segunda-feira, 10 de junho de 2013

A História do "CAVEIRÃO" ( Terceira parte)

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES


Pela manhã ( madrugada), em razão de convocação ao QG, para reunião inopinada, designei o Maj Beltrão, meu Sub Cmt, para comandar a Operação em Vigário Geral, e assisti a saída do Comboio da sacada do 3º andar do BPChq, então, Sede do BOPE. Ali ia o verdadeiro Maj Beltrão/ Patton ou Maj Beltrão/ Rommel, com parte do tronco e a cabeça fora da escotilha de "nosso" aliado PALADINO, como se fosse uma esfinge de moeda. Difìcilmente eu havia visto militar  com expressão tão feliz e orgulhosa. Aprumado e circunspecto, olhar firme no horizonte, lá ia o Maj Beltrão/Patton/Rommel em direção a um difícil objetivo. Nada  em seu semblante demonstrava preocupação no partir para mais uma missão que pudesse lembrar, que ele e sua Tropa estavam indo em direção ao perigo sempre real e iminente. Que estavam indo em direção a nervosas bocas de fuzis de guerra, granadas dilaceradoras e munições também de guerra. Que suas vidas a partir daquele momento corriam risco de morte. Fiz um tênue e rápido diagnóstico de Cmt: Creio que o "colete a prova de balas coletivo" já está funcionando, pelo menos psicologicamente. Ao ver a saída daquela Tropa, naquele momento, me senti tomado de grande emoção.

Não fez feio o PALADINO. Atingiu o objetivo resfolegando, tossindo, tremendo, suarento, reclamando, fumacento, mas chegou. Não penetrou nas favelas porque não houvera necessidade tática ( mas mesmo assim, recebi telefonema do QG, após retornar da reunião, para saber que história era aquela  do PALADINO metido em favela. Foi ai que lembrei que havia esquecido de avisar ao Escalão Superior a respeito do emprego da "nova arma"...). Ao final da Operação, que culminou com algumas prisões e apreensões de armas e drogas, deixando a Policia Militar o recado que não permitiria mais ações e nem guerras de facções, a Viatura Especial retornou a Base sem alteração.

O Maj Beltrão estava vibrando com a aquisição de nossa nova ferramenta de trabalho. Na minha cabeça, três palavras latejavam continuamente, Mineira, Mineira, São Carlos, São Carlos, Zinco, Zinco.
 Algum tempo depois , a desejada Operação na Mineira foi planejada novamente, já como Operação Integrada, entre BOPE e Delegacias Especializadas da Policia Civil, mais precisamente DRE ( Delegacia de Repressão a Entorpecentes). Nos meandros do planejamento, como sempre, coube-nos os setores mais complicados  e de difícil acesso ( ou seja, aqueles que os criminosos já posicionam seu fuzis de enfiada com bastante antecedencia).

 Começou a Operação. A madrugada era de lua cheia. Os lobisomens uivavam, ao mesmo tempo em que caprichavam no posicionamento de suas armas em seus setores de contenção. O que não sabiam no entanto, era que a Onça estava com sede e a Caveira com fome, ambas usando dentes de prata, muita sede e muita fome....

O Batalhão progredia em 6 Patrulhas. Duas buscando flanquear pela direita, duas pela esquerda. Estas tinham a missão de atingirem as Torres, subjugar as sentinelas inimigas   e baterem o terreno de cima para baixo nos dando cobertura. As duas finais, em deslocamento de baixo para cima, muito mais expostas portanto, buscavam o engajamento frontal. Eu comandava diretamente essas duas Patrulhas. Queria ver o "branco dos olhos" do inimigo Zé Aipim, assassino do Sgt do BOPE. Mesmo "politicamente incorreta" , aquela era sim, uma "expedição punitiva", fundamentalmente necessária em uma "Escola de Comando" séria, honrada, nobre e justa para com seus componentes.

Toda a progressão era controlada pela visão, sinais/sons ou relógio, tendo em vista que à época não existia telefone celular e os Aparelhos Rádio eram uma lástima de ineficiência. Minhas duas Patrulhas tinham como meta realizar a Ação no Objetivo, caindo de surpresa se possível, sobre a principal "boca de fumo" da Mineira denominada de " a Praça é Nossa". Dominado esse ponto crítico,  a possibilidade de ficarmos sob fogo cruzado diminuiria sobremaneira.

À testa do Comboio ia impoluto o PALADINO, com uma guarnição de 12 homens. Imediatamente atrás, em um velho Chevrolet Opala, íamos além do Motorista, eu e o Cap Moura, meu Oficial de Planejamento e Caveira 05, que eu havia ajudado a formar em 1978. A seguir o restante das Equipes.

