ESCANINHO DE RECORDAÇÕES
4ª Parte
( Continuação)
A capacidade combativa dos rebeldes, sob nossa ótica de ponta de linha, era muito fraca. Pelo que sabíamos o grosso dos revoltosos estava grupado em uma zona delimitada pelas forças legais , denominada de Zona Rebelde", que era tipo um grande Bairro formalmente chamado de Ciudad Nueva de Santo Domingo, já demarcado em mapa postado no Capitulo 3.
Recebiam ordens do Cel Camaño, e se intitulavam constitucionalistas. Nós os chamávamos simplesmente de Rebeldes.
A importância estratégica dessa área, era que ali ficavam, a parte do comercio mais adensado, o Cais do Porto e a Zona Bancaria.
Nos limites haviam Checks Points , mas como era fronteiriça ao Rio Ozama, tinham total liberdade na parte fluvial, do que utilizavam para transporte clandestino de viveres, armamento e munição, sem qualquer tipo de controle, a não ser esporádicas passagens de Barcos Patrulha do Exercito Americano.
Para nós era terminantemente proibido em gozo de folga, siquer nos aproximarmos daquela área. Em nossas instruções formais eram-nos passado por nossos Oficiais, que o efetivo opositor, estava estimado entre 1500 a 2000 homens em armas. Havia também considerável parcela da população civil, que portava armas rudimentares, apoiando o movimento da facção de Camaño Deño .Naquela área, montavam guarda 24 horas nos seus limites . Usavam os mesmo tipos de PCTran, Concertinas e saturavam trechos com minas anti-pessoal e anti-carro.
Como já disse, circulavam livremente por nossas barreiras durante o dia, desde que não estivessem armados. Isso facilitava seus serviços de informações.
Um grupo chamado Los Tigres usava essas informações para identificarem e rasparem os cabelos e aterrorizarem moças nativas que estivessem namorando com as Tropas, que chamavam de invasoras. Costumavam também deixa-las, além de carecas, com o corpo semi- desnudo, cabeças e rostos pintados de vermelho e portando cartazes alusivos ao ato praticado. Isso nos revoltava muito , porquanto o brasileiro com sua capacidade de fazer amigos de forma rápida, era um fator de melhoria de clima de tratamento, onde quer que fosse em território Dominicano. Tratávamos toda a população bem, e éramos da mesma forma respeitados, tirante os ideológicos "Brasileños Go Home".
Por falar em ideologia , cabe citar uma ocorrência de cunho humanitário que ocorreu comigo tendo como testemunha o Cb Vaz.
Cobríamos um Posto de Segurança na Sede da Radio Santo Domingo, e havíamos acabado de jantar. Já havia observado, que dois ou três niños, estavam a rondar a porta dos fundos do Posto.
Primeiro fiz um reconhecimento, tendo em vista que havíamos sido advertidos, que crianças, usando os mais diversos subterfúgios, inclusive pequenas caixas de engraxates, eram frequentemente utilizadas pelos rebeldes para roubarem armamento, peças de fardamento, munição, etc, da Tropa regular. Chamei-os, maltrapilhos, vieram e sem que eu me pronunciasse outra vez, começaram a chorar, em soluços, : " Amigo brasileño, tenemos mucha hambre, desde ayer no comemos nada, ayudenos, por fabor". Não quis saber de mais nada, mandei-os aguardar, protegi meu fuzil, e imediatamente chamei o Cb Vaz para me ajudar, o qual também não titubeou, e em uma fração de segundos , um lauta refeição estava servida no batente da escadaria dos fundos da Radio Santo Domingo.
Quando saíram, ainda levaram alguns dólares, que eu e meus companheiros lhes ofertamos.
Agora é que vem o problema ideológico. Um Fotografo, da própria Radio Santo Domingo, ao passar pelo local, fotografou a cena e vendeu para um Jornal local de oposição. Manchete no dia seguinte : "Brasileños serven comida arruinada a los ninõs dominicanos ". Como " arruinada" , se todos nós, minutos antes havíamos consumido aquela mesma comida? Guerra Psicológica....., e eu entendia muito pouco, ou nada dessa guerra. Mas se tivesse que repetir a ação praticada, o faria.
