domingo, 27 de novembro de 2016

RECUERDOS DE LA REP DOM- CAPITULO IV


           ESCANINHO DE RECORDAÇÕES


                     4ª Parte




(  Continuação)


A capacidade combativa   dos rebeldes, sob nossa ótica de ponta de linha, era muito fraca. Pelo que sabíamos o grosso dos revoltosos   estava grupado em uma zona delimitada pelas forças legais , denominada de Zona Rebelde", que era tipo um grande Bairro formalmente chamado  de Ciudad Nueva de Santo Domingo, já demarcado em mapa postado no Capitulo 3.
Recebiam ordens do Cel Camaño, e se intitulavam  constitucionalistas. Nós os chamávamos  simplesmente de Rebeldes.  
A importância estratégica dessa área, era que ali ficavam, a parte do comercio mais adensado, o Cais do Porto e a Zona Bancaria.
Nos limites haviam Checks Points , mas como era fronteiriça ao Rio Ozama, tinham total liberdade na parte fluvial, do  que utilizavam para transporte clandestino de viveres, armamento e munição, sem qualquer tipo de controle, a não ser esporádicas passagens de Barcos Patrulha do Exercito Americano. 
Para nós era terminantemente proibido em gozo de folga,  siquer nos aproximarmos daquela área. Em nossas instruções formais eram-nos passado por nossos Oficiais, que o  efetivo opositor,  estava estimado entre 1500 a 2000 homens em armas.  Havia também considerável parcela da população  civil, que portava armas rudimentares, apoiando o movimento da facção de Camaño Deño .Naquela área, montavam guarda 24 horas nos seus limites . Usavam os mesmo tipos de PCTran, Concertinas e saturavam trechos com minas anti-pessoal e anti-carro.
Como já disse, circulavam livremente por nossas barreiras durante o dia, desde que não estivessem armados. Isso facilitava seus serviços de informações.
 Um grupo chamado Los Tigres usava essas informações para  identificarem e rasparem os cabelos e aterrorizarem moças  nativas que estivessem namorando com as  Tropas,  que  chamavam de invasoras. Costumavam também deixa-las, além de carecas, com o corpo semi- desnudo, cabeças e rostos pintados de vermelho e portando cartazes alusivos ao ato praticado.  Isso nos revoltava muito , porquanto o brasileiro com sua capacidade de fazer amigos de forma rápida, era um fator de melhoria de clima de tratamento, onde quer que fosse em território Dominicano.  Tratávamos toda a população  bem,  e éramos da mesma forma respeitados, tirante os ideológicos "Brasileños Go Home".
 Por falar em ideologia , cabe citar uma ocorrência de cunho humanitário que ocorreu comigo tendo como testemunha o Cb Vaz. 
Cobríamos  um Posto de Segurança na Sede da Radio Santo Domingo,  e havíamos acabado de jantar. Já havia observado,  que dois ou três niños, estavam a rondar a porta dos fundos do Posto.
Primeiro fiz um reconhecimento, tendo em vista que havíamos sido advertidos,  que crianças, usando os mais diversos subterfúgios,  inclusive pequenas caixas de engraxates,  eram frequentemente utilizadas pelos rebeldes para roubarem armamento, peças de fardamento,  munição, etc, da Tropa regular. Chamei-os,  maltrapilhos, vieram e sem que eu me pronunciasse outra vez, começaram a chorar, em soluços, : " Amigo brasileño,  tenemos  mucha hambre, desde ayer no comemos nada, ayudenos, por fabor". Não quis saber de mais nada, mandei-os aguardar, protegi meu fuzil, e imediatamente chamei o Cb Vaz para me ajudar, o qual também não titubeou, e  em uma fração de segundos , um lauta refeição estava servida no batente da escadaria dos fundos da Radio Santo Domingo.
Quando saíram,  ainda levaram alguns dólares, que eu e meus companheiros lhes ofertamos. 
Agora é que vem  o problema ideológico. Um Fotografo, da própria Radio Santo Domingo, ao passar pelo local, fotografou a cena e vendeu para um Jornal local de oposição. Manchete no dia seguinte : "Brasileños serven comida arruinada  a los ninõs dominicanos ". Como " arruinada" , se todos nós, minutos antes havíamos consumido aquela mesma comida? Guerra Psicológica....., e eu entendia muito pouco, ou  nada dessa guerra. Mas se tivesse que repetir a  ação praticada, o faria.
Resultado, Cabo 612 Wilton , novamente na "hora do pato". Felizmente terminou tudo bem.


E bem até demais. É que, em nosso próximo período de folga, dez ou quinze dias depois do ocorrido, estávamos, como sempre em grupo, buscando Pontos Turísticos, Bares, ou lugares característicos para  fotografarmos, quando na porta de um Bar, ou seja o" Barra El Twist", na parte permitida de La Calle El Conde,  três  niños,  com caixas de engraxates, atravessaram a rua correndo em minha direção. Cab Wilton, Cab Wilton, gritavam a toda voz. Meus companheiros e eu também, entramos em guarda imediatamente. Foi quando o Companheiro Vaz gritou pra nós , calma !!!, calma !!!, são as crianças lá da Radio Santo Domingo. Desfeito o susto, abraçaram-me, e ao Cb Vaz , e fizeram questão de engraxarem nossos Coturnos de graça. Fiquei muito emocionado.






