foi cumprida com galhardia.  Inclusive, quem conhece o Cel Claudecir,  imagina o que não deve ter passado a equipe alienígena que queria nos desfalcar de nossa única Asa Móvel  naquele momento;

4. Pedisse imediatamente audiência ao Maj Brigadeiro Marcos Vinicius Sfoggia , à época Comandante do III COMAR ( Terceiro Comando Aéreo Regional), e nosso amigo e amigo da PM , e após narrar a situação institucional que estávamos vivendo, solicitar um local de guarda em meu nome, seguro, inviolável e coberto das  vistas  para nossa Aeronave,  até a inauguração da Base do GAM. Tal permissão teria que ser imediata tendo em vista que o Cel Claudecir, a qualquer momento poderia chegar com o Helicóptero. O Brigadeiro imediatamente nos atendeu, tendo reservado e logo a seguir guardado a Aeronave, em um Hangar coberto, e sob vigilância, na área  do III COMAR/  Aeroporto Santos Dumont,   até  o dia 21 de março de 2002,  data da inauguração de nosso GAM;

Prossegui  nas atividades do Encontro de Comandantes Gerais,  defendendo os pontos de vista de nossa PMERJ, junto a outras Co-irmãs  e representantes de outras instituições.

A partir dai o tempo passou mais rápido ainda.

Faltando uma semana para a data da inauguração, tudo que dependia da PM já estava equacionado, qual seja :

1. Preparação e envio da documentação/ Proposta para a SSP, visando a criação oficial do GAM, inclusive com a minuta do Decreto do Governador, na qual inserimos a obrigatoriedade da devolução de nosso helicóptero numero 02;

2. Alocação de recursos humanos compatíveis, formados e treinados,  tendo o Bol  PM nº 51  de 18 Mar 2002, constituído o Grupo Fundador do GAM , composto a princípío de 13 Oficiais e 46 Praças. Podendo-se nominar os Capitães Fabio Almeida de Souza, Miguel Francisco Ramos Junior, Valdeci Santos de Lima, Sergio de Andrade Alves,  Daniel de Miranda Queiroz,  Rodrigo Sanglar, Roberto de Sena e Tenentes, André Roberto M. Balthar, Fernando Pereira Viana, Alexandre Barbosa de Lima, Claudius Ferreira da Silva, Gilson Fernandes e Rodrigo Duton Alves;

Das 46 Praças., incluía-se o pessoal de terra, os " canelas pretas ". Ocorre que, como o clima de tensão em torno da iniciativa da inauguração pela PM,  de Órgão Operacional de tal magnitude, fatalmente natural que começassem a surgir boatos e informes a respeito até da possibilidade de atos de sabotagem contra material e instalações de nossa Base GAM  recém construída. Decidi não brincar com coisa séria. Eu sabia a pressão que a Corporação estava sofrendo desde o inicio do Projeto. Determinei que um Pelotão completo , de Tenente a Soldado mais moderno do BPChq ( Batalhão de Policia de Choque), fosse hipotecado sem prazo, ao efetivo do novo Grupamento.Sua missão inicial era estabelecer um perímetro de segurança de 360° em torno da Base do GAM, 24 horas por dia, enquanto qualquer ameaça de violação  das instalações pudesse ocorrer, pelo menos até a data da inauguração. Julgava que com o fato consumado, as pressões diminuiriam.   Esse Pelotão foi com armamento, viaturas, equipamento e fardamento do Choque, dai a primeira farda operacional do GAM ter sido a do BPChq;

Já haviam sido formalizados  para assunção de Comando e Sub comandos o Cel PM Claudecir Ribeiro da Silva, e os Majores PM Eduardo Luis Brandão Ribeiro e Renê.