Resultado, Cabo 612 Wilton , novamente na "hora do pato". Felizmente terminou tudo bem.
E bem até demais. É que, em nosso próximo período de folga, dez ou quinze dias depois do ocorrido, estávamos, como sempre em grupo, buscando Pontos Turísticos, Bares, ou lugares característicos para fotografarmos, quando na porta de um Bar, ou seja o" Barra El Twist", na parte permitida de La Calle El Conde, três niños, com caixas de engraxates, atravessaram a rua correndo em minha direção. Cab Wilton, Cab Wilton, gritavam a toda voz. Meus companheiros e eu também, entramos em guarda imediatamente. Foi quando o Companheiro Vaz gritou pra nós , calma !!!, calma !!!, são as crianças lá da Radio Santo Domingo. Desfeito o susto, abraçaram-me, e ao Cb Vaz , e fizeram questão de engraxarem nossos Coturnos de graça. Fiquei muito emocionado.
Menos sorte porém tiveram alguns sentinelas americanos, que conforme já citado, foram degolados por integrantes rebeldes, especializados, denominados de Homens-rãs, e que obtinham também, informações dos posicionamentos yankees , através de suas incursões ostensivas durante o dia , voltando a noite em postura de combate e facas de trincheira afiadas
4ª Parte
( Continuação)
A capacidade combativa dos rebeldes, sob nossa ótica de ponta de linha, era muito fraca. Pelo que sabíamos o grosso dos revoltosos estava grupado em uma zona delimitada pelas forças legais , denominada de Zona Rebelde", que era tipo um grande Bairro formalmente chamado de Ciudad Nueva de Santo Domingo, já demarcado em mapa postado no Capitulo 3.
Recebiam ordens do Cel Camaño, e se intitulavam constitucionalistas. Nós os chamávamos simplesmente de Rebeldes.
A importância estratégica dessa área, era que ali ficavam, a parte do comercio mais adensado, o Cais do Porto e a Zona Bancaria.
Nos limites haviam Checks Points , mas como era fronteiriça ao Rio Ozama, tinham total liberdade na parte fluvial, do que utilizavam para transporte clandestino de viveres, armamento e munição, sem qualquer tipo de controle, a não ser esporádicas passagens de Barcos Patrulha do Exercito Americano.
Para nós era terminantemente proibido em gozo de folga, siquer nos aproximarmos daquela área. Em nossas instruções formais eram-nos passado por nossos Oficiais, que o efetivo opositor, estava estimado entre 1500 a 2000 homens em armas. Havia também considerável parcela da população civil, que portava armas rudimentares, apoiando o movimento da facção de Camaño Deño .Naquela área, montavam guarda 24 horas nos seus limites . Usavam os mesmo tipos de PCTran, Concertinas e saturavam trechos com minas anti-pessoal e anti-carro.
Como já disse, circulavam livremente por nossas barreiras durante o dia, desde que não estivessem armados. Isso facilitava seus serviços de informações.
Um grupo chamado Los Tigres usava essas informações para identificarem e rasparem os cabelos e aterrorizarem moças nativas que estivessem namorando com as Tropas, que chamavam de invasoras. Costumavam também deixa-las, além de carecas, com o corpo semi- desnudo, cabeças e rostos pintados de vermelho e portando cartazes alusivos ao ato praticado. Isso nos revoltava muito , porquanto o brasileiro com sua capacidade de fazer amigos de forma rápida, era um fator de melhoria de clima de tratamento, onde quer que fosse em território Dominicano. Tratávamos toda a população bem, e éramos da mesma forma respeitados, tirante os ideológicos "Brasileños Go Home".
Por falar em ideologia , cabe citar uma ocorrência de cunho humanitário que ocorreu comigo tendo como testemunha o Cb Vaz.
Cobríamos um Posto de Segurança na Sede da Radio Santo Domingo, e havíamos acabado de jantar. Já havia observado, que dois ou três niños, estavam a rondar a porta dos fundos do Posto.
