domingo, 11 de março de 2018

A Historia do Ossário Mor, o Palácio da Caveira do BOPE.

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES


1. Primeira Sede

Corria o ano de 1978. Um velho sonho de um idealista Capitão de Policia Militar , Paulo Cezar Amêndola,  finalmente se concretizava.
Através de Proposta oficial do Cap Amêndola , ao então  Cmt Geral da PM, Cel EB Sotero de Menes, fora criado o Nu/COE ( Núcleo da Companhia de Operações Especiais), da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
A principio estrutura minima, a necessitar de profissionalização , a qual veio com a realização do COESP I/78 ( Primeiro Curso de Operações Especiais), do qual muito me orgulho de haver auxiliado o Cap Amêndola no seu planejamento,  bem como atuado exaustivamente como Instrutor de Sobrevivência e Patrulhas Urbana e Rural.
Em breve o efetivo seria composto de Oficiais e Praças , que já traziam suas Manicacas no peito, oriundas de Cursos diversos nas Forças Armadas , Paraquedismo, Guerra na Selva, Comandos Anfibios e outros, bem como dos concludente dos Primeiros COESP/PMERJ.

Havia um pequeno problema no entanto. Não tínhamos Sede.
Foi quando o Cap Amêndola conseguiu por empréstimo , antigos escombros situados próximos a uma pedreira desativada no limite extremo Norte, da Fazenda dos Afonsos , nosso orgulhoso CPAP 31 de Voluntários, na Av Marechal Fontenele, Bairro Marechal Hermes, Zona norte do Rio.
Eram realmente escombros. Onde tinha telhado não tinha parede, onde tinha parede não tinha telhado. Os banheiros eram totalmente improvisados. Por esforços próprios, em menos de uma semana o local já estava habitável.
Lá nos recolhemos prenhe de felicidade profissional. Nós , nossas armas e nossas tralhas. sem nunca esquecer, também juntos, o casal de Jacarés papo amarelo que daria origem a grande família que hoje folgadamente perambula pela área do CFAP e APM, dando inicio  a variadas historias reais e outros tantos mitos urbanos.

Tudo corria bem,  até que durante o desenrolar dos primeiros COESP, algumas cruzinhas brancas  ou não, começaram a surgir em pequenos cemitérios simbólicos improvisados para manter a tradição aprendida nos Cursos que havíamos  intensamente " ralados". Significavam apenas os derrotados que haviam pedido para ir embora.
O dono da casa, o Cmt do CFAP , excelente Cmt de Unidade de Ensino e brilhante profissional de policia, mas peito liso,  desconhecedor dessa nova cultura profissional,  mandou retirar de seu "quintal" os improvisados cemitérios. Cumprimos suas ordens, de tal forma que atendessem aos dois lados. Retiramos de local ostensivo e colocamos em alguns " cafofos"  misteriosos,  que só nós conhecíamos,  nos limites últimos das sagradas terras da Fazenda dos Afonsos.
 Mas não bastou. Começaram a surgir reclamações a respeito do  barulho do improvisado Sino que o aluno desistente tocava de madrugada, das intensas escaramuças ao sons de tiros de festim, para que se pudesse criar o teatro ideal para as Ações no Objetivo nos incontáveis exercícios de Patrulha,  das nuvens sempre robustas de cloroaceto fenona ( gás lacrimogêneo) que insistentemente passaram a dominar qualquer centímetro quadrado da grande área. E como não bastasse,  durante os testes de luta real dos COESP, passou a incomodar também aos donos da casa , a quantidade de sangue que banhava os corpos suados dos Alunos , em razão de seus narizes quebrados e cortes de Facas de Trincheira , além dos gritos por deslocamentos de ombros , tornozelos, cotovelos etc, etc.

Chegou um ultimatum.
Era hora de desocupar a área.

2. Segunda Sede.

Nosso Líder, decidia rápido. VVVaaamoos embora. Éééé  hooojje. Hoje não, aggoorarara!!!!

Em prazo recorde formamos fila logistica indiana e descemos a montanha do CFAP .

Homens, Mesas, Cadeiras, Sacos VO, Redes de Selva, Armamento, Arame farpado, Cordas, Papelada, Barracas, Material de montanhismo, etc , e claro o casal de Jacarés.

Amêndola havia conseguido um pouso temporário, em uma pequena formação vegetal nos fundos da então ESFO. E lá montamos nossas Barracas de Campanha. Ali durante um bom tempo foi o " Lar da Caveira". Posteriormente o Comando conseguiu o empréstimo de algumas salas no Predio da EsfO. A capacidade combativa e instrucional, bem como o moral da Tropa do Nu/COE, mercê  desses percalços , cada vez mais melhoravam.

3. Terceira Sede

Já estávamos no inicio da década de oitenta

Existia no Bairro de Benfica um enorme , icônico e semi destruido prédio público denominado Ponto Zero. Lá, na época de Negrão de Lima, Carlos Lacerda , operava  um organismo de coordenação central de Policia , onde atuavam, Central de Operações , Cadeia Publica, Heliponto de Helicópteros Policiais, etc.

Foi para lá que o Nu/COE foi deslocado. Nessa época ocupavam o mesmo prédio os seguintes organismos: O 16º BPM, cujo Cmt, Cel PM   Manhães,    se mostrou um bom amigo de nossa Unidade.  Posteriormente o 16  foi deslocado para Olaria, e em seu lugar, foi implantado o Nu/22, Núcleo do 22º  BPM, o Serviço de Identificação da PC, o Serviço de Recursos Especiais da PC e a DRFA com sua imensa Carceragem , de cujo piso, vazava interminavelmente dejetos e águas servidas em cima de nosso armamento, aquartelados na sala de baixo pois era o único lugar seguro com trancas e fechaduras.