3. Alocação de recursos materiais. também ECD ( em condições de).  Pelo menos com  3 embarcações em ótimas condições já podíamos contar. Um helicóptero novo, nosso 01 devidamente camuflado no Hangar  do III COMAR ( Havíamos recebido noticias que equipes do CGOA haviam repetidas vezes, não sei com que intenção,  realizado sobrevoos em alguns  locais do Estado,  tentando localizar nossa Aeronave).  Não lograram êxito...... Havia ainda a esperança de conseguirmos a devolução de nosso segundo Aparelho. Outros materiais , mercê da urgência, também já estavam na mão, como por exemplo viaturas terrestres, kits de ferramentas, macacões especiais, equipamentos de primeiros socorros, manuais, legalização de nosso Heliporto e Atracadouro,  material burocrático, etc, etc...;



4. A construção de nossa Base já estava praticamente concluída, inclusive nosso Porto provisório;

Só nos restava esperar.

Só que esperei e nada aconteceu. Foi quando decidi na véspera do evento, na ausência de outro documento formal superior,  criar o GAM  através de Portaria do Cmt Geral, (Bol da PM de 20 de Março de 2002). Nesta publicação  consta  não só a Portaria de criação, mas também sua constituição, missão, e NGA ( Norma Geral de Ação) equacionando  suas rotinas de trabalho. Regulei  também a denominação das Aeronaves, FENIX em alusão ao ser mitológico que renasce das cinzas das dificuldades e perseguições, como soe acontecer com  as pessoas e coisas da PM. Às embarcações dei os nomes de SELVA, em homenagem a formação natural, que ocupa ainda nos dia de hoje, mais de 50% do território nacional. .Junto com a água, a origem de tudo.  Terra de gente simples, generosa,  mas firme , coerente e digna  em suas posturas e condutas.

E,  finalmente, também em BOL PM,  com grande emoção, batizei nosso GAM com o nome do saudoso Guerreiro,   1º Ten PM RG 50.980 Cidimar Antunes de Almeida, Oficial  assassinado  tragicamente, no dia 17 de Março de de1995,  em Operação Helitransportada, no combate a criminalidade armada com arma de guerra, no Bairro do Caramujo, Niterói, por ocasião   de ações contra o tráfico de drogas no período de meu Comando no 12º BPM ( Decimo Segundo Batalhão de Policia Militar ).

Chega o dia 21 de Março de 2002, ás 10 horas.  Com a Tropa em forma, recebemos o Sr Secretario de Segurança, o Cel PM Josias Quintal de Oliveira e logo após o Governador do Estado, Antony Garotinho.
Tenho em minha mente ( e também gravado em DVD), o susto que o Cmt Maia, pilotando a Aeronave do Governador , transmitiu para seu Aparelho ( parecia que sofrera a consequência  de um repentino " efeito solo "),   quando ao realizar seu primeiro pouso em nossa Base, viu de bem perto nossa Aeronave 01, em toda sua majestade azul gendarme, santamente, mas com cara feia, aterrissada   em nossas humildes mas dignas e orgulhosas  instalações aeronáuticas, com suas laterais escritas em letras garrafais, POLICIA MILITAR.  Nossa FENIX  I, havia sido retirada de seu esconderijo estratégico no III COMAR , havia  apenas meia hora antes.  Confesso que naquele momento cheguei a temer pela integridade física do Governador, dado ao volteio abrupto da cauda do seu helicóptero, ao buscar aterrisagem.  Mas tudo terminou bem, embora chovesse.

Me senti muito honrado também quando o Governador ao termino de seu discurso, sacou de seu paletó, o texto do Decreto  de criação do GAM e o assinou em público, diante de toda a Tropa, passando após às minhas mãos para os procedimentos administrativos usuais. Ao lê-lo, orgulhoso, vi que ali constava também em artigo próprio,  a determinação   governamental da devolução de nossa Aeronave 02, Prefixo PPEMA, passando a ser nossa de fato e de direito.