Menos sorte porém tiveram alguns sentinelas americanos, que conforme já citado, foram degolados por integrantes rebeldes,                       especializados,  denominados de Homens-rãs, e que obtinham também, informações dos posicionamentos yankees  ,  através de suas incursões ostensivas durante o dia , voltando a noite em postura de combate e facas de trincheira afiadas
 O rigor do combate propriamente dito, havia ficado sob a responsabilidade do 1 º Contingente a quem tínhamos  substituído. Algumas vezes havíamos ouvido historias a respeito da famosa Operação de Ocupação da Área do Palacio Nacional e também da Operação do Isolamento da Ciudad Nueva, onde foi perimetrado  o efetivo rebelde.  Nessa ocasião a Tropa brasileira havia substituído nos Postos, os efetivos da 82ª Divisão Aerotransportada Americana. Com total sucesso.
Ao nosso Contingente, o Segundo,  além de episódicas escaramuças e alguns ataques rebeldes sofridos, uma vez que as ações de guerrilha, alguns sequestros , e atos de terrorismo não cessaram, coube-nos   em grande parte a missão de  Preservação da Ordem,  em toda área de nossa responsabilidade , o que não foi pouco,  e nem fácil de ser   planejada e executada. 
Nosso tempo era bem dosado entre " Linha de Frente", Instrução e algum descanso. 
Travamos contato com muitas novidades. Pela primeira vez em nossas vidas tivemos em nossas mãos,  maquinas fotográficas de grife, Yashica, Nypon, Laica, bem como a coqueluche da época os Toca- Discos  portáteis, à pilhas ou baterias,  e os relógios Mido. Artigos para nós baratíssimos. Nas pequenas vitrolas portáteis nunca nos cansávamos de ouvir os sucesso da época. O grande cantor de boleros Roberto Ledesma era o preferido, igualmente o magistral Lucio Cathica. O ritmo que esquentava todos os ambientes, era o Merengue, algo misturado com rumba e a balada de hoje. A Cerveja preferida era a Presidente e os destilados locais eram o Run Brugal e Bermudes. Os puros rivalizavam com os cubanos.




Existia um contêiner no interior do acampamento gerenciado por americanos, no qual fazíamos nossas compras. Para comprar cigarros, cerveja , uisque, batatas fritas, biscoitos especiais e alguns outros produtos como, agulhas e linhas de costura,  barbeadores portáteis e spray de espuma  de barba, tínhamos uma Tarjeta, um Cartão de Controle com o tipo e a quantidade que podíamos comprar a cada quinzena. Era uma Base  de Vendas sem Imposto, explorada pelos americanos,  dai os produtos serem muito baratos.
Tudo era novidade , cabe registrar uma passagem muito interessante com o Ten Joaman, quando em uma inspeção em nossa barraca do 3º Pel, ele viu um Soldado usando a espuma do spay de barba, que para nós era totalmente novidade, colocando-a primeiro em  um pincel antigo de se barbear, ai comentou: " o americano gasta uma fortuna para pesquisar e industrializar um produto pratico para que passemos a espuma  com a mão,  direto no rosto, e voce pastel,  vai usar o pincel e a cambuquinha do século passado, contrariando toda a tecnologia moderna, ah rapaz !!!!". Nunca mais esquecemos.

O clima no Caribe era bem diferente. Nunca havíamos ouvido  falar de furacão,  ciclone, tufão e muito menos tsunami. Não sei se, tecnicamente  fomos assolados por algum desses fenômenos. Mas eram comuns,  temporais fortissimos, imprevisíveis,  inesperados.  Barracas voando pelo acampamento, pedaços de viaturas rolando pelo terreno, restos  de madeira batendo nas canelas, roupas endemoniadas, desaparecendo para o interior da Favela. Ondas altíssimas,  e, logo após, um  calor escaldante,  durante o dia,  sempre seguido de um  frio penetrante durante a noite.  
Com o tempo cada um tratou de comprar a sua capa impermeável, a qual juntamente com o Estojo de Primeiros Socorros,  passou a fazer parte do uniforme,  sempre presos em nosso Cinto NA.
Muitos, apesar  dos remédios de caserna, ficaram gripados no inicio da campanha.

A comida poderia ser considerada boa. Aprendemos a nos alimentar com purê de batata em pó, embutidos americanos, que a Tropa prontamente batizou de " Guebo de Rebelde". Muito milho enlatado, intermináveis saladas de vagem cortadas, que queriam nos convencer que era Feijão, e enlatados diversos.  O reforço de Rancho era obtido através de clandestinas patrulhas noturnas,  que principalmente em noites de chuva, rastejando pelo primeiro processo, incursionavam sob a lona da Barraca de Rancho, em silencio absoluto, sempre trazendo  na volta , latas de doces em caldas, embora ás vezes o "bote" fosse mal dado, e o  que vinha era a odiada batata em pó, ou as salsichas de quinta categoria.


Nosso rancho era bem montado. Em arquitetura de Campanha, atendia perfeitamente as necessidades. Do lado de fora inclusive,  haviam grandes latões com agua fervente para lavagem das bandejas, primando assim pelo asseio individual e consequentemente ,  menos doenças.



Interior do Rancho de uma Companhia.




Complementávamos também,  com as encomendas de "Pollo com Papa Fritas", normalmente através de nossas lavadeiras de confiança, tendo em vista que por algumas vezes , através de estranhos,  havíamos encomendado   galinhas, e recebido  garças.   
É importante dizer que , quando a Aeronave que chamávamos de Carcará, a principio o C-119 e mais para o final, o C-130, Hércules, quando apontavam no horizonte com suas periódicas cargas de feijão preto, arroz, charque , batatas, legumes e frutas  brasileiras, era uma festa. Esquecíamos até que eles traziam também nossas tão ansiadas correspondências, cartas dos familiares. Devíamos isso ao saudoso Gen Reynaldo Mello de Almeida
A Gloriosa FAB, realmente teve papel primordial durante toda a Campanha. Registro abaixo uma singela homenagem, publicando uma Mensagem  original que recebíamos sempre  dos tripulantes do C- 119 :




Nosso fardamento, além do uso diuturno do Capacete de Aço, tinha apenas como diferencial, tirante a boa qualidade do tecido, o novo hábito de colocar a Gandola para fora das calças, ficando, portanto o Cinto Operacional NA, posicionado ostensivamente sobre a mesma. Completavam o Uniforme,  a camiseta branca junto a pele, os estilosos e unanimes óculos escuros, bem como as inseparáveis e inesquecíveis plaquetas de identificação. Cabe registrar o orgulho que tínhamos ao posicionar nos braços direito e esquerdo, os símbolos da OEA, da FIP e do FAIBRAS.