Primeiro fiz um reconhecimento, tendo em vista que havíamos sido advertidos, que crianças, usando os mais diversos subterfúgios, inclusive pequenas caixas de engraxates, eram frequentemente utilizadas pelos rebeldes para roubarem armamento, peças de fardamento, munição, etc, da Tropa regular. Chamei-os, maltrapilhos, vieram e sem que eu me pronunciasse outra vez, começaram a chorar, em soluços, : " Amigo brasileño, tenemos mucha hambre, desde ayer no comemos nada, ayudenos, por fabor". Não quis saber de mais nada, mandei-os aguardar, protegi meu fuzil, e imediatamente chamei o Cb Vaz para me ajudar, o qual também não titubeou, e em uma fração de segundos , um lauta refeição estava servida no batente da escadaria dos fundos da Radio Santo Domingo.
Quando saíram, ainda levaram alguns dólares, que eu e meus companheiros lhes ofertamos.
Agora é que vem o problema ideológico. Um Fotografo, da própria Radio Santo Domingo, ao passar pelo local, fotografou a cena e vendeu para um Jornal local de oposição. Manchete no dia seguinte : "Brasileños serven comida arruinada a los ninõs dominicanos ". Como " arruinada" , se todos nós, minutos antes havíamos consumido aquela mesma comida? Guerra Psicológica....., e eu entendia muito pouco, ou nada dessa guerra. Mas se tivesse que repetir a ação praticada, o faria.
Resultado, Cabo 612 Wilton , novamente na "hora do pato". Felizmente terminou tudo bem.
E bem até demais. É que, em nosso próximo período de folga, dez ou quinze dias depois do ocorrido, estávamos, como sempre em grupo, buscando Pontos Turísticos, Bares, ou lugares característicos para fotografarmos, quando na porta de um Bar, ou seja o" Barra El Twist", na parte permitida de La Calle El Conde, três niños, com caixas de engraxates, atravessaram a rua correndo em minha direção. Cab Wilton, Cab Wilton, gritavam a toda voz. Meus companheiros e eu também, entramos em guarda imediatamente. Foi quando o Companheiro Vaz gritou pra nós , calma !!!, calma !!!, são as crianças lá da Radio Santo Domingo. Desfeito o susto, abraçaram-me, e ao Cb Vaz , e fizeram questão de engraxarem nossos Coturnos de graça. Fiquei muito emocionado.
Menos sorte porém tiveram alguns sentinelas americanos, que conforme já citado, foram degolados por integrantes rebeldes, especializados, denominados de Homens-rãs, e que obtinham também, informações dos posicionamentos yankees , através de suas incursões ostensivas durante o dia , voltando a noite em postura de combate e facas de trincheira afiadas
O rigor do combate propriamente dito, havia ficado sob a responsabilidade do 1 º Contingente a quem tínhamos substituído. Algumas vezes havíamos ouvido historias a respeito da famosa Operação de Ocupação da Área do Palacio Nacional e também da Operação do Isolamento da Ciudad Nueva, onde foi perimetrado o efetivo rebelde. Nessa ocasião a Tropa brasileira havia substituído nos Postos, os efetivos da 82ª Divisão Aerotransportada Americana. Com total sucesso.
Ao nosso Contingente, o Segundo, além de episódicas escaramuças e alguns ataques rebeldes sofridos, uma vez que as ações de guerrilha, alguns sequestros , e atos de terrorismo não cessaram, coube-nos em grande parte a missão de Preservação da Ordem, em toda área de nossa responsabilidade , o que não foi pouco, e nem fácil de ser planejada e executada.
Nosso tempo era bem dosado entre " Linha de Frente", Instrução e algum descanso.
Travamos contato com muitas novidades. Pela primeira vez em nossas vidas tivemos em nossas mãos, maquinas fotográficas de grife, Yashica, Nypon, Laica, bem como a coqueluche da época os Toca- Discos portáteis, à pilhas ou baterias, e os relógios Mido. Artigos para nós baratíssimos. Nas pequenas vitrolas portáteis nunca nos cansávamos de ouvir os sucesso da época. O grande cantor de boleros Roberto Ledesma era o preferido, igualmente o magistral Lucio Cathica. O ritmo que esquentava todos os ambientes, era o Merengue, algo misturado com rumba e a balada de hoje. A Cerveja preferida era a Presidente e os destilados locais eram o Run Brugal e Bermudes. Os puros rivalizavam com os cubanos.