Exaustiva cobertura de imprensa teve efeito em razão do evento. Me permito no entanto por razões sentimentais , destacar o texto da primeira página do Jornal  O São Gonçalo, edição do dia 22 Março de 2002 :

" PM GANHA NOVO GRUPAMENTO EM NITERÓI"

"A Policia Militar vai passar a combater a entrada de armas e drogas pela Baia de Guanabara, com a inauguração do Grupamento Aeromarítimo de Niterói. " Agora vamos patrulhar o Estado por Terra, Mar e Ar", ressaltou o Comandante Geral da PM, Coronel Wilton Ribeiro. Ontem mesmo foram entregues dois Helicópteros e três lanchas. "
 
 
 
 



Ao retornar ao meu Quartel, com a alma feliz  e o felino coração em regozijo pela satisfação do dever cumprido, cometi um grande erro. Julgando que as ações inimigas estariam terminadas ,  esqueci da máxima Suntzuana: " O inimigo não dorme, nunca !!!". Encaminhei o Decreto de criação do GAM Ten PM Antunes, recém assinado pelo Governador através os  trâmites burocráticos normais , isto é, formalmente a SSP, para que de lá como era praxe, fosse encaminhado ao Gabinete Civil e ai sim,  Diário Oficial. Nada que  consumisse mais de um ou dois dias.  Bem,  10 dias depois o Governo acabou, foi substituído.  O Decreto desapareceu e o GAM ficou criado por Portaria do Comandante  Geral até o dia 07 de Abril do ano de 2004, ocasião em que novo Decreto foi assinado e ai sim publicado em Diário oficial, e também ai sim,  finalmente a devolução de nossa Aeronave 02.

Esta é a história do Grupamento Aeromarítimo Tenente PM Cidimar Antunes de Almeida, da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

Obra possível graças a um  punhado de valentes, idealistas  e determinados Policiais Militares, os quais  acreditaram em seus sonhos de tornar sua  Policia Militar cada vez melhor.

Vida longa ao GAM Ten PM Antunes. Que  a Policia Militar, a Rainha das Ruas, continue a ser também a  Rainha dos Céus e a Rainha dos Mares, na árdua e nobre missão de combater para controlar a criminalidade em nosso Estado do Rio de Janeiro.

ENQUANTO MISSÃO HOUVER MISSIONÁRIOS SEREMOS !!!!!!!!!

Seeeelllvvvaaa !!!!!



segunda-feira, 9 de março de 2015

"RETIRAR ARMAS DAS MÃOS DOS CRIMINOSOS É A GRANDE META "

Escaninho de Recordações

"Retirar armas das mão dos criminosos é a grande meta"

Este o lema de meu Comando Geral da PMERJ, no período 2000/2002.
Tal palavra de ordem era exaustivamente repetida em formaturas, reuníões, diretrizes, palestras, encontros. Todo e qualquer documento que fosse enviado pela cadeia  de comando, teria obrigatoriamente que receber carimbo ou impressão em parte deste documento com esta assertiva. Acreditava nisso. Em razão, de durante longo período de minha carreira haver atuado em Unidade Especial,  que favorecia a proximidade com ocorrências violentas, nas quais o marginal da lei já usava com constância,  armas de guerra. Me recordo  também,  em Unidade convencional, de uma operação na favela Nova Brasília,   o meu saudoso 12º Batalhão, em 1995,  fez  uma apreensão de vasto material bélico de guerra estrangeiro, tendo o antigo Jornal do Brasil estampado em primeira página uma frase minha que dizia " Parece que o mundo declarou guerra a Niterói". É que espalhadas em uma capichama, lá estavam, AK 47, Norinco, Sig, Ar15, Rugger, Desert Igle,  Uzi etc, além de farta munição..Vi também de perto,  o estrago que uma arma dessa fazia. Já no Comando Geral, com apoio do Cel Maia, da DGAL  e Cel Claudecir,  do CMM, conseguimos idealizar e confeccionar um belo e robusto troféu metálico,  com partes de madeira,  representando um  braço forte Policial Militar retirando do criminoso violento a máquina de matar inocentes chamada Fuzil. Eram de bronze, prata e ouro. Respectivamente para as UOp ( Unidades Operacionais) classificadas em 3º, 2º e 1° lugar na quantidade de armas de fogo apreendidas mensalmente. Como disse, acreditava nisso, aliás, acredito.  Tais medidas, além de fortalecer o moral da tropa e implantar uma escola de comando sadia, enfraquecia o poder destruidor do tráfico de drogas em nosso Estado.