Nossa farda era lavada e cuidada, inclusive engomada. Possuíamos duas mudas de roupa. Aqueles mais caprichosos, que se envaideciam em ostentar uma farda como se fosse de West Point, regularmente,  se arrependiam amargamente,  quando a sempre imprevisível carga d'agua dos temporais,  transformava  a farda engomada em um misto de mingau e lama. Encontrei em meus guardados uma pequena foto de minha lavadeira Dominicana, a corajosa, pois sustentava uma família de 15 pessoas, Mercedes,  que muito emocionada , me ofertou como recuerdo,  por ocasião de nosso regresso.








O salário era substancial para a época, até onde podíamos conhecer, um Soldado recebia mensal 230 dólares, um Cabo 312 e um Terceiro Sargento pouco mais de 500 dólares. (da época).  

Obs.: A não ser em situação excepcionalíssima, somente tínhamos acesso a 20% do salário a cada mês, ficando o restante para nos ser repassado no final da Campanha, o que ocorreu.

A saúde nos era oferecida através de uma grande Barraca de Campanha onde coabitavam médicos e enfermeiros militares. Os medicamentos eram os de sempre, elixir, óleo de fígado de bacalhau, purgantes, injeções de Benzetacil e muito pneu de jipe (uma grande pastilha branca que servia para todas as doenças). Nos preparativos para  viagem, fomos submetidos a cargas de vacinas contra doenças tropicais.
Vacina contra Varíola
Vacina contra Febre Amarela




Cabe registrar ainda, que o militar ao ser identificado com doença venérea, era medicado e imediatamente recolhido a uma barraca cercada de concertinas, onde dependendo da sua ficha disciplinar, poderia cumprir até 30 dias isolado, tendo em vista que o uso dos preservativos era obrigatório em regulamento.
Situações de maiores gravidades no campo da saúde, como ferimentos graves por arma de fogo, acidentes , ou doenças súbitas, quando o apoio local americano não desse conta , o militar estropiado era conduzido para Hospitais em Puerto Rico.


Finalmente cabe registrar nessa área, que o brasileiro, muitos de origem espirita, em busca de curar males de saúde através de recursos paralelos, como já o faziam no Brasil, muito em breve estariam participando de sessões de espiritismo caribenho na Rep Dom ,  e inclusive alguns se iniciando na difícil e tormentosa seita afro/caribenha do  VODU, trazendo inclusive para o Brasil,  orações especiais, técnicas, artefatos, patuás, sequencias de procedimento, etc,  tornando-se grandes feiticeiros até os dias de hoje.  

A comunicação era muito difícil, afinal não existiam telefones fixos nem celulares, e muito menos internet. Durante toda nossa estada, podíamos em um esforço de guerra do Exercito brasileiro, falar uma vez com nossas famílias no Brasil. Participávamos de uma longa fila de inscrição, e quando chegava a data, nossas famílias eram deslocadas para o Edifício que hoje é o CML (não tenho certeza).


Em um determinado dia e hora, acessávamos por alguns minutos um radio no interior da Companhia , em nosso Acampamento Rep Dom, e falávamos com grande emoção, por alguns minutos com nossos familiares, tudo muito rápido e emocionante.


Foto padrão, da Revista Realidade de 1965, onde o velho Sargento sai emocionado da cabine de radiotelefonia montada no Acampamento Rep Dom, após falar com sua família 


O restante das comunicações era feito por cartas. Havia todo um cerimonial, incluindo envelope próprio, peso máximo, endereços padrão, informações e noticias que não podiam  ser transmitidas, datas certas para enviar e receber. No inicio da Campanha inclusive, o Exercito forneceu envelopes padrão. Além das cartas ,alguns sortudos, uma vez ou outra,  também recebiam pacotes de produtos brasileiros de seus familiares.


Envelope padrão fornecido pelo Exercito na Campanha da Republica Dominicana.
 

A Campanha foi mais fugaz do que esperávamos. Após 6 meses de muito empenho, experiência, conhecimento adquirido e glória, quando demos por nós, já se aproximava a data do retorno. Os Aviões Hercules C- 130, já se preparavam para esse triste momento.
Este episodio,  inclusive, sempre é mencionado pelo meu amigo Cabo Adilson, hoje brilhante Advogado no Município de São Gonçalo, que sempre relembra em nossos encontros trimestrais, que na semana de nosso retorno, ouviu de mim, "que eu estaria muito chateado porque havia me adaptado aquela situação extraordinária, e que gostaria de permanecer por um longo tempo a mais na Campanha Dominicana"." Eu teria dito a ele, que uma das minhas frustrações, era que eu queria ter participado de mais momentos de ação".