Existia um contêiner no interior do acampamento gerenciado por americanos, no qual fazíamos nossas compras. Para comprar cigarros, cerveja , uisque, batatas fritas, biscoitos especiais e alguns outros produtos como, agulhas e linhas de costura, barbeadores portáteis e spray de espuma de barba, tínhamos uma Tarjeta, um Cartão de Controle com o tipo e a quantidade que podíamos comprar a cada quinzena. Era uma Base de Vendas sem Imposto, explorada pelos americanos, dai os produtos serem muito baratos.
Existia um contêiner no interior do acampamento gerenciado por americanos, no qual fazíamos nossas compras. Para comprar cigarros, cerveja , uisque, batatas fritas, biscoitos especiais e alguns outros produtos como, agulhas e linhas de costura, barbeadores portáteis e spray de espuma de barba, tínhamos uma Tarjeta, um Cartão de Controle com o tipo e a quantidade que podíamos comprar a cada quinzena. Era uma Base de Vendas sem Imposto, explorada pelos americanos, dai os produtos serem muito baratos.
Tudo era novidade , cabe registrar uma passagem muito interessante com o Ten Joaman, quando em uma inspeção em nossa barraca do 3º Pel, ele viu um Soldado usando a espuma do spay de barba, que para nós era totalmente novidade, colocando-a primeiro em um pincel antigo de se barbear, ai comentou: " o americano gasta uma fortuna para pesquisar e industrializar um produto pratico para que passemos a espuma com a mão, direto no rosto, e voce pastel, vai usar o pincel e a cambuquinha do século passado, contrariando toda a tecnologia moderna, ah rapaz !!!!". Nunca mais esquecemos.
O clima no Caribe era bem diferente. Nunca havíamos ouvido falar de furacão, ciclone, tufão e muito menos tsunami. Não sei se, tecnicamente fomos assolados por algum desses fenômenos. Mas eram comuns, temporais fortissimos, imprevisíveis, inesperados. Barracas voando pelo acampamento, pedaços de viaturas rolando pelo terreno, restos de madeira batendo nas canelas, roupas endemoniadas, desaparecendo para o interior da Favela. Ondas altíssimas, e, logo após, um calor escaldante, durante o dia, sempre seguido de um frio penetrante durante a noite.
Com o tempo cada um tratou de comprar a sua capa impermeável, a qual juntamente com o Estojo de Primeiros Socorros, passou a fazer parte do uniforme, sempre presos em nosso Cinto NA.
Muitos, apesar dos remédios de caserna, ficaram gripados no inicio da campanha.
Com o tempo cada um tratou de comprar a sua capa impermeável, a qual juntamente com o Estojo de Primeiros Socorros, passou a fazer parte do uniforme, sempre presos em nosso Cinto NA.
Muitos, apesar dos remédios de caserna, ficaram gripados no inicio da campanha.
A comida
poderia ser considerada boa. Aprendemos a nos alimentar com purê de batata em
pó, embutidos americanos, que a Tropa prontamente batizou de " Guebo de Rebelde". Muito milho enlatado, intermináveis saladas de vagem
cortadas, que queriam nos convencer que era Feijão, e enlatados diversos. O reforço de Rancho era obtido através de clandestinas patrulhas noturnas, que principalmente em noites de chuva, rastejando pelo primeiro processo, incursionavam sob a lona da Barraca de Rancho, em silencio absoluto, sempre trazendo na volta , latas de doces em caldas, embora ás vezes o "bote" fosse mal dado, e o que vinha era a odiada batata em pó, ou as salsichas de quinta categoria.
Nosso rancho era bem montado. Em arquitetura de Campanha, atendia perfeitamente as necessidades. Do lado de fora inclusive, haviam grandes latões com agua fervente para lavagem das bandejas, primando assim pelo asseio individual e consequentemente , menos doenças.
Complementávamos também, com as encomendas de "Pollo com Papa Fritas", normalmente através de nossas lavadeiras de confiança, tendo em vista que por algumas vezes , através de estranhos, havíamos encomendado galinhas, e recebido garças.