Uma das razões dessa técnica  motivacional de comando no entanto, além é  claro,  da parte óbvia referente a ação física de fazer e  fazer fazer  policial, tem a ver diretamente com a sensibilidade e a  capacidade de estabelecer prioridades.  Quantos companheiros à época,  me perguntavam e perguntavam entre si,- mas Cmt,  existe uma infinidade de crimes capitulados no Código Penal e legislações  afim e o Sr  adota  como prioridade absoluta as armas, retirar armas das mãos criminosas ? E eu explicava, quantas vezes fosse necessário, companheiro, todos os crimes devem ser combatidos com total vigor e regularidade, mas você há de convir que o advento da arma de guerra no teatro de operações em nosso Estado, é o fator primordial do desequilíbrio entre  forças legais e criminosas. O poder criminoso em nosso Estado  está montado exclusivamente sobre sua capacidade de portar e usar armas de guerra. Portanto,  é ai que temos que direcionar todas as nossas forças, até que o criminoso violento do Estado do Rio de Janeiro passe a portar novamente, faca, garrucha ou  no máximo, Rv Cal 38.  O companheiro e/ou companheiros entendiam ou fingiam que entendiam e saiam.
 Até que , em uma reunião com Comandantes , Chefes e Diretores, lembrei-me de uma entrevista que havia assistido há muito tempo com o "Bispo Vermelho" ( que de vermelho não tinha nada, tinha sim,  um coração imenso do tamanho dos Estados do Rio e de Pernambuco, com Olinda dentro, juntos ), o saudoso Padre D. Helder Câmara.

E inspirado nele,  contei a meus homens e mulheres,  a história que dele tinha ouvido, a respeito de como estabelecer prioridades :

 Em meio a uma entrevista,  o repórter lhe perguntou como ele decidia a respeito de priorizar este ou aquele projeto social, se os recurso eram minguados, e todos eles eram importantes. Isso além de como  priorizar defesas às diversas perseguições  que vinha sofrendo

Dom Helder então falou, " Meu filho, veja bem, imagine se você tem diante de si , dois cães ferozes e prontos a  ataca-lo.  Um, está ainda se preparando, o outro já está a centímetros ou já iniciando a mordida em sua canela. Você tem com você um bastão de defesa. Em qual dos dois cães você daria  a primeira bordoada?? " Pronto,  o repórter entendeu e prosseguiu com a entrevista.

Todos os Comandantes  finalmente  entenderam e saíram da reunião com ganas de cumprir a grande meta de "retirar armas das mão dos criminosos".   Importante registrar também o valiosíssimo apoio que nos deu a Delegacia de Armas e Explosivos, criada naquele anos de 2001.

Importante registrar também o valiosíssimo apoio que nos deu a Delegacia de Armas e Explosivos, criada naquele anos de 2001.




Viva D. Helder, viva a PM !!!!!!!

quarta-feira, 4 de março de 2015

Misericordia XII, ou Ninguém é dono da verdade, ou Grande equivoco pode trazer prejuizos inestimáveis para a existencia daquela que é responsável constitucional pela preservação da ordem em nosso Estado, a PMERJ.

Sim, ninguém é dono da verdade. Ninguém  detém o poder absoluto da verdade e todas as suas condicionantes e variáveis. E o maior impacto ocorre justamente ao tomar conhecimento que minha Corporação, justamente por coexistir sob um modelo militar de administração, o qual, entre outras características que permeiam o estabelecimento do processo decisório, conduzido até que amadureça completamente, seja pela Teoria Cartesiana ou outra condizente, me parece estar a tomar decisões sobre questões estruturais, como se só conjunturais fossem,  que podem afetar para o resto de sua existência ( e com isso afetar a toda sociedade fluminense), sem um estudo profundo, sem o fustigar até a exaustão a todas as nuances que cercam a mudança da constituição dos novos Quadros  que um dia comporão toda a cadeia de comando institucional.