Nessa altura, os Radios HT já não falavam, não pela estratégia do "silencio de radio ou das comunicações", mas pela inoperância técnica no terreno. Como disse, Celular e Nextel ainda estavam no campo dos sonhos. O silencio era absoluto, a não ser pelo motor das Viaturas e o resfolegar vacilante,  cada vez mais preocupante do PALADINO a nossa frente. Cabe registrar no entanto que a época, "cães já ladravam, crianças já choravam e vagabundos já vazavam" ( foi o que aconteceu logo a seguir). Ao completar o Comboio a curva conhecida como " do poste deitado", que nos colocaria em condições de desembarque e progressão a pé, momento mágico do preparo profissional do BOPE (Cabe aqui registrar que é  muito bonito e emocionante ver o BOPE progredir no terreno. São como artistas letais realizando uma coreografia quase animal. Ora seus homens confundem-se com pedras, rochas, arvores, ora com lagartos, ratos negros e morcegos, ora com águias e harpias. Sempre cuidando um do outro, o BOPE nunca abandona seus feridos pelo caminho). O momento crucial aguardado por todos nós havia chegado: Hora de enquadrarmos pelo fogo e surpresa, o pessoal do tráfico de drogas responsável pela  contenção/segurança da "boca" principal da Praça é Nossa. Estávamos contando inclusive, assim esperávamos e necessitávamos, com o Apoio de Fogo das Patrulhas da Torre, para isso designadas. Foi quando o mundo explodiu em ferro e fogo.......( CONTINUA).

12 comentários:

  1. Emir Larangeira diz:

    É essa realidade que a justiça pátria recusa-se a admitir. Vivenciam magistrados e promotores de justiça o autismo para agradar aos socialistas poderosos que os promovem, reduzindo a realidade da polícia e do bandido a um perigoso nada. Porque, enquanto os bandidos agem como sanguinários guerrilheiros urbanos, a justiça pátria exige que policiais sejam desarmados, que caveirões sejam sucateados, e a polícia cultue a educação do policial londrino ante a criminalidade violenta instalada na periferia, onde esses emplumados não residem nem frequentam, e conhece-a por ouvir dizer. Tá difícil à polícia num contexto desse, falsificado por descaradas ideologias socialistas, estas que para o Brasil almejam o modelo cubano de governar o povo. O que eles gostam mesmo de ver é policial morto com tiros na cara, como foi o caso do último que tombou morto nesta semana. Haja paciência! Ou não mais deveria haver paciência?...

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    1. Caro amigo Larangeiras,gostar do cheiro de suor e pólvora é para poucos. Compreender isso e racionalizar seus sentimentos e ações na busca incessante do estado da arte no cumprimento de sua missão, dentro do balizamento das condicionantes legais, e ainda sair vivo, é para pouquíssimos. Esse é, e será durante muito tempo o quadro de situação no qual diuturnamente atua a PMERJ. Ai da sociedade o dia que ela ceder ou fraquejar. Portanto, paciencia nunca será demais. Que Deus cada vez mais abra a cabeça e o coração dos "emplumados" no trato com os herois sociais de nossa Policia, e VIVA A PM!!!!!!

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    2. Caro Cel. Wilton infelismente não sou caveira, mas a minha escolha nos anos de 87 quando me formei era o choque, infelismente não fui por morar no interior, mas me sinto hoje como caveira, mesmo ref. por invalides, quem dera que todos os Policiais Militares pudessem fazer um estágio de pelo menos 6 meses entre os caveiras, fique com DEUS.

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    3. Caro Claudio Cesar, todas as nossas funções são vitais. Sabe por que a tropa diz que a PM é obra de Deus? É porque Ele materializou em cada um de nós a figura do eterno e sempre presente Anjo da Guarda,seja o Guarda da Esquina, o Cmt da RP, seja o Caveira, seja o Estafeta do Comando, o Enfermeiro do HPM , seja o Robocop do BPChq. Portanto fique tranquilo,no contexto geral, "todos nós somos importantes". Grande abraço.

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  2. Não mais de veria haver paciência!

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    1. Caro Montagnoli, Creio que paciencia na nossa profissão nunca sera demais.

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    1. Cara Cavale, para o alto e para frente. Seeeellvvaa!!!!!!

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  4. Sempre que estiver avaliando um processo de aquisição e/ou manutenção de blindados terei este fato histórico em mente.

    Com um cumprimento respeitoso,
    TC Roberto.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Caro amigo Roberto,fique ligado pois a SAGA continua, obrigado e grande abraço.

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    3. Em QAP, aguardando as atualizações, Cmte!

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