É importante dizer que , quando a Aeronave que chamávamos de Carcará, a principio o C-119 e mais para o final, o C-130, Hércules, quando apontavam no horizonte com suas periódicas cargas de feijão preto, arroz, charque , batatas, legumes e frutas brasileiras, era uma festa. Esquecíamos até que eles traziam também nossas tão ansiadas correspondências, cartas dos familiares. Devíamos isso ao saudoso Gen Reynaldo Mello de Almeida
A Gloriosa FAB, realmente teve papel primordial durante toda a Campanha. Registro abaixo uma singela homenagem, publicando uma Mensagem original que recebíamos sempre dos tripulantes do C- 119 :
Nosso rancho era bem montado. Em arquitetura de Campanha, atendia perfeitamente as necessidades. Do lado de fora inclusive, haviam grandes latões com agua fervente para lavagem das bandejas, primando assim pelo asseio individual e consequentemente , menos doenças.
Interior do Rancho de uma Companhia. |
Complementávamos também, com as encomendas de "Pollo com Papa Fritas", normalmente através de nossas lavadeiras de confiança, tendo em vista que por algumas vezes , através de estranhos, havíamos encomendado galinhas, e recebido garças.
É importante dizer que , quando a Aeronave que chamávamos de Carcará, a principio o C-119 e mais para o final, o C-130, Hércules, quando apontavam no horizonte com suas periódicas cargas de feijão preto, arroz, charque , batatas, legumes e frutas brasileiras, era uma festa. Esquecíamos até que eles traziam também nossas tão ansiadas correspondências, cartas dos familiares. Devíamos isso ao saudoso Gen Reynaldo Mello de Almeida
A Gloriosa FAB, realmente teve papel primordial durante toda a Campanha. Registro abaixo uma singela homenagem, publicando uma Mensagem original que recebíamos sempre dos tripulantes do C- 119 :
Nosso fardamento, além do uso diuturno do Capacete de Aço, tinha apenas como diferencial, tirante a boa qualidade do tecido, o novo hábito de colocar a Gandola para fora das calças, ficando, portanto o Cinto Operacional NA, posicionado ostensivamente sobre a mesma. Completavam o Uniforme, a camiseta branca junto a pele, os estilosos e unanimes óculos escuros, bem como as inseparáveis e inesquecíveis plaquetas de identificação. Cabe registrar o orgulho que tínhamos ao posicionar nos braços direito e esquerdo, os símbolos da OEA, da FIP e do FAIBRAS.
Nossa farda era lavada e cuidada, inclusive engomada. Possuíamos duas mudas de roupa. Aqueles mais caprichosos, que se envaideciam em ostentar uma farda como se fosse de West Point, regularmente, se arrependiam amargamente, quando a sempre imprevisível carga d'agua dos temporais, transformava a farda engomada em um misto de mingau e lama. Encontrei em meus guardados uma pequena foto de minha lavadeira Dominicana, a corajosa, pois sustentava uma família de 15 pessoas, Mercedes, que muito emocionada , me ofertou como recuerdo, por ocasião de nosso regresso.
O salário
era substancial para a época, até onde podíamos conhecer, um Soldado recebia
mensal 230 dólares, um Cabo 312 e um Terceiro Sargento pouco mais de 500
dólares. (da época).
Obs.: A não
ser em situação excepcionalíssima, somente tínhamos acesso a 20% do salário a
cada mês, ficando o restante para nos ser repassado no final da Campanha, o que
ocorreu.
A saúde nos
era oferecida através de uma grande Barraca de Campanha onde coabitavam médicos
e enfermeiros militares. Os medicamentos eram os de sempre, elixir, óleo de
fígado de bacalhau, purgantes, injeções de Benzetacil e muito pneu de jipe (uma
grande pastilha branca que servia para todas as doenças). Nos preparativos para viagem, fomos submetidos a cargas de vacinas contra doenças tropicais.
Vacina contra Varíola |
Vacina contra Febre Amarela |
Cabe registrar ainda, que o
militar ao ser identificado com doença venérea, era medicado e imediatamente
recolhido a uma barraca cercada de concertinas, onde dependendo da sua ficha
disciplinar, poderia cumprir até 30 dias isolado, tendo em vista que o uso dos preservativos era obrigatório em regulamento.