O Jornal" O Dia" de hoje ( 12/02/15), informa que : " PM muda regra, e soldado poderá chegar a oficial". A primeira coisa que me veio a cabeça foi a clássica pergunta : " mas qual é a lógica dessa mudança tão radical ??" Após ler a  matéria extraímos algumas inserções , tais como:

1." PM muda acesso, e soldado pode chegar a oficial".

2. ".. .a possibilidade de praças e soldados possam chegar a oficial vai se transformar em realidade na PMERJ".

3. "  .um soldado caso estude e se especialize durante sua carreira, pode chegar a Coronel e até a Cmt Geral, hoje o máximo que se pode chegar, quando, se entra como Aspirante ( sic) é a sargento ou oficial de segunda linha ( sic) " .

4. " ... o atual modelo separa praças de oficiais".

5. " .." será a principio exigido um curso de tecnólogo de 27 semanas ( 7 meses)"

6. " é uma reivindicação antiga. hoje temos duas policias dentro da PM; a dos oficiais e a dos praças".

7. " .. nos EUA, o chefe de policia, um dia dirigiu o carro como praça".

8. " ...existe uma separação atual, em que um jovem aspirante a tenente nunca dialogou com o soldado em sua formação. Este é um modelo que só existe no Brasil. "


. Quanto a lógica  das três primeiras inserções , constata-se  uma total falta de conhecimento  das " coisas " da PM, tendo em vista que essa condição e motivação já existe, aliás sempre existiu,  um Soldado sempre pode chegar a Coronel. Antes bastava ele estudar, progredir na carreira,  e fazer a Escola Profissional ( EP ) ,  e de 1951   para cá fazer a EsFO/ APM D. J. VI ( Escola de Formação de Oficiais/ Academia D João VI ), tudo através de concurso. E quanto a ser Cmt Geral, o Soldado,  de 1983 para cá , se estudar, passar no concurso da EsFO/ APM D J VI, chegar a Coronel, poderá  ser o 01 da bicentenária Corporação de Vidigal e Castrioto. Então, caros amigos, não consigo ver tal "medida revolucionaria", por enquanto.

Sofisma, falácia, paralogismo,  estabelecimento de falsas premissas??? prefiro acreditar que sejam, como disse, desconhecimento das " coisas "  da PM.

. A quarta citação preocupa. Quem estaria habilitado para dizer que depois de 206 anos de convivência castrense, nosso modelo de gerenciamento " separa Oficiais e Praças". Se há separação a mesma se dá por círculos, afinal o comando é úno e indivisivel e a execução é descentralizada. Afinal para funcionar, somos uma " PIRÂMIDE". E qualquer pirâmide é formada por base, meio e cone ou ponta, ou cabeça ou vértice. Mas mesmo assim em nosso modelo gerencial, todos mandam e todos executam em seus devidos níveis hierárquicos funcionais. Não esqueçamos  que a definição básica de Tropa é :  " constitui-se de no mínimo 2 homens ( ou mulheres) devidamente comandados". Então, de Soldado a Coronel comanda e de soldado a Coronel também obedece. Todos tem autoridade, mas todos também tem responsabilidade. E se ocorre alguém com problema psicológico de não aceitação de autoridade/responsabilidade, ou trata de se  adequar ao modelo, ou será profundamente infeliz até o final de sua carreira. Assim como,  se nos diversos níveis alguém esta contribuindo para " "separar Oficiais  e Praças" no sentido da malévola cizânia, esse alguém deve ser de fora, pois se de dentro,   estaria  descumprindo uma das primeiras determinações de nosso Estatuto do Policial Militar, que reza que todos devem tratar todos com respeito e URBANIDADE ".

. A informação 5 prega o estabelecimento de um novo Curso , o de Tecnólogo de Segurança Pública e o vincula perigosamente à máquina oficial  e regular de preparação para entrada na Corporação. Será patrocinado pelo Estado ??( será grátis ??). Será interna-corporis ? (será  grátis??).  Existirão no mercado numero razoável de Cursos para que se possa   licitar, escolher regionalmente, etc ??...É também preocupante....

