ESCANINHO DE RECORDAÇÕES
Recuerdos de La Rep Dom ( Último capítulo).
( continuação )
De todas as
publicações que li ao longo desse tempo, e não foram poucas, quais sejam o
detalhado "Manual de Participação do Exercito Brasileiro na Campanha da
Republica Dominicana (A Experiência do FAIBRAS na República Dominicana)", organizado
pela equipe do General Meira Mattos, a publicação na década de 80 constante da
“Edição Especial da Revista do Exercito Brasileiro, pelos 20 anos do Cumprimento
da Missão do FAIBRÁS)", jornais, revistas , artigos internacionais e nacionais,
documentários, filmes- As irmãs mariposas/ Mirabal, assassinadas pelo regime de Trujillo
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As revolucionarias irmãs Mirabal |
, livros como o do nosso companheiro Sd Adilson Silva de Matos, intitulado " O I/REsI em São Domingos, a odisseia do Soldado Matos"
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Livro escrito pelo Sd Adilson Silva de Matos |
, e " A Festa do Bode, de Vargas Llosa, a que, porém, mais me marcou no
entanto, foi quando, através da publicação da Revista Realidade, de Dezembro de
1972, na qual, com os titulos: " Exclusivo, como o Brasil escapou do Vietnãn", “A habilidade diplomática brasileira para não
participar da Guerra do Vietnãn” e, “Como e por que o Brasil não foi ao Vietnãn”,
em que são detalhadas a troca de cartas, despachos e visitas entre o Presidente
Humberto de Alencar Castelo Branco, o Itamarati e a Embaixada Americana,
através de seu Embaixador Lincoln Gordon e do Presidente Americano Lyndon B.
Johnson.
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Revista Realidade de Dezembro de 1972 |
Sim,
senhores, quase, por muito pouco, nossa geração não foi parar na Ásia. Na
sangrenta e longa Guerra do Vietnã. Na maior Guerra de Guerrilha que se conhecia até aquele momento. Onde os EUA enterraram parte de suas Forças Armadas em um conflito cruento que durou até o ano de 1975. Sorte a nossa, e habilidade de nossos Chefes
a época. Em compensação, conforme a publicação citada , enviamos navios com 3.000 dólares de remédios e 70.000 dólares em café para o Vietnã, e Tropa para
a República Dominicana.
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Idem |
Um espirito
de camaradagem incorporou-se em todos nós durante o período de Campanha. É
obrigatório citar os nomes de meus auxiliares diretos na Peça de Metralhadora,
Soldado Loredo como Carregador de Reparo (Tripé) e Soldado Novaes
(Municiador), o qual transportava 2 cofres metálicos de munição, contendo cada
um 250 projetis. A mim cabia transportar e operar a Metralhadora, sempre seguindo os princípios de arma coletiva de apoio e buscando a necessária rasância para o melhor resultado. Como armamento individual, portava uma Pistola Colt M 11 Cal . 45, companheira inseparável.
