segunda-feira, 20 de maio de 2013

A historia do CAVEIRÃO ( Primeira Parte)

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES


. Como a ideia se cristalizou.

  No ano de 1992, após renhida luta por classificação no CSPM/91(Curso Superior de Policia Militar), quando a ESPM ( Escola Superior de Policia Militar, bastião da essência didática e doutrinaria do Coronelato), ainda existia, isto é, não havia  sido vendida para tornar-se pátio de estacionamento de velhos containers, recebi e cumpri, exaustiva e vitoriosa missão como Oficial de Planejamento da PM, no evento conhecido como RIO/ECO 92 ( Nossa equipe, para o cumprimento de todas as tarefas havia sido constituída pelo Sd PM Washington, datilógrafo e motorista, Maj PM Nogueira , assessor para assuntos de tudo e eu, Ten Cel PM Wilton) . Ficamos subordinados para efeito administrativo e operacional ao Chefe do EMG, Cel PM Jorge da Silva e  acredito que meu "Estado Menor" deu conta do recado, pois a participação da PMERJ foi elogiada em todo o mundo e por todos os segmentos nacionais. Ao término,  resolvi usufruir de atrasadas e merecidas férias, até mesmo porque, à época, o patrulhamento ideológico já existia, e este Oficial, mesmo tendo tido, por pura sorte, a gloria de concluir o CSPM em primeiro lugar, no mês de Dezembro do ano anterior (1991), já estávamos em Junho de 1992 , e nada de  concederem função compatível para o Ten Cel PM Wilton.
Tais férias porém, não duraram muito. Nova missão, urgente, recebi direto do Ch EMG( Chefe do Estado Maior Geral ), Cel PM Jorge da Silva. Eu deveria assumir o Comando do BOPE( Batalhão de Operações Policiais Especiais) imediatamente. O assunto seguinte, por parte dele, foi um alerta que a UOpE estava passando por momentos de grande tensão, tendo em vista choques  de opiniões entre os Oficiais que compunham o Comando da Unidade. Cocei a cabeça...., afinal de contas, conhecia bem as particularidades daquela casa, tendo em vista  ter tido a honra de, graças a convite do meu amigo Cel Amêndola, haver participado do processo de criação e de sua consolidação, através dos variados Cursos de Operações Especiais( COESP ). Participei de vários momentos ao longo de suas denominações, Nu/COE, COE, CIOE e agora BOPE. Imediatamente intui que a "chapa" deveria estar bem aquecida  no Sepulcro Mor da Caveira. Superado o primeiro e rápido momento de emoção, agradeci ao Sr Chefe do EMG pela distinção e confiança depositada em mim, e dissimulando que não havia percebido o enfático tom quase gutural do termo " assumir imediatamente", perguntei ao Chefe, quando eu deveria assumir o Comando. A resposta foi seca, e dirigida olhando diretamente nos meus olhos: HOJE. Olhei o relógio e ele marcava 20 horas. Pedi permissão para me retirar. Acionei algumas ligações da ante-sala da Chefia ( nesta época telefone celular ainda era um sonho), e exatamente a meia noite daquele mesmo  frio e chuvoso dia, prenhe de trovões e relâmpagos, do mês de junho, assumia eu o Comando do BOPE ( Batalhão de Operações Policias Especiais).

O moral da Tropa naqueles dias estava abalado, tendo em vista, que semana antes, um valoroso e muito querido Sargento do Batalhão, havia sido morto com tiros  na cabeça, saídos, a principio, do fuzil do traficante  conhecido como Zé Aipim, no alto do Morro da Mineira, por ocasião de operação de rotina. O que fazer? É simples, caçar Zé Aipim e sua quadrilha imediatamente. Foi o que fizemos. Subimos o morro na madrugada seguinte. Tiro, muito tiro, fuzil, muito fuzil, granada muita granada. A "contenção" dos criminosos, já naquela época, estava sendo feita de forma extremamente técnica e eficaz. O domínio de pontos a cavaleiro, com boa/ótima visibilidade e o uso vulgarizado de armamento de tiro longo, com munição de alta velocidade e destruição, intermitente  e/ou rajadas, além do uso indiscriminado de granadas, impediam nossa progressão com a velocidade e massa que eu desejava e estava a exigir de meus homens.
 Conseguimos dominar o terreno, somente já ao amanhecer. Tínhamos o controle total sobre a Praça é nossa, Praça é sua, Largo do Campo, Torres, Ponte do Zinco, etc... Mas já sem a presença daqueles que queríamos subjugar. Naquela manhã, após minuciosa varredura no local dominado, outra coisa também me surpreendeu muito , qual seja a quantidade de munição, materializada pelos estojos( cartuchos vazios) espalhados pelo chão, utilizada pelos traficantes, e que  cobria os vários pontos do Morro da Mineira, agora dominado por nós. Infinidade de munição de guerra, centenas, milhares de estojos , saídos de infinidade de armas de guerra. Armas e munições fabricadas no mundo inteiro, inclusive Brasil, para imobilizar, ferir e matar Exércitos e não Policias. Alguma coisa tinha que estar errado.....

No dia seguinte, ao circular pelo Patio do histórico Regimento Caetano de Farias ( BPChq ), era lá a sede do BOPE, deparei-me com um quadro surreal. O antigo Cb Abraão, com uma coleção de ferramentas também antigas, flanelas gastas, e muita disposição e tolerância a espessa  nuvem de fumaça que o envolvia, consertava, conservava e polia os também antigos e  gastos heróis dos CDC (Controle de Distúrbios Civis) de outras épocas. O PALADINO e o BRUCUTU. Minha cabeça ferveu. Era isso que eu precisava, era isso que eu queria: Uma Viatura Blindada, que transportasse um GC ( Grupo de Combate- 9 a 10 homens), morro acima, como um cabrito montes/ ariete, e ao mesmo tempo um colete à prova de balas coletivo, e que após o desembarque , realizasse o sonho tático de todo infante, vir de cima para baixo, com toda potencia de fogo, à cavaleiro sobre o inimigo ( desse pensamento nasceu o conceito básico/primário da existência e do emprego do CAVEIRÃO como ferramenta de trabalho eficiente e legal, das Forças de Segurança do Estado do Rio de Janeiro contra os encastelados e armados com armas de guerra, traficantes de droga de  nosso Estado).

Sempre li muito a respeito do emprego de Carros de Combate, Viaturas Blindadas e Viaturas Blindadas de Transporte de Tropa (VBTT), ou Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal VBTP) tanto em títulos da 1ª como da 2º Guerra Mundial. Tive também oportunidade  de fazer parte de Patrulhas Integradas, com efetivos mesclados compondo Guarnições de VBTP do Exercito Americano, por ocasião de minha experiência/missão em São Domingos, República Dominicana.

Senti que minha cabeça estava longe demais. Pigarreei, voltei a calma, ajeitei o Bico de Pato e resolvi abordar o Cb Abrãao a respeito de minhas ideias sobre emprego de Viaturas Blindadas, não mais em CDC, mas no confronto direto ao traficante armado de fuzil e granadas....... ( CONTINUA)

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