Poucos casos de militares brasileiros atacados e feridos chegaram a nosso conhecimento, o que não ocorria com, como já citado os militares americanos, que eram alvos preferenciais dos homens rãs.  Recordo-me bem do Cabo Bessa, que teve o seu Jipe lançado ao ar por uma  granada, sofrendo sérios ferimentos inclusive na cabeça, e do Soldado Paulo Boechat Pereira, que teve parte da ossatura da perna destruída por disparos inimigos, tendo sido socorrido em Hospital americano, em Porto Rico.
Porém, futuramente ao pesquisar, cientifiquei-me da relação abaixo, aos quais presto toda minha homenagem:
 
Mortos no cumprimento da missão : 3º Sgt Paulo Barreto de Mendonça- CFN
                                                       
                                                                    Cb Ari Henrique de Oliveira- I/RESI
                                                                  
                                                                     Sd Josias Moraes de Assis-I/RESI


                                                                      
                                                                   Sd Naum Lopes de Souza




Feridos no cumprimento da missão:  1º Ten Raimundo Santabaia Martins


                                                                   2º Ten José Carlos João
                                                                  
                                                                   2º Sgt Ruy Torres da Silva


                                                                   Cb José Figueiredo Crespo Filho


                                                                    Cb Wanderley Nicanor de Paiva


                                                                     Cb Vicente Trotta


                                                                      Sd Paulo Boechat Pereira, e


                                                                      Sd Custodio Fernandes da Cunha, todos do I/RESI



A vida continuou. Com o passar do tempo, viemos a saber, realmente o por quê  e o para que, fomos parar naquela Ilha tão longínqua do Caribe.

A época, a Teoria do Dominó, estava em franca implantação e expansão.
O Vietnã fervia na Ásia, a Rússia firmava cada vez mais seu Bloco Ideológico Expansivo. A Revolução Cubana implantada em 1959, por Fidel Castro, havia posteriormente optado pelo Bloco Soviético, e a sua Base física, ficava  há poucos quilômetros do Estado da Flórida, nos EUA.  
A morte do Presidente Dominicano, Rafael Leônidas Trujillo, por assassinato, deixou a Republica Dominicana fragilizada Politica, ideológica e Administrativamente.


Rafael Leonidas Trujillo, com o chapéu ao peito


Qualquer análise, por mais superficial que fosse, apontaria, que a Republica  Dominicana seria a próxima região a se comunizar.  Na sequência logica  do dominó iriam, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Haiti, etc. Tudo isso no quintal dos EUA, tudo isso ameaçando o Canal do Panamá.
Tudo isso com uma America do Sul contígua,  de proporções gigantescas e clima politico- ideológico fervilhante, separada apenas por uma grande floresta tropical. Nada no entanto,  que pudesse se opor a força de ideias, mesmo alienígenas. 

E lá fomos nós, no verdor de nossos 18 anos,  empunhar fuzis e lutar pela  liberdade e democracia mundiais, mas também legitimar o posicionamento da participação dos EUA na ocupação da República Dominicana.

E fizemos a nossa parte, creio. 


( Continua)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Mensagem aos Herois Sociais da bicentenaria Divisão Militar da Guarda Real de Policia







A Corporação de Policia Ostensiva mais antiga do Cone Sul, vive um dos momentos de maior crise de sua existência. Não é momento de omitir-se, mas também não  o é , de   ignorar seus pilares básicos da Hierarquia e Disciplina, de preservadores da Lei e da Ordem. Caros descendentes de Vidigal e Castrioto. temos como responsabilidade maior dois deveres viscerais, não permitir que nossas viúvas, órfãos, feridos em combate, cadeirantes por balas criminosas, morram de fome, e ao mesmo tempo manter sob o controle das lideranças castrenses o ímpeto desregulador do bom senso. Nosso referencial maior, é , e sempre terá que ser, o Art 144 
da Constituição Federal. Somos seu maior guardião. É dele que temos que retirar a inspiração para que atinjamos o estado da arte de nossa razão de ser profissional e nossa felicidade pessoal. 
Que o poderoso Deus de Todos  os Exércitos ilumine os passos e as decisões  de todos aqueles que " enfrentam a morte, e se mostram forte no que acontecer".
Segue mensagem ao Ten PM Da Silva:


Wilton Ribeiro
Mensagem enviada ao Guerreiro Ten Da Silva em razão de seu vídeo postado hoje em frente ao prédio da ALERJ:
Wilton Ribeiro · 11:09 Bom dia caro Ten Da Silva. Impecável seu posicionamento com respeito a posição institucional da bicentenária PM de Vidigal e Castrioto. A missão primordial e constitucional de nossa Corporação terá sempre que ser cumprida. O Art 144 da CF é o seu balizador maior. A hora que não mais o for, tudo se acabará. Que não se confundam as coisas. A PM fardada e armada com missão constitucional e Comando Próprio, conseguido a duras penas, nunca titubeará em sua missão maior. Àqueles que não conseguem ter essa visão, ....... lamento muito.
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Cel PM Wilton Ribeiro- Foi Cmt Geral da Corporação




domingo, 13 de novembro de 2016

RECUERDOS DE LA REP DOM

                                          
                                       RECUERDOS DE LA REP DOM









 




                                                      
                                            ESCANINHO DE RECORDAÇÕES 

    

      O resumo da presente narrativa foi apresentada por este Oficial, em palestra, durante a cerimonia de comemoração dos 50 anos da Campanha do  FAIBRÁS na Republica Dominicana, no Quartel do 57º BI Mtz, saudoso REI "Cara de Tigre",  em 8 Out 2016, a convite do Cel Fernandes , seu
Comandante.
                                                           1 ª PARTE



A Campanha Dominicana, sob a ótica do Cabo n°612 Wilton, QMG-001, QMP-007, Chefe de Peça e Atirador de Metralhadora Browning .30, refrigerada a ar.
 

 

Em uma manhã cinzenta e chuvosa do mês de Novembro do longínquo ano de 1965, 800 jovens, tendo aos ombros um robusto Saco VO ( Verde Oliva), oriundos, na maioria dos Municípios de Niterói e São Gonçalo, no antigo Estado do Rio de Janeiro, embarcaram fardados de verde-oliva, em Aviões Fairchild C-82/C-119, de dupla fuselagem, na Base Aérea dos Afonsos, rumo ao distante Caribe, América Central. 