Porém, em
minha cabeça, ainda consigo registrar os nomes de alguns outros companheiros da
Campanha de Santo Domingo. Muitos já se foram, e outros ainda envergam em seus
peitos e mentes o orgulho de Ex-Combatentes: Mario Tanus da Silva, Alcebíades
Soares dos Santos, João Carlos dos Santos, Eduardo Domingues Coreixas, Adilson " Macarrão",Carlos
Alberto Vaz da Silva, Ayres Fernandes Valente, José Agnaldo Pirasol Ruas, Ramos( com quem seguidas madrugadas deixamos muito suor treinando sozinhos na temível Pista de Aplicação do REI), Romero, Buriche, Carneiro, Andrade, Adilson Silva de Matos, Eleir
Ferraz dos Santos, Ricardo Calvo Demideff, Sebastião Damasceno, Edir Ramos
Falco, Marcelo Piu Piu, Araguair Pereira da Silva, Aloisio Antônio Bessa, Vanderley da Silva
Degenaro, José Augusto dos Santos, Jairo Ribeiro Alves, Pedro Paulo Lemos, Roberto Melo de Souza, Jorge Luis dos Santos Tibau, Ivair de Almeida Velasco, Jorge da Rocha Fagundes, Luis Carlos de Miranda, Luis Antonio Soares, Wanderlei Ribeiro da Rosa, Sebastião de Souza Vasco, Dílson Bizzo de Mendonça, Claudir da Silva Santos, Getúlio Ribeiro de Mello, Max Heitor Rodrigues Couto, Antenor Antonio Siqueira, Antonio Nessrallah Evandro Rubens, Francisco Barbosa Bastos, Denílson Macabu Palmeira, Nilton Cruz Guedes, Paulo Roberto de Siqueira, Jair Ferreira Marinho, Crespo, Ferreira, Nicolau, Tanaka, Varela, Gomes, Santa Rosa, Anjos, Matos, Redondo, Coelho, Jair, e
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Momentos de descanso junto ao Corpo da Guarda da 2ª Cia |
outros, muitos outros.
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3º Pelotão da " Incendiaria " Obs- observar o zelo com que tratávamos nosso Acampamento |
Existe um no entanto, que tenho certeza, nunca mais será esquecido. Nosso querido " Cb Batatinha", que com sua magistral arte, através de seu Piston/Corneta, muitas noites nos fazia disfarçadamente chorar, sempre às 22 horas, ao ouvirmos seu impecável "El Silencio", à guisa do tradicional toque do silencio. Mais uma vez me penitencio por não lembrar os nomes de todos.
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Diploma da FIP, assinado pelo Gen Alvaro Braga |
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Menção Honrosa , assinado pelo Cel Milton Tavares de Souza |
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Distintivo criado pela Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro para homenagear os integrantes do Faibrás |
Tenho muito orgulho de ter comigo, e periodicamente ostentar, algumas condecorações e menções que me foram concedidos em razão da participação na Campanha Dominicana, as quais registro a seguir.
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Medalha da FIP |
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Medalha Tributo ao Faibrás |
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Medalha dos 50 anos do FAIBRÁS |
Porém, os momentos que mais me emocionam sempre, são aqueles em que tenho oportunidade de participar junto aos meu iguais , por ocasião das solenidades anuais no Aquartelamento de nosso saudoso REI, na Vila Militar, ocasião em que privo de momentos insubstituíveis, juntamente com todos nossos ExCombatentes, colocando sempre em local de destaque os Ten Valentim e Evangelista.
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Formatura dos 50 anos do FAIBRÀS |
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IDEM, com a presença do Cel Fernandes CMT do REI |
A vida
continuou. O vírus da vida militar porém, não mais deixou minha mente. Em 1968
entrei para a Escola de Formação de Oficiais da Policia Militar, do antigo
Estado do Rio de Janeiro, a saudosa TREME TERRA.
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Insignia do Cadete do Terceiro Ano da APM DJ VI |
A carreira me proporcionou os dois
maiores momentos de orgulho e reconhecimento de minha vida profissional. O de ter assumido a Chefia
do Estado Maior Geral e posteriormente o Comando Geral da Bicentenária Policia
de Vidigal e Castrioto.
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Insígnia do CM Geral da PMERJ |
Creio ter deixado um bom legado à minha Tropa, registrando
resumidamente, a realização do Curso de Guerra na Selva, no antigo COSAC, ( Centro de Operações de Selva e Ações de Comando), depois CIGS ( Centro de Instrução de Guerra na Selva), como Tenente da PM ( Treme Terra), do antigo Estado do Rio de Janeiro, no qual
habilitei-me como o GS ( Guerreiro de Selva) n° 665.
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Facão do Guerreiro de Selva |
A participação na fundação do BOPE, ocasião em que tive a oportunidade, como Tenente, de haver participado, sob o comando do, visionário Capitão PM Amêndola, da criação do Nu/COE ( Núcleo da Companhia de Operações Especiais), hoje o reconhecido mundialmente, BOPE. Haver auxiliado na montagem e servido como Instrutor nos quatro primeiros Cursos de Operações Especiais ( COESP) do BOPE/ PMERJ, em razão dos conhecimentos e experiências adquiridos no FAIBRÀS E CIGS.