. A citação 6 também vem eivada de maldade institucional. Torno a repetir, quem estaria habilitado a dizer que existem duas policias dentro da PM. Quem ???? A quem pode interessar essas aleivosias ??

. Quanto a citação 7 é outra claríssima inverdade. Existe lá um plano de carreira sim, mas determinados Postos e Graduações, sim postos e graduações no " CIVIL" NYPD(  Fiquem sabendo que na Policia de Nova York por exemplo, existem Cabos, Sargentos, Tenentes,  Capitães  e Oficiais Superiores, que quando fardados, sim fardados,  usam quatro, cinco insígnias, portanto são mais graduados que os Capitães, que usam tres. E, dependendo da politica do momento,  alguns  cargos comissionados de alto mando são ocupados por profissionais  vindo de Departamentos  Federais por exemplo, não tendo nunca dirigido "carro como praça". E outra coisa, possuem Quarteis ( com outra nomenclatura ) pequenos, médios e grandes,  e alguns enormes,  que tomam mais de um quarteirão inteiro,  como é o caso do QG ( Quartel General ) da NYPD (  Departamento de Policia de Nova York). Somos e temos que continuar lutando para sermos uma Policia só, a bicentenária Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Obs- A ser seguida  essa premissa,   então, nas outras carreiras teria que ser assim, isto é :  O Juiz teria que ser primeiro Oficial de Justiça; o Promotor, teria que ser primeiro  Auxiliar Administrativo; o Advogado, Rábula; o Medico,  Enfermeiro;  o Engenheiro , Mestre de obras;  o Delegado, Inspetor ou Escrivão; o Professor, Bedel; o Sociólogo, favelado; o Antropólogo, Índio ; o Arqueólogo, Múmia; o Presidente da República , Prefeito; o Deputado , vereador; etc....

. A assertiva nº 8 é covarde , é ignominiosa. Mexe com o  que temos de mais puro em nossa Corporação que são  os nossos Cadetes e Aspirantes. Que historia é essa que "nossos Cadetes e Aspirantes não interagem com as Praças". Que "este modelo só existe no Brasil" . Só uma mente doentia poderia  afirmar isso sem conhecer o mínimo das vísceras, coração , ossos, fluidos, mente e músculos  de nossa PM.  E quanto ao modelo de Policia, o nosso é modelo universal. Originou-se na França medieval, irradiou-se para Portugal, Espanha e América Espanhola ( Peru, Chile, Argentina, Paraguai, Colômbia, etc),  Itália,  Canadá, entre outros países,  e até na longínqua China.