O orgulho e a alegria estampados em seus rostos, não escondiam porém, traços de preocupação com as próprias vidas e as de seus companheiros, amizades recém-construídas no saudoso Regimento Araribóia, o 3° RI, situado em São Gonçalo,  onde nos havíamos apresentado para cumprir nosso serviço militar. Afinal poderia ser apenas um  passeio, mas então , por quê estaríamos carregando conosco, Fuzis, Metralhadoras, Bazoocas e até Canhões ?



Havíamos sido escolhidos pelo Estado Maior das Forças Armadas, no inicio de nosso recrutamento normal,  para compormos o Segundo Contingente da Missão FAIBRAS. Após, um mês no REI ( Regimento Escola de Infantaria), situado na Vila Militar, em Marechal Hermes, sendo quase na sua totalidade do tempo, em exaustivos exercícios de campanha, no Campo de Instrução de Gericinó, estávamos impregnados até a alma do sentimento da “CARA DE TIGRE”, símbolo daquela OM (Organização Militar).


Não éramos de todo crus no entanto. Nosso Cmt, Coronel Milton Tavares de Souza, herói na Segunda Guerra  Mundial, como Capitão, sabia da importância do lema:  " INSTRUÇÃO DURA, COMBATE FACIL".  Havíamos incluído na 6 ª Cia de Infantaria, a qual, naquele ano fora escolhida para sediar o CFC ( Curso de Formação de Cabos), tendo em vista que uma nova metodologia havia sido implantada, e assim havíamos feito testes e provas, antes de incluirmos definitivamente, de tal forma ,que  os selecionados já iniciavam o recrutamento no CFC. Desde o inicio das atividades ,   os exercícios de campanha no Morro do Castro, na Cova da Onça e na região Oceânica de Niterói,   acompanhados de Acampamentos , Bivaques , Marchas Preparatórias e Táticas e Exercícios de Tiro povoavam nosso tempo com incrível intensidade.

Um belo dia , o Cap Barros Cmt da 6ª e do  CFC, organizou um Torneio de Tiro de Fuzil  Mauser 1908, Cal 7mm, no Stand da Pedreira , interior do aquartelamento. O W de minhas iniciais, me levaram a ser o último a atirar. Como tínhamos que disparar cinco tiros em cada posição, ( de pé, ajoelhado, sentado e deitados), minha vez chegou já no cair da noite. Os nomes dos melhores classificados até o momento ja estavam listados. Alguns Fuzis em melhores condições haviam sido separados e colocados encostados  em uma parede lateral. E lá fui eu, com o andar de matuto de São Gonçalo,  em direção ao dispositivo. Ouvi a voz inconfundível do Sargento Souza, o qual em seu tradicional caminhar na ponta dos pés, gritou, " Sua vez 2231. Acabe logo com isso que  os campeões querem disputar logo a final". Me concentrei, trouxe a chapa da soleira fortemente junto ao ombro direito, enquadrei alvo, massa e alça de mira, o dedo iniciou o lento puxar do gatilho. Ai aconteceu, quando dei por mim estava mentalizando minha falecida mãe e pedindo de forma extremada seu apoio, de forma silenciosa,  para que eu fizesse uma boa prova. Não sei por que até hoje fiz isso, embora em outras situações difíceis, sua imagem e nome sempre me venham  a cabeça.
Terminei calmamente toda a sequencia exigida. A noite daquela Sexta feira já nos abraçava. Sentei-me junto a uma parede branca, estava suando. E queria que tudo logo acabasse. Queria ir para casa.  O Soldado tem faro, senti cheiro, de quebra de rotina. Vozes se alteravam, Sargentos iam e vinham entre os alvos e as posições de tiro, pediram outro Escantilhão ( aparelho para medir concentração de tiros). Os Oficiais que estavam ainda na Linha de Tiro, todos se dirigiram para linha de alvos. O primeiro a me dar a noticia, foi o meu Sargento de Pelotão , o saudoso Souza, o qual de forma apaisanada, me deu um forte abraço dizendo, " Parabéns matador, voce acertou quase tudo no 5X, vai ganhar a medalha". A seguir aproximou-se o Cap Barros, Cmt da Cia e , incrivelmente vaticinou. " Parabéns 2231, se algum dia formos para a guerra voce será meu guarda-costas. Em rápida formatura logo após, recebi minha medalha de honra ao mérito, a qual guardo com carinho, até os dias de hoje.

  

Nossa geração havia sido premiada com a patriótica missão de representar o Brasil, compondo o Destacamento FAIBRÁS (Destacamento Brasileiro da Força Armada Interamericana, na República Dominicana), valor Batalhão, o saudoso I/REsi ( Primeiro Batalhão  do Regimento Escola de Infantaria), do Exercito Brasileiro, juntamente com um Grupamento Operacional, valor Companhia reforçada , dos indômitos Fuzileiros Navais, os quais passariam a compor o Batalhão Fraternidade, ao se integrarem com representações de outros Países.

Juntos, jovens dos EUA (Valor Divisão Aerotransportada), Paraguai, Nicarágua,  Honduras (valor Companhia) , Costa Rica (Valor Pelotão). e El Salvador ( um pequeno grupamento) .Tal contingente, enquadrava-se, juntamente com os representantes do ITAMARATI, entre eles o Embaixador Ilmar Penna Marinho,  na estrutura da FIP (Força Interamericana de Paz), da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Embaixador Ilmar Penna Marinho e Gen Div Bruce Palmer Junior, do Ex Americano e Sub Cmt da FIP
 

O motivo real da Missão, só viríamos a saber  muito depois. Nossos 18 anos e nossas localizações geográficas, relativamente interioranas, não nos permitiam acompanhar as nuances politico-ideológicas do momento. Estávamos servindo a Pátria, e por lei, estrutura  e conjuntura, iriamos para onde as normas, o dever patriótico e as vontades superiores nos mandassem.


