terça-feira, 4 de junho de 2013

A " MANICACA"

 
ESCANINHO DE RECORDAÇÕES                                                  


                                                     


 A " MANICACA"




Era o inicio do ano de 1979 na Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Uma reunião seleta ocorria no Gabinete improvisado nas ruínas existentes nos confins setentrionais da  pedreira do CFAP, Centro de Formação Aperfeiçoamento de Praças ( posteriormente passou a ser a base da Recarga da PM). Lá funcionava garbosamente e com elevado espirito de corpo, a primeira Sede do Nu/COE ( Núcleo da Cia de Operações Especiais- hoje BOPE)), o qual havia sido criado no inicio do ano anterior. Seu fundador e primeiro Comandante , o Cap PM Amêndola presidia a reunião. Os demais participantes eram: eu ( Ten Wilton), o Ten Paulo José, o Sgt Matos, o Sgt Adaildo, o Sgt Dias, o Sgt Hirnerio, o Sgt Tenório , mais os Oficiais e Sargentos recém formados no COESP Cat B I/ 78 ( 1º Curso de Operações Especiais), em número de doze. Cabe registrar que a iniciativa do Cap Amêndola em programar o 1º COESP, deveu-se a necessidade extrema de implantar na Corporação a mentalidade do "CURSADO", isto é, o melhor entre os melhores, de tal forma que após o termino do Curso, o Nu/COE passasse a contar nos seus quadros com combatentes plenamente habilitados na área de Operações Especiais de Policia, e a partir dai, a Unidade cada vez mais se impusesse técnica e logisticamente no combate direto a criminalidade violenta em nosso Estado.
Os futuros Caveiras, receberam diretamente do Cmt Amêndola, a missão de se reunirem em caverna contígua e em conjunto, confabularem e apresentarem, em tempo recorde, uma proposta de   modelo para um brevê/manicaca oficial, que atendesse ao conceito e a magnitude de um Curso de Operações Especiais da PMERJ. ( até mesmo porque os Cursados todo dia cobravam do Cap Amêndola a formatação de um brevê para o Curso). A partir daí, o clima de tiro, bomba e quejandos, somado a terrível pressão psicológica e a enorme responsabilidade de apresentar um trabalho definitivo, a altura do ainda TURNO DE ALUNOS,  se apoderou do Grupo. Passado não muito tempo ( parecia que todos sabiam realmente o que queriam desde o inicio, estando a faltar apenas a inspiração do Chefe em dar a ordem), eis que surge o saudoso ex-Aluno Ten Rangel, 01 do 1º COESP, representando a Patrulha, trazendo o resultado do trabalho coletivo: Em um esboço, feito em papel oficio, à caneta, destacava-se a CAVEIRA LAUREADA, já então com seu enigmático sorriso, como se estivesse a zombar da Faca de Trincheira cravada no alto de sua cabeça, e as duas Pistolas cruzadas em seu invisível pescoço  a gritarem ao mundo, SOU PM, SOU PM.
Recordo-me como se fosse hoje, da reação do querido Cmt Amendola. De pé, no meio da improvisada sala, entre sorrisos nervosos de canto de boca e perdigotos a voarem em direção ao desenho, bradava,:"VOOVOVOCES QUEREM ME,ME,ME DERRUBAR, VOVOVOCES QUEQUEREM ME DERRUBAR, PÔ,..PÔ,....PÔ.....??????????"
Pois bem, após submeter a proposta a nossa apreciação, como Instrutores e Monitores do recém concluído Curso, que éramos, ele aprovou a manicaca da CAVEIRA. Essa decisão, histórica, todos percebemos, foi emoldurada com uma expressão em sua face guerreira, de um mixto de orgulho e satisfação de dever cumprido.  Os formandos logo que os primeiros modelos ficaram prontos, passaram a envergá-la orgulhosamente nos inflados peitos. A principio, as primeiras Caveiras eram apenas prateadas, sendo usadas indistintamente por Oficiais e Praças cursados.
O Comandante Amêndola não foi derrubado, e a CAVEIRA como SÍMBOLO DE SUPERAÇÃO e VITÓRIA SOBRE A MORTE, está aí até hoje, tendo mais tarde virado símbolo maior do agora BOPE, sucesso absoluto no combate aos crimes e criminosos violentos, através de seus " heróis anônimos".

Mais a frente, já em 1981, após algumas tentativas frustadas de oficialização do tão ambicionado Brevê, o Cap Amendola enviou detalhada documentação  ao Sr Cmt Geral da PMERJ, o Cel Cerqueira, do Exercito Brasileiro, solicitando a tão  esperada formalização do Brevê, obtendo o aprovo do Escalão Superior.
Só que, no momento em que o desenho da CAVEIRA apareceu em documento oficial da PM, publicado no Diário Oficial, parcela do mundo jornalistico desabou sobre o Comando Geral. Eis que , principalmente o Jornal do Brasil, a revista Veja e o periódico O Pasquim dedicaram vasta matéria a respeito. O Pasquim inclusive, produziu extensa reportagem jocosa , posicionando o Brevê da Caveira sobre vários momentos e locais da vida nacional, inclusive, sobre a manta do cavalo do então Sr Presidente da Republica, General João Batista Figueiredo. Aí foi a vez do Cmt Cerqueira se pronunciar em audiência reservada com o Cmt do Nu/COE:  Ô Amendola, não é possível, vocês querem me derrubar, não é possível, vocês querem derrubar o Comando !!!!!!