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"Manicaca" original do COESP/ BOPE |
Aliás, experiência essa que me permitiu a nível tático e estratégico, já em 2001, como Coronel PM Cmt Geral, tomar decisões e montar dispositivos especiais para combater a " Guerra" contra a criminalidade que já enfrentávamos em nosso Estado do Rio de Janeiro, como por exemplo a ocupação com Posições Fortificadas com sacos de areia, no Teatro de Operações da Favela do Chapadão, em Costa Barros.
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Ocupação do Chapadão, tendo ao lado o Cel Beltrão, Cmt do bravo 9º BPM |
A criação do
Veículo Blindado de Transporte de Pessoal/Tropa,VBTP/T, o “CAVEIRÃO”, o nosso Colete a Prova de Balas Coletivo, o qual já teve a história de sua implantação registrada neste Blog.
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O " CAVEIRÃO", nosso Colete a Prova de Balas Coletivo |
O Comando do 12° BPM, um de meus maiores orgulhos por se tratar da Uop de minha terra, o
Comando do BOPE,
o Comando Intermediário do Interior do Estado do Rio de
Janeiro ( CPI), a construção da sede nova do 19º BPM de Copacabana, do 31º BPM na Barra da Tijuca,
do 22° na Maré, do Grupamento Aeromarítimo (GAM) Ten Antunes,
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GAM |
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GAM |
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Nosso GAM , ao lado seu 1 º Comandante Cel PM Claudecir |
da Sede do Batalhão de
Operações Especiais (o Palácio da Caveira),
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" PALACIO DA CAVEIRA" |
do GPAE (Grupamento de Policiamento
em Áreas Especiais) , que desdobrou-se e ao longo do tempo ocuparam 14 Comunidades, e depois, a partir de 2008, transformou-se nas UPP’s. O GETAM (Grupamento
Especial Tático Móvel), que tanta paz e ordem manutenida trouxe às ruas de nosso Estado, e outras iniciativas institucionais, muitas outras.
Passados 47
anos, consegui retornar à República Dominicana, sonho durante muitos anos acalentado, em visita turística, juntamente
com minha esposa.
Usei em meu planejamento, um artificio. Afinal, não sabia se ainda haveria algum sentimento xenófobo. Não mais gostaria de ouvir os antigos e discriminatórios GO HOME BRASILEÑO !!!!, caso eu dissesse por que gostaria de visitar determinados lugares. Primeiro relacionei todos os locais que gostaria de revisitar. Então, para cada TAXI ou Guia de Excursão que contratava, dizia que estava atendendo ao pedido de um amigo, que lá estivera por conta dos recentes Jogos Pan-americanos, e que ele me teria solicitado para levar algumas fotos da Cidade, uma vez que não teria tido tempo para estar em todos os lugares. Pronto, historia cobertura perfeita.
Todas as Regiões, foram sistematicamente visitadas, com profunda
emoção. Hotel Embajador, Praça Independência, Cidade Colonial em toda sua
extensão (que a época estava em grande parte na mão dos rebeldes), Ciudad Nueva, Igrejas,
Universidades ( A primeira Universidade das Americas), Calle Las Damas, a primeira Rua a ser urbanizada e pavimentada das Americas, Panteón dos Heróis, Estátua e Túmulo de Cristóvão Colombo, Rio Ozama em vários trechos, Palacio Nacional do Governo, palco de intensa refrega do 2º Contingente, Radio
Guaratita, Radio Santo Domingo, Hotel Jarágua, Praia de Boca-Chica, El Malecón, antiga área de nosso Acampamento
Principal (Região de Feria), que hoje está totalmente urbanizada, etc. Tudo devidamente com circunspecção e grave interesse histórico e emocional.