E assim foi. No peito de todos nós porém, um surdo e vibrante orgulho nos faziam vivenciar sentimentos felizes.

Hoje, essa viagem de cerca de 6.000 km, cobrindo a distancia Brasil-República Dominicana, é feita em poucas horas.

A época, nosso avião, um garboso sobrevivente  da Guerra da Coreia, um C-119, o famoso "Vagão Voador", da heróica  FAB, tinha algumas limitações. Parou em Brasília para reabastecimento e pernoitou no distante Estado amazônico do Pará, para igual providencia e revisão no maquinário. Dormimos na Base Aérea.  Dia seguinte, rumo ao Caribe. Problemas técnicos, no entanto na Aeronave, obrigaram-na a aterrissar na antiga Guiana Holandesa, onde permaneceu algumas horas para reparo.

Tudo era novidade, fardados 24 horas por dia, nos sentíamos como Legionários do filmes épicos , muitos de nós bem armados, afinal, éramos a primeira Tropa brasileira  a exibir o Fuzil FAL Calibre 7.62mm de fabricação Belga, arma moderníssima a época, e substituta do carcomido Fuzil Mauser, de repetição, modelo 1908, Alemão.

Por volta das 4 horas da tarde do dia seguinte, aterrissamos no Aeroporto San Izidro, em  Santo Domingo, Capital da República Dominicana.
Aeroporto de San Izidro- Santo Domingo


Obs.: Cabe registrar, que antes de pisar no Teatro de Operações, já tínhamos tido algumas baixas leves durante o voo. Sejam pelos seguidos vácuos em que os corpos dos passageiros, soltos dentro do avião, batiam com suas costelas, cotovelos e cabeças em qualquer obstáculo rígido mais próximo, assim que o avião encontrava sustentação novamente  na camada de ar mais baixa,  assim como, um ferimento singular que o Cabo Adilson (Macarrão) conseguiu ao encostar o seu nariz, distraidamente,  no parafuso da escotilha, para vislumbrar o Aeroporto que se descortinava , ao longe, tendo tido seu apêndice nasal quase dilacerado em um desses vácuos. Interessante como uma densa e grande mancha de sangue,  oriunda do acidente, pairava no ar, flutuando e fazendo com que vários militares, inclusive eu, que estava ao seu lado,  se contorcessem para não serem atingidos por ela. Não adiantou, no momento em que o Avião se estabilizou, milhares de gotas vermelhas imediatamente cobriram as fardas de todos que estavam perto.  Dali , nosso estropiado, seguiu para um hospital americano, com o rosto coberto de sangue, tendo se incorporado ao Grupo semanas depois. Sim, tínhamos um Grupo, os meses iniciais na Caserna já haviam se encarregado de selecionar alguns companheiros. A amizade solidificou-se à sombra de barracas militares, tavernas esfumaçadas, bares musicais e árvores dominicanas, suores e tensões, cheiro de pólvora , gás lacrimogênio e  medo, um inicial , angustiante e logo superado  medo,  e foi mantida até os dias de hoje. Passados 50 anos, ainda se reúnem trimestralmente em Niterói, os Cabos Coreixas, Adilson, Vaz,  Aires, Eleir, Bessa,  João Carlos, Alcebíades e eu ( praticamente um GC ). Ainda nos emocionamos ao contarmos, repetidas vezes,  nossas historias, sempre aumentadas é claro.

O primeiro impacto que tivemos ao descer na pista do Aeroporto, foi ao ter contato com os militares do Primeiro Contingente,  que iriamos substituir, os quais haviam partido para a missão 6 meses antes,  quase juntos com a Tropa do Exército Americano,  que realizou o primeiro desembarque na Ilha Espanhola. Seus óculos escuros, de grife,  seus capacetes de aço, camuflados,  com elásticos, onde se prendiam maços de cigarros americanos e europeus, bem como caixas de chicletes , estojos de óculos e pequenos vidros de protetor solar, juntamente com seus trejeitos marrentos de veteranos, e linguagem entremeada com termos em espanhol, bem suas gandolas por fora das calças, e as mangas das mesmas dobradas ate os cotovelos,  decididamente nos impressionaram bastante.
O segundo impacto foi o trajeto em comboio, em numerosos Caminhões com lonas arriadas, sentinelas vigilantes e tensas, do Aeroporto até nosso acampamento principal. Os Jeeps e Pick-Ups que iam a frente como ponta do dispositivo,  tinham " Pescoços de Ganso" soldados nos para-choques com a finalidade de se prevenirem contra armadilhas de arame farpado, decapitadoras de cabeças de motoristas ou guarnições  distraídas. Os grandes Check-Points, enormes Postos de Controle de Transito de Pessoal e/ou Carros, construídos com sacos de areia, e as  seteira com armas ostensivamente  apontadas e as altas e longas formações de Concertinas perimétricas  ,  localizados nas extremidades da ponte do Rio Ozama, e em outros pontos do "Corredor de Segurança", sinalizavam um clima de guerra.  


Os prédios com marcas de metralha e enormes buracos provocados por armas de fogo de grosso calibre, bem como as cabeças ameaçadoras nas lajes e tetos dos sobrados e de edifícios maiores, de onde continuamente se ouvia os gritos  “GO HOME” e "  YANKEES GO HOME",  também nos impactaram sobremaneira. Soubemos inclusive depois, que as manifestações também tinham lugar em outros Países, como a Guatemala , por exemplo.