 Vou retomar o conceito de que ninguém é dono da verdade, mas os argumentos para mudanças tão radicais, tem que ser fortes e claros.
 Com todo o respeito aos saudosos " cascas grossas" de quem herdamos incontáveis exemplos de liderança inconteste e amor corporativo, mas quando o modelo da Escola Profissional ( EP ), que preparava as Praças para galgarem o Oficialato,  cedeu lugar a EsFO ( Escola de Formação de Oficiais), no inicio da década de 50, abrindo oportunidade para toda sociedade,  era porque o modelo antigo já estava exaurido.  Haviam duas condicionantes à época. A Corporação vivia para si mesma, era aquartelada, para as demandas intra-muros, suas soluções de composição de seus quadros atendiam a seu universo. A outra era que qualquer tentativa de oxigenação era vista como interferência em seus constitucionais destinos.  O vento da liberdade que assolou o mundo após o termino da segunda guerra mundial, bem como a liderança junto às varias instituições internacionais que o modelo militar americano passou a exercer ( West Point passou a ser o templo do saber militar em que todos queriam se espelhar.  Era a Escola dos vencedores). A Academia Militar das Agulhas Negras, havia sido inaugurada recentemente , ao final da Guerra. No período pós-guerra, variadas Missões Norte Americanas no Brasil estiveram para modernizar equipamentos e procedimentos administrativos e operacionais de nosso Exercito. Nossa PM sentiu que era a hora de modernizar-se nesse bojo.  Éramos Policiais , mas éramos militares também, desde 1809. Assim como já sentíamos a extrema necessidade de estabelecer uma estratégia de oxigenação na composição de nossos futuros quadros de Comando, através de ideias jovens , criativas e idealistas, vindas diretamente da sociedade,  vimos na criação de uma Escola de Formação de futuros dirigentes, moderna e eficaz,  a solução. Paralelamente a isso atingiríamos os princípios da especialização para melhor profissionalização e da universalização, dando oportunidade a todos, tanto ao Praça que quisesse tornar-se Oficial, quanto ao jovem civil que tanto poderia nos trazer com seu vigor, juventude e idealismo. Estes creio serem os conceitos básicos,. Fugir a isso, seria retrair perigosamente, seria regredir  para um ambiente castrense policial em que  a Instituição PM, ficaria novamente "correndo em torno de sua própria cauda". Seria novamente uma lanterna a iluminar a sua popa e não a sua proa. Deixaria de ser vanguarda. Passaria a nivelar, perigosamente, por baixo,  a formação de seus futuros quadros dirigentes.

. Quanto a exigência de curso superior para ingresso como Praça na corporação, creio ser mais do que justo, aliás a Corporação está inserida e precisa  sempre permanece-lo  na realidade conjuntural  do Pais. Se por exemplo, o sistema educacional e sócio econômico assim o permitir naquele momento, que então seja exigido cada vez mais pré-requisitos  substanciais , equânimes, e proporcionais ao meio geral do cadinho conjuntural do qual ela  faz parte como um todo,   para iniciar nos seus quadros. Ela em muito ganhará e principalmente a sociedade também. Aliás,  tenho uma razoável experiência nessa área em razão de,  como principal Assessor ( Ch EMG )  do Sr Cel PM Sergio da Cruz ( Cmt Geral ), propusemos no ano de 1999, tendo sido aceito pelo Governador, e praticado em todos os Concursos desde essa época, que a partir dai a entrada para Praças teria que ser obedecendo ao requisito do 2º Grau. Até 1998, era exigido o 1º Grau.  Nesse caso, creio ser fundamental  concomitantemente que a exigência para a  entrada na EsFO/ APM D J VI ( se ela permanecer existindo ) , não só passe a ser  de nível superior , como seu período de formação seja de quatro anos, conforme trabalho/proposta apresentado ao Comando Geral em 2012,  pelo Clube dos Oficiais.
Aliás, creio que independente de qualquer medida visando o melhor para a existência de nossa PM, já passou da hora, isso sim, de uma reforma, uma "revolução " nas condições  atuais de nossa Academia D J VI. Imperioso se faz que um vento, um furacão de modernidade passe por lá, promovendo mudanças desde instalações físicas, passando por recursos tecnológicos afins, curriculum, metodologia do ensino, carga horária, suportes pedagógicos, normas gerais de ação, oficialização de status, rotina de trabalho, etc. Tudo com foco principalmente na situação perigosíssima que vivemos, denominada " perda de identidade ", fenômeno fatal para qualquer Instituição. Nossa Escola de Líderes tem que ser a melhor para que possa formar os melhores,  as Águias e os Falcões de nossa Corporação. Isso sim, seria uma " revolução "

 Como ninguém é dono da verdade e como na parede da sala de aula do 1º Ano de minha EsFO ( hoje um imenso  pátio de containers, frio, cinzento e sem alma) , da PM do antigo Estado do Rio de Janeiro, havia um frase que me acompanha até hoje : "O PERFEITO OFICIAL NÃO DEVE TEMER NADA , NEM MESMO   UMA IDEIA NOVA", então vamos aguardar os acontecimentos. Mas que estamos vivendo um  perigoso momento institucional , isso, estamos.Obs. E a bandidagem está danada.....