Situações de maiores gravidades no campo da saúde, como ferimentos graves por arma de fogo, acidentes , ou doenças súbitas, quando o apoio local americano não desse conta , o militar estropiado era conduzido para Hospitais em Puerto Rico. Finalmente cabe registrar nessa área, que o brasileiro, muitos de origem espirita, em busca de curar males de saúde através de recursos paralelos, como já o faziam no Brasil, muito em breve estariam participando de sessões de espiritismo caribenho na Rep Dom , e inclusive alguns se iniciando na difícil e tormentosa seita afro/caribenha do VODU, trazendo inclusive para o Brasil, orações especiais, técnicas, artefatos, patuás, sequencias de procedimento, etc, tornando-se grandes feiticeiros até os dias de hoje.
A
comunicação era muito difícil, afinal não existiam telefones fixos nem
celulares, e muito menos internet. Durante toda nossa estada, podíamos em um esforço de guerra do
Exercito brasileiro, falar uma vez com nossas famílias no Brasil. Participávamos
de uma longa fila de inscrição, e quando chegava a data, nossas famílias eram
deslocadas para o Edifício que hoje é o CML (não tenho certeza).
Em um
determinado dia e hora, acessávamos por alguns minutos um radio no interior da
Companhia , em nosso Acampamento Rep Dom, e falávamos com grande emoção, por alguns minutos com
nossos familiares, tudo muito rápido e emocionante.
O restante das comunicações era feito por cartas. Havia todo um cerimonial, incluindo envelope próprio, peso máximo, endereços padrão, informações e noticias que não podiam ser transmitidas, datas certas para enviar e receber. No inicio da Campanha inclusive, o Exercito forneceu envelopes padrão. Além das cartas ,alguns sortudos, uma vez ou outra, também recebiam pacotes de produtos brasileiros de seus familiares.
Foto padrão, da Revista Realidade de 1965, onde o velho Sargento sai emocionado da cabine de radiotelefonia montada no Acampamento Rep Dom, após falar com sua família |
O restante das comunicações era feito por cartas. Havia todo um cerimonial, incluindo envelope próprio, peso máximo, endereços padrão, informações e noticias que não podiam ser transmitidas, datas certas para enviar e receber. No inicio da Campanha inclusive, o Exercito forneceu envelopes padrão. Além das cartas ,alguns sortudos, uma vez ou outra, também recebiam pacotes de produtos brasileiros de seus familiares.
Envelope padrão fornecido pelo Exercito na Campanha da Republica Dominicana. |
A Campanha
foi mais fugaz do que esperávamos. Após 6 meses de muito empenho, experiência,
conhecimento adquirido e glória, quando demos por nós, já se aproximava a data
do retorno. Os Aviões Hercules C- 130, já se preparavam para esse triste
momento.
Este episodio, inclusive, sempre é mencionado pelo meu amigo Cabo Adilson, hoje brilhante Advogado no Município de São Gonçalo, que sempre relembra em nossos encontros trimestrais, que na semana de nosso retorno, ouviu de mim, "que eu estaria muito chateado porque havia me adaptado aquela situação extraordinária, e que gostaria de permanecer por um longo tempo a mais na Campanha Dominicana"." Eu teria dito a ele, que uma das minhas frustrações, era que eu queria ter participado de mais momentos de ação".
Este episodio, inclusive, sempre é mencionado pelo meu amigo Cabo Adilson, hoje brilhante Advogado no Município de São Gonçalo, que sempre relembra em nossos encontros trimestrais, que na semana de nosso retorno, ouviu de mim, "que eu estaria muito chateado porque havia me adaptado aquela situação extraordinária, e que gostaria de permanecer por um longo tempo a mais na Campanha Dominicana"." Eu teria dito a ele, que uma das minhas frustrações, era que eu queria ter participado de mais momentos de ação".
Poucos casos
de militares brasileiros atacados e feridos chegaram a nosso conhecimento, o que não ocorria com, como já citado os militares americanos, que eram alvos preferenciais dos homens rãs. Recordo-me bem
do Cabo Bessa, que teve o seu Jipe lançado ao ar por uma granada, sofrendo
sérios ferimentos inclusive na cabeça, e do Soldado Paulo Boechat Pereira, que
teve parte da ossatura da perna destruída por disparos inimigos, tendo sido
socorrido em Hospital americano, em Porto Rico.