( Continua)

RECUERDOS DE LA REP DOM ( Capitulo II )


                                    Escaninho de Recordações


                                                                2ª Parte






Transposição da Ponte do Rio Ozama

Assim, chegamos em comboio de caminhões lonados ao lado da Favela Mata Hambre. A área de nosso acampamento principal, conhecida como Região de Feria, era exatamente contigua   a rua da favela. Ao alto o majestoso Hotel Embajador.
 
A partir dali, estávamos incorporados à Segunda Companhia de Infantaria do Batalhão São Domingos, I/REsi, Companhia que tinha como símbolo o filhote de demônio “Brasinha”, pois era conhecida como “Incendiária”, em razão de uma operação em que seus tiros de Canhão 106, incendiaram um posto de gasolina que servia  combustível, regularmente,  para que os rebeldes fabricassem seus Coquetéis Molotov, bombas incendiarias artesanais que eram seguidamente lançadas sobre a Tropa.  Os rebeldes estariam concentrados em fortificação contigua ao Posto, o que motivou os disparos do 106 SR.  


Da favela Mata Hambre , teríamos com o tempo,  uma fonte inesgotável de artigos não convencionais, desde o delicioso Pollo com Papa Fritas, a lavagem e remendos de nossas Fardas, bem como cortes de cabelo por Peluquero/as,  que vinham até o Check Point das entradas das Companhias. Mas vez ou outra,  vinham balas também , sempre a noite tiros eram ouvidos nas proximidades do Acampamento. Nunca consegui saber se oriundos de rebeldes ou de criminosos comuns. 
   


A Primeira Companhia tinha a alcunha de “Guerreira”, por sua capacidade combativa, principalmente por ocasião  da tomada da área do Palacio Nacional, e   a Terceira era a “Pioneira”, em razão de seus homens terem sido os primeiros a pisarem solo caribenho.
Barracas de 10 Praças ao
 fundo
Cada Grupo de Combate ocupou uma barraca lonada para 10 homens. Uma cama de lona e molas, conhecida pela marca Drago e um baú de madeira de fina espessura, eram todo o nosso mobiliário. Rapidamente cinzeiros improvisados de latas de cerveja, desconhecidas por nós até aquele momento, e arames de caixas do Rancho,  surgiam a cada momento no interior das barracas, bem como cabides improvisados com o mesmo material.  Nosso  aparato bélico, nossos mais próximos e definitivos companheiros, nos fariam companhia  por toda a longa jornada. Dormiam a nosso lado,  sempre limpos e manutenidos com óleo próprio. Três barracas para cada pelotão, 10 a 15 barracas abrigavam uma Companhia (haviam também as da Administração, do PPL - Pelotão de Petrechos Leves, do Rancho, dos Sargentos, dos Oficiais, das latrinas,  das casas de banho). Cada área de Companhia possuía um Corpo da Guarda independente, com acesso para o exterior. Na 3ª Cia funcionava uma Cantina rudimentar.
Interior de nossas barracas



A partir daí a rotina foi implacavelmente implantada.

Durante dez dias, ocupávamos Pontos Estratégicos na “Linha de Frente”, que eram posições em sistema de Acantonamento, normalmente situados na cobertura de prédios abandonados. A linha imaginária que ligava esses pontos era a linha delimitadora entre a zona ocupada pelas Tropas legais e a Zona Rebelde, comandada a principio, pelo Coronel do Exercito Dominicano Francisco Caamaño Deño.
 Haviam na parede da S/3 do Batalhão, com cópias nas Companhias, alguns mapas rudimentares que mostravam as divisões em Zonas, Áreas e Setores Operacionais, tais como " Zona Rebelde", "Zona Desmilitarizada", "Ciudad Nueva",  "Corredor de Segurança" , etc.. Ocupávamos também locais considerados como Instalações Vitais ou Estratégicas, como Centro de Abastecimento de Agua, Usina de Energia Elétrica, alguns prédios federais, inclusive durante um período o Palácio do Governo, empresas de radio fusão,  como as Radios Santo Domingo e Guaratita, etc.


Linha de Frente, Praça Independencia
Linha de frente, Cemitério Velho.
Linha de frente, próximo ao Panteón dos Heróis, Calle El Conde.


Durante o dia, normalmente, os problemas eram relativos à CDC (Controle de Distúrbios Civis) nas ruas da Cidade, nessas situações empregávamos os conhecimentos adquiridos em instruções de Operações Tipo Polícia, que no final resumiam-se ao emprego de muito Gás CN (Gás lacrimogênio/ Cloro-acetofenona), tendo em vista que uma das técnicas empregadas pelos manifestantes era a " Fuga do Cavalo Doido". Vinham caminhando normalmente gritando palavras de ordem, de repente a um grito de lideranças, partiam em alta velocidade em direção às Patrulhas, buscando semear o pânico e o terror. No inicio houve certa desorganização em nossos efetivos, mas com o tempo, aprendemos a trabalhar emassados e lançávamos muitas granadas de gás, aos primeiros sinais do " estouro da Boiada", além de sempre procurarmos abrigos em obstáculos urbanos ao nosso alcance, uma vez que pelo efetivo e as características das Manifestações seria impossível praticarmo as Formações de Controle de Tumulto.
Distúrbio Civil
  