O Cmt Cerqueira não foi derrubado, o Brevê da Caveira prosseguiu impoluto nos diplomas e no peito dos  Cursados, cada vez em maior número, pois os COESP, inspirados no Projeto Piloto do 1º COESP, de 1978,  visando o aprimoramento técnico-profissional de Capitães, Tenentes, Sargentos Cabos e Soldados, não mais pararam de ser  programados e executados na Corporação.

A partir de 1991, já como BOPE, o Emblema  da Caveira, criado pelo Ten Cel PM Paulo Cezar ( Bichão), pintado em grande circulo vermelho na parede de seu gabinete, na sede do Batalhão, no 3º andar do prédio do BPChq, teve o inicio de sua oficialização, através de estudo/esboço, contendo um trabalho completo, com sugestões para Brasão, Flâmula, Estandarte e Insígnia de Comando, confeccionados pelo Cap Penteado, P/4 ( Oficial de Logística) e sua competente equipe. Após minha aprovação como Cmt do BOPE, foi tal proposta, encaminhada ao "Escalão Girafa". Novo golpe de sorte, pois o responsável pela arte final viria a ser o Caveira 02, Ten Cel Teixeira, então Chefe da APOM do EMG, que abraçou a causa com grande entusiasmo. Finalmente, o resultado derradeiro da obra foi chancelado  pelo Cel PM Nazaré Cerqueira, Cmt Geral da PMERJ e publicado em Diário Oficial, tudo no ano  de 1993, ano este inclusive em que a conhecida Boina preta com a " bolacha"/emblema, metálica, ( antes era em tecido, usada no bico de pato) da Caveira, formalizada por Portaria em Bol Interno, baixada por este Oficial, passou a fazer parte do uniforme do BOPE,  não mais deixando de emoldurar a cabeça dos CAVEIRAS. Até que enfim a complementação da ostensividade  do reconhecimento, sucesso e gloria institucional, através da oficialização de seus símbolos maiores. Vida longa para a manicaca do COESP, vida longa para a CAVEIRA, vida longa para o BOPE, vida longa para os símbolos do BOPE, vida longa para a PM!!!!!!!!






7 comentários:

  1. Muito legal a história!!!!! Me orgulho de poder conviver com o senhor!!!!
    Abraços Breno Moreira

    ResponderExcluir
  2. Obrigado companheiro, a historia de uma Polícia,pelo bem que ela representa para uma sociedade necessita ser contada, nem que seja por fugazes momentos. Veja voce que hoje aplaudi um pronunciamento da Sra Ex-Ministra do STF,Dra Ellen Gracie,constante no Jornal O DIA, quando ela se posicionou afirmando que"...NA REDEMOCRATIZAÇÃO, HOUVE RECHAÇO DE TUDO RELACIONADO ÀS POLICIAS. ESSAS FORÇAS PASSARAM A UM SEGUNDO PATAMAR NA ORDEM DE INVESTIMENTO. E TIVEMOS DETERIORIZAÇÃO DESSES SISTEMAS, QUE SÃO NECESSÁRIOS..." Eu faria apenas uma correção, as Policias não são apenas "sistemas necessários", são FUNDAMENTAIS, pois, no mínimo, sem precisar abordar o ponto de vista sob o enfoque da Guardiã Maior da ORDEM PUBLICA, diria apenas, que sem POLICIA, todo o arcabouço juridico penal de nosso Pais iria simplesmente para o eter, em curtissimo espaço de tempo. É por isso que cada vez mais sinto-me motivado para contar histórias de Policia. Grande abraço.

    ResponderExcluir
  3. Símbolo forte que merece respeito por sua história... Não tem como deixar de ser parte da minha criação. Meu pai tinha muito amor por esta instituição. Força e Honra. Precisamos resgatar nossa unidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado cara Gleice. Seu pai, o Guerreiro Retameiro é um dos principais ícones das Operações Especiais. Temos que honrá-lo sempre. Selvvvvaaa !!!!

      Excluir
  4. Sou carioca e atualmente moro aqui em Salvador-BA onde servi a PM Militar da Bahia durante 30 anos ingressando na mesma em 1988 como Soldado, entretanto me lembro bem desse momento da então oficialização do distintivo do BOPE em 1993 cheguei a comprar aqui em Salvador o Jornal O Globo onde trazia em sua capa a foto de 4 militares da então COE pousando ao lado de um Obus ostentando o distintivo da COE a Caveira com a espada traspaçada sob o crânio.
    Guardei por um bom tempo esse recorte mas infelizmente, com o tempo o perdi.
    Nessa mesma época comprei aqui em Salvador um anel de prata com uma caveira com os olhos vermelhos, que era a coisa mais linda. Nessa época eu orgulhosamente envergava o uniforme da PM baiana. Indo para reserva o ano passado.
    Sou carioca aí da Ilha do Governador RJ
    Um abraço a todos os Guerreiros aí da PMERJ.
    Ubaldo Santos de Jesus 1°SGT RR

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela intervenção caro Sgt Ubaldo. Caveiraaaa !!!!!!!

      Excluir