Porém, futuramente ao pesquisar, cientifiquei-me da relação abaixo, aos quais presto toda minha homenagem:
Mortos no cumprimento da missão : 3º Sgt Paulo Barreto de Mendonça- CFN
Cb Ari Henrique de Oliveira- I/RESI
Sd Josias Moraes de Assis-I/RESI
Sd Naum Lopes de Souza
Feridos no cumprimento da missão: 1º Ten Raimundo Santabaia Martins
2º Ten José Carlos João
2º Sgt Ruy Torres da Silva
Cb José Figueiredo Crespo Filho
Cb Wanderley Nicanor de Paiva
Cb Vicente Trotta
Sd Paulo Boechat Pereira, e
Sd Custodio Fernandes da Cunha, todos do I/RESI
Porém, futuramente ao pesquisar, cientifiquei-me da relação abaixo, aos quais presto toda minha homenagem:
Mortos no cumprimento da missão : 3º Sgt Paulo Barreto de Mendonça- CFN
Cb Ari Henrique de Oliveira- I/RESI
Sd Josias Moraes de Assis-I/RESI
Sd Naum Lopes de Souza
Feridos no cumprimento da missão: 1º Ten Raimundo Santabaia Martins
2º Ten José Carlos João
2º Sgt Ruy Torres da Silva
Cb José Figueiredo Crespo Filho
Cb Wanderley Nicanor de Paiva
Cb Vicente Trotta
Sd Paulo Boechat Pereira, e
Sd Custodio Fernandes da Cunha, todos do I/RESI
A vida continuou. Com o passar do tempo, viemos a saber, realmente o por quê e o para que, fomos parar naquela Ilha tão longínqua do Caribe.
A época, a
Teoria do Dominó, estava em franca implantação e expansão.
O Vietnã fervia na Ásia, a Rússia firmava cada vez mais seu Bloco Ideológico Expansivo. A Revolução Cubana implantada em 1959, por Fidel Castro, havia posteriormente optado pelo Bloco Soviético, e a sua Base física, ficava há poucos quilômetros do Estado da Flórida, nos EUA.
A morte do Presidente Dominicano, Rafael Leônidas Trujillo, por assassinato, deixou a Republica Dominicana fragilizada Politica, ideológica e Administrativamente.
Qualquer análise, por mais superficial que fosse, apontaria, que a Republica Dominicana seria a próxima região a se comunizar. Na sequência logica do dominó iriam, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Haiti, etc. Tudo isso no quintal dos EUA, tudo isso ameaçando o Canal do Panamá.
Tudo isso com uma America do Sul contígua, de proporções gigantescas e clima politico- ideológico fervilhante, separada apenas por uma grande floresta tropical. Nada no entanto, que pudesse se opor a força de ideias, mesmo alienígenas.
O Vietnã fervia na Ásia, a Rússia firmava cada vez mais seu Bloco Ideológico Expansivo. A Revolução Cubana implantada em 1959, por Fidel Castro, havia posteriormente optado pelo Bloco Soviético, e a sua Base física, ficava há poucos quilômetros do Estado da Flórida, nos EUA.
A morte do Presidente Dominicano, Rafael Leônidas Trujillo, por assassinato, deixou a Republica Dominicana fragilizada Politica, ideológica e Administrativamente.
Rafael Leonidas Trujillo, com o chapéu ao peito |
Qualquer análise, por mais superficial que fosse, apontaria, que a Republica Dominicana seria a próxima região a se comunizar. Na sequência logica do dominó iriam, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Haiti, etc. Tudo isso no quintal dos EUA, tudo isso ameaçando o Canal do Panamá.
Tudo isso com uma America do Sul contígua, de proporções gigantescas e clima politico- ideológico fervilhante, separada apenas por uma grande floresta tropical. Nada no entanto, que pudesse se opor a força de ideias, mesmo alienígenas.
E lá fomos
nós, no verdor de nossos 18 anos, empunhar fuzis e lutar pela liberdade e democracia
mundiais, mas também legitimar o posicionamento da participação dos EUA na ocupação
da República Dominicana.
E fizemos a
nossa parte, creio.
( Continua)
( Continua)