Deixei para mencionar no final, minha surpresa, ao atingir o término, a pé, da Calle El Conde, tendo ao outro lado a notória, para nós, Praça Independência, em frente ao Panteón dos Heróis da Patria, quando deparei-me com enorme estátua em bronze, do Cel Francisco Alberto Caamaño Deño, já condecorado e reconhecido como Herói Nacional. Cumprimentei-o militarmente, batendo grave continência, o que motivou sonora gargalhada por parte do jovem motorista de táxi que nos ciceroneava, o qual não teria entendido nada a respeito de minha atitude. Mantive a seriedade, cravando-lhe um olhar de onça reprovadora. Ele então parou de rir, coçou a cabeça e não comentou mais nada a respeito, durante todo o resto da excursão. Ao final presenteou-me com um CD que continha muitos boleros e canções de merengue, o qual escuto em meu carro até hoje.
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Estatua de Cristóvão Colombo, o descobridor da Republica Dominicana |
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Palacio Nacional do Governo |
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Panteón dos Heróis da Patria |
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Túmulo de Cristóvão Colombo |
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Av Washington Luis ( El Malecón) |
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Estátua de Francisco Alberto Caamaño Deño
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Porém em algumas horas do dia , obrigatório era cumprir o prescrito no BIC ( Boletim Interno de Campanha), ocasiões em que sempre pedíamos respeitosamente aos espíritos das boas guerras, que nos acompanhassem em algumas
incursões nas espirituosas doses de Rum Bermudes e Brugal, bem como da
refrescante Cerveza Presidente.
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Cabe registrar que, não poderíamos de forma alguma perder a oportunidade de visitar a tão próxima e simbólica Ilha Caribenha de Cuba, berço da Revolução Castrista, o que fizemos. Afinal, no fundo, fora ela, a comando de Castro, Guevara e Camilo Cienfuegos, a razão principal da nossa aventura de jovens guerreiros, no passado. Mas isso já é outra narrativa, que está sendo ultimada. |
Finalizo
agradecendo ao Cel Ramirez, Cmt deste centro de excelência de nossas Forças Armadas, o CCOPAB ( Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil/ Centro Sergio Vieira de Mello), pela iniciativa, a exemplo do que já o fizera o Cmt do REsI, hoje 57º BIB Cel Fernandes, de convidar este integrante da Campanha da Republica Dominicana, para passar sua experiência aos mais jovens , dizendo da importância para as nossas vidas, da experiência vivida na Missão Dominicana.
Não tenham dúvidas Senhores, vossa missão, ao receberem jovens de 18 anos em todo o nosso Brasil, quando o fazem com real espírito de missão e entendimento nas suas capacidades de moldar caracteres e aperfeiçoar personalidades, estão mudando para melhor, sempre, o futuro de nossa Pátria. Minha geração é um exemplo prático disso.
E como tudo que é bom costuma ficar, oportuno se torna registrar, que após
50 anos de completada a missão, um pequeno grupo em Niterói, ainda se reúne para confraternizar de três
em três meses, sempre contando cada um suas historias, às quais a cada ano que passa, são perceptivelmente aumentadas com pequena doses de perdoáveis mentiras.
Daqui um grande abraço aos participantes desse acalentadores e vibrantes encontros, os Cabos Adilson, Coreixas, Vaz,
Ayres, João Carlos, Alcebíades, Eleir, Bessa e eu. Realmente um GC ( Grupo de Combate).
Missão
cumprida e dois vibrantes Gritos de Guerra: " ARARIGBÓÓÓIAAA!!! e CARA DE TIGREEEEE !!!!! para todos os presentes!
Muito
obrigado a todos, desculpe ter me estendido.
Wilton Soares Ribeiro
Cel PMERJ
Obs.: Com
muito orgulho de ter sido o Cabo nº 612, Atirador Chefe de Peça de Mtr Browning
Cal .30, refrigerada a ar, representante do Exército Brasileiro na Campanha da
Republica Dominicana.