 Uma das ocorrências que bem me recordo, deu-se perto do Posto de Vigilância que ocupávamos, em frente ao Cemitério Velho , por ocasião do sepultamento da jovem Salomé Ureña, que havia sido morta por balas disparadas pela Policia local, em um embate de rua, onde os estudantes reclamavam melhores condições de ensino. Durante o enterro, em março de 1966,  com o Cemitério tomado por grande número de pessoas, ouviu-se vários disparos de armas de fogo, oriundas de armas rebeldes. Os familiares da jovem bem como os acompanhantes iniciaram debandada geral. Nosso Pelotão, o 3º da 2ª Cia que estava próximo foi empenhado, no controle da situação. Não me recordo se houve disparos de nossa parte, mas a Revista AHORA !!, que cobria o evento, escreveu:


" Tropas de la llamada  Fuerza Interamericana de Paz, intervinieron em el assunto y la balacera se extiendió hasta las calles aledañas al cementerio viejo y el Parque Independência. Los soldados invasores brasileños fueron los mas activos em este desagradable incidente. " 
Ocorrência no Cemitério Velho






Éramos empregados também em longas patrulhas a pé, com roteiro definido, normalmente reconhecendo a linha limite denominada " Linha de Frente". Em uma dessas Patrulhas, eu e os  Cb Vaz  e João Carlos ( Lotar)avançamos demais no território rebelde e fomos parar na Zona do Cais do Porto, área quase totalmente sob domínio das forças do Cel Camaño.  Assim que percebemos, retornamos quase em marche-marche , durante vários Quarteirões para nossa Área de Segurança, felizmente sem nenhum incidente.
Area do Porto, Rio Ozama/ Zona Rebelde/ Havíamos  ultrapassado  a Linha de Segurança

Patrulhamento  Urbano


A preocupação com os Franco-atiradores era permanente. A figura do Rebelde com arma longa,  escondido em escombros ou janelas escuras, sempre prontos a rebentar nossas cabeças  com tiros certeiros, povoavam a principio nosso sonhos e as vezes nossa realidade. Nessas ocasiões sempre chegavam as noticias de americanos atingidos, ou então degolados, pelo não menos temíveis Homens -rãs, especialistas em silenciar sentinelas. Diziam que eram treinados em Cuba. O que nos confortava era que o espirito amistoso dos brasileiros, sempre em contato cordial com os habitantes locais,  os mantinham longe, os alvos realmente eram os americanos do norte.     


Idem
A noite, normalmente, às vezes, de forma curta, e as vezes duradoura, ouviam-se tiros , a maioria vindo do outro lado do Rio Ozama ou da contígua Zona Rebelde, na  Ciudad Nueva Quando era possível identificar o foco, com relativa proximidade, recebíamos ordens de responder com fogo, se estivéssemos a cavaleiro, mas, como normalmente os rebeldes usavam armamento acoplado a Jipes ou Caminhonetas, e a cada sessão de tiros mudavam de lugar, então não teria eficácia responder ao fogo nessa situação, ficávamos somente abrigados. Apenas uma vez, me recordo, que eu, como Cabo Atirador Chefe de Peça de Metralhadora Browning .30, localizei e enfiei um foco de tiros inimigos durante a noite, o que permitiu com que o então Cabo João Carlos ( Lotar), Atirador de Lança Rojão 3.5, fizesse 2 disparos para o outro lado do Rio Ozama, não sabemos o resultado até hoje.

A cada 10 dias éramos substituídos pelas outras Companhias do Batalhão, retornávamos então ao acampamento, e após dois dias de descanso, iniciávamos intermináveis períodos de instrução. Assim, os acampamentos provisórios na localidade de San Cristobal e nas montanhas limítrofes com o Haiti eram rotineiros. Lá, aprendíamos e treinávamos com afinco, Técnicas de Sobrevivência, Transposição de Obstáculos, Orientação, Pistas de Aplicação, Pistas de Ação e Reação, Instrução de Combate em Montanha, Instrução de Tiro de diversas armas, alguma tintura de Guerra Revolucionaria  e técnicas de Guerrilha e Contra Guerrilha e muita, muita Técnica de Patrulha, etc.
Instrução na Selva Dominicana/ San Cristobal
Instrução na Selva Dominicana/ San Cristobal
Instrução nas Montanhas Dominicanas/ Fronteira  com o Haiti
Idem
Instrução na Selva Dominicana/ Base de Patrulha em leito de rio seco






Cabe registrar com muito orgulho, termos sido a primeira Tropa a aprender as Técnicas de Assalto Aéreo (Operações Helitransportadas), instruções realizadas com instrutores americanos, em seus magníficos e inesquecíveis Helicópteros chamados pela Tropa de “Sapão”. Chegamos a treinar  inclusive esquema de sinalização para lançamento de Cargas de Grande Volumes.


Operações Helitransportada/ Assalto Aereo
Idem
Idem / lançamento de carga



Obs.: Os treinamentos iniciais eram realizados na Cidade,  em uma grande área aberta, em um antigo Campo de Polo cujo nome não mais me recordo. Após duas  ou trê series de treinamento, éramos então transportados para a área  de montanha e selva , já nos arredores de San Cristobal, onde repetíamos exaustivamente os exercícios. 



Cada helicóptero transportava um Grupo de Combate, que mesmo após repetidas orientações nas instruções iniciais, por mais que os instrutores americanos informassem que, só descêssemos  da Aeronave quando essa tocasse o solo, o que se viam eram brasileiros lançando-se da altura de 1 ou 2 metros, para se posicionarem na formação em leque, para proteção do aparelho antes de iniciarem o deslocamento para o objetivo. Mercê de alguns joelhos ou tornozelos torcidos, essa postura a principio irresponsável, duramente criticada, produzia na pratica, uma diminuição considerável no tempo da Operação, além de aumentar a segurança da Aeronave, tendo em vista que permanecia menos tempo no solo. Passado algumas sessões, os instrutores americanos começaram a aceitar essa postura e incorporá-la como correta, pelo menos para Tropa brasileira. ( CONTINUA)