Era um lugar surreal. nos fundos não havia muro. Em nossos exercícios diários, bastava pular um pequeno curso d'agua e lá íamos nós cantando hope, hope !!! por dentro das  Favelas do Arará e Manguinhos. Nem festim levávamos. Talvez alguns Bastões Policiais. Nunca sofremos qq agressão. Só retornávamos quando o insuportável cheiro de gás oriundo da Refinaria de Manguinhos tornava o local insuportável. Era diferente do CN. Quanto mais ar, vento, brisas procurávamos, mais o gás se fortalecia.

Ali o Nu/COE escreveu páginas operacionais memoráveis. Fica para outro artigo a pérola da Cobra Catarina e o Escalão  Superior da SSP.


4. Quarta Sede.

Já reconhecida oficialmente como Companhia, o Nu/COE viu chegar o momento de ocupar sua quarta  sede . era a virada de oitenta para noventa.

Eis que o impoluto e histórico Castelo do Choque, recebe em suas instalações  o grupamento que já era conhecido como sendo um dos melhores combatentes  urbanos do mundo.
A emoção do BPCHq foi tão grande de receber tais representantes , que , belo dia, uma grande explosão se ouviu em todo Complexo do São Carlos, quando um dos paiós  instalados no interior do Aquartelamento foi pelos  ares.

Foram momentos de glorias. Ali, através do Ten Cel Paulo Cezar "Bichão", e do Cmt Geral Cel PM Manoel Elysio dos Santos Filho,  a Companhia, já Independente, foi promovida a Batalhão.  Virou BOPE ( Batalhão de Operações Policiais Especiais).

Sua saga atingiu o topo. Nu/COE, COE. CIOE, BOPE. Selvvaaa !!!!!!!
Daquela Sede saíram as Operações mais vitoriosas contra a criminalidade violenta, armada com arma de guerra , em nosso Estado.
Ali,  as longas madrugadas forjaram decisões de comando que muito orgulhariam os melhores Manuais de Chefia e Liderança em todos o mundo. Ali , surgiram os primeiros treinamentos reais ( ou teria sido sonho.  Foi sonho), que colocariam o filme "Snipers Americano" no bolso.


Mas não era nosso. O solo continuava sendo emprestado.  Continuávamos hóspedes. Não havia o prazer maior de possuir com " escritura" o metro quadrado no qual colocávamos diuturnamente a sola de nossos coturnos e batíamos com vigor a chapa da soleira de nossos Fuzis. De onde emocionados prestávamos nossas continências ao terreno.

Eis que uma oportunidade surge.


5. Quinta Sede, a Sede Própria.

Assumi o Comando Geral da Corporação em Junho de 2000. Em Julho chegou através do Cel Josias, Secretario de Segurança Publica ( sim, naquela época era Secretaria de Segurança Pública) isto é tinha como missão prover a Segurança de todos, por isso SSP). A partir de 2007 é que se restringiu a Seseg, isto é , apenas Secretaria de Segurança, portanto deixou de ser publica......... Mas vamos ao assunto, A mensagem era que o Governador Antony Garotinho queria falar comigo pessoalmente, e teria que ser no Palácio Laranjeira , onde residia.
A conversas  foi curta. Nas proximidades do portão frontal ele perguntou, Cel, está vendo aquele morro ali ? Sim, eu conheço muito bem Governador é o Tavares Bastos. Já operei ali várias vezes. Pois bem , ele , algumas vezes foi com sua segurança PM caminhar até o alto daquela comunidade. Um dia ele ensimesmou com  o local. Haviam escombros de um grande prédio,  uma obra paralisada  há muitos anos, desde a década de 50. Foi quando após  um sonho,  ele identificou como sendo o da passagem bíblica de Ezequias, onde caveiras e esqueletos brotavam do chão para se constituírem  um grande exercito de combatentes do bem. Como ele admirava muito o BOPE,  e sabia que a Unidade não possuía Sede própria, e havia passado recentemente por uma serie crise uniu  sonho e realidade e entendeu como missão.
A seguir perguntou-me se eu aceitaria  participar também daquela missão, isto é construir sobre aqueles escombros existentes no alto da elevação uma sede nova para o BOPE.
Após narrar para ele  alguns momentos de  minha historia vivida junto ao BOPE desde a sua criação, claro que aceitei o desafio.
A partir dai tudo funcionou. Os recursos foram liberados pelo Governo e nossa " Tropa de Choque de Engenharia " da DGAL  ( Eng Angela e  Eng Mauro),  devidamente capitaneados pelos Cel Maia , DGAL e Montenaro Ch EMG abraçou a causa. Em Dezembro de 2000 , a Sede do Palácio da Caveira foi inaugurada , com muito orgulho e emoção.

É importante registrar que, entre centenas de placas e fotos, que adornam suas paredes e colunas, uma semi escondida e semi secreta, conserva nela as palavras código:


" COM A ETERNA GRATIDÃO A DEUS
    ....E ASSIM NASCEU O QUARTEL DO VALE DOS OSSO SECOS ....."

BOPE, 28 Dez 2000







PALÁCIO DA CAVEIRA


ANTES




INICIO DA OBRA
DURANTE A OBRA