segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A História do CAVEIRÃO ( Parte 6 )

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES

Para aqueles que, ao ouvirem a Canção do Policial Militar da PMERJ, ainda sentem um furacão de emoções percorrer seu corpo, fazendo-o ratificar de maneira inquestionável sua sábia decisão de haver  se tornado Policial Militar.

A história do  CAVEIRÃO ( 6ª Parte )

Continuação.


Um longo período de 6 anos se passou, de 1993, quando deixei o Comando do BOPE ( Batalhão de Operações Policiais Especiais), até a assunção da Chefia do Estado Maior Geral ( Ch EMG ), em 1999 . Cabe registrar que nessa época, obedecendo ao principio básico da Administração Clássica que o Comando é uno e indivisível , bem como o planejamento deve ser centralizado e a execução descentralizada, a Chefia do EMG era exercida por um único Oficial, não havendo separação sob a forma de  EMG Operacional e EMG Administrativo.

Durante esse período, em que exerci atividades de Comando no 12º BPM, ESPM ( Escola Superior de Policia Militar) ,  CPI ( Comando de Policiamento do Interior) e Direção na  DGEI ( Diretoria Geral de Ensino e Instrução),  tive oportunidade de estudar muito a respeito de Viaturas Blindadas, bem como exercitar-me na nobre missão de combater inclementemente a criminalidade e aos criminosos violentos, armados com armas de guerra e entrincheirados em posições a cavaleiro em terrenos para eles taticamente  mais vantajosos. Cada vez mais me convencia, e sentia na carne a necessidade  da Tropa da PM em  possuir um " colete à prova de balas coletivo", que ao mesmo tempo protegesse as carnes dos Policiais Militares dos tiros de fuzis permitisse como uma " cabeça de aríete" romper obstáculos e  conduzir uma pequena fração ( Patrulha de Combate), sob fogo inimigo a cotas mais superiores de um morro, para que a partir daí, viesse a cavaleiro em conduta de patrulha, de cima para baixo,  permitindo que logo após, viesse o grosso das forças da lei, de baixo para cima,  progredindo  em condições táticas mais favoráveis, através de uma cortina de ferro e fogo bem menor ( coisa de herói, não precisa falar).

Chega 1998. Comandava o CPI, que à época tinha sob sua responsabilidade toda a área do interior do Estado, isto é, subtraindo a Capital e a Baixada, cabia ao Comando de Policiamento do Interior prover segurança para mais de 80 Municípios fluminenses.

Eis que o  Poderoso Senhor de Todos os Exércitos permitiu, e o Cel Sérgio da Cruz operacionalizou através de convite formal, minha ascensão ao Cargo mais emblemático de nossa
Corporação, o de Chefe do Estado Maior Geral- Ch EMG. Era a honra máxima que cobria os ombros do Oficial PM, durante 174 anos, tendo em vista que de 1809 até 1983, este era o Cargo maior consentido legalmente a um Coronel de Policia Militar.

Como não poderia deixar de ser, o tema " Viatura Blindada" volta a pauta em minha cabeça. Logo em uma das primeiras reuniões gerais na SSP ( Secretaria  de Segurança Pública ),  após ter assumido o Cel PM Josias Quintal o cargo de Secretario, fui representando o Sr Cmt Geral Cel Sérgio da Cruz. Presentes várias Autoridades Estaduais , bem como o representante da recém-criada SENASP ( Secretaria Nacional de Segurança Pública), o General Serra.

A pauta era extensa e variada. O tópico relativo a logística  ocupou bom tempo. A mensagem do Governo Federal era a de apoiar as PM com recursos já conhecidos de todos nós, viaturas, coletes, rádios, na época já se falava bastante em câmeras de vigilância, etc. Não poderia perder aquela chance. Na primeira oportunidade fiz ver ao  Sr General representante da SENASP que de fato estávamos precisando de todos aquele itens, mas havia um que não tinha sido enumerado, e que para nós da PM do Estado do Rio de Janeiro era  prioritário e fundamental, ou seja VBTP/T, Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal/Tropa. Nominei o material,  e logo após fiz uma explanação detalhada e creio quase completa das justificativas, abordando principalmente o tipo de criminoso, as armas de guerra que utilizavam, a disposição tática do terreno favorável para eles, os demais artefatos bélicos em suas mãos, contrabandeadas do mundo inteiro, que estavam a dizimar nosso Combatentes Urbanos. Deixei bem claro que estávamos a enfrentar técnicas e táticas de uma verdadeira guerra urbana, dai a  necessidade de sermos dotados de Viaturas Blindadas.

Prossegui, e diante do estupefacto representante federal da SENASP, apresentei dados estatísticos de Policiais Militares mortos e feridos por balas oriundas de armas de guerra e conclui com um candente pedido para que nos fossem cedidas, a principio, Viaturas Blindadas URUTU e/ou CASCAVEL, já não mais usadas pelas FA, deixando bem claro, que , evidentemente, despojadas de seus armamentos pesados ( lanças -rojão, metralhadoras .50 e canhões 106 ) que usualmente guarneciam aquelas VTR. Enfim, queríamos apenas as "chapas de aço sobre rodas", as carcaças,  para que nos metêssemos dentro delas com nossos acanhados armamentos ( à época) e pudéssemos cumprir nossa missão de combate aos criminosos , em seus acidentados terrenos, contra suas  mortíferas armas de guerra, contrabandeadas voluptuosamente por nossas fronteiras secas , molhadas, aéreas , portos, aeroportos e estradas federais,  tais como AR-15, M-16 , SIG, AK-47, HK-G3, FAL, FAP, RUGER, NORINCO, USI, DESERT, HOT KISS, Brown . 30, Granadas defensivas, Minas anti-carro e anti - pessoal, etc. E, logicamente, com menos mortes de Policiais Militares.

Após minha explanação, da estupefactação, o representante da SENASP, passou para uma cordial, mas muito agitada atitude, na qual se contrapôs a todos os meus argumentos, e demonstrando, infelizmente, total desconhecimento da situação a respeito do poderio bélico dos traficantes de drogas em nosso Estado, informou que não poderia encaminhar tal pedido às instâncias superiores e que achava que eu talvez estivesse supervalorizando um pouco a respeito do quadro de situação em que eu abordei o uso de armamento de guerra em nossa área, e que tendo em vista isso não julgava de nenhuma necessidade sermos dotados de Viaturas Blindadas de Transporte de Tropa.

Concluída a reunião, após respeitosamente  este Oficial ter apresentado firme tréplica, retornei ao meu Quartel General.
Ao chegar, o Sr Cmt Geral já me esperava. Dando a impressão que estava superficialmente informado a respeito do desenrolar da reunião, perguntou se havia ocorrido alguma alteração entre eu e o Gen Serra, representante da SENASP. É que havia recebido um telefonema do Escalão Superior, informando-o sobre isso e pedindo mais dados.

Fiz um detalhado relatório verbal ao Comandante, narrando exatamente o que se passou, registrando inclusive o estado de ânimus  de extrema cordialidade que permeou toda a reunião, o que não impediu no entanto que pontos de vista firmemente alicerçados na experiência e conhecimento técnico fossem debatidos. O Cmt Geral se tranquilizou e até apoiou a minha ideia de implantar as VBTP em nossa Corporação, tendo em vista principalmente a ferocidade dos criminosos que era de nossa responsabilidade combater. No entanto me pediu que teríamos que encontrar melhor momento para desenvolvermos o projeto, e , como disse daria total apoio.

Mais uma vez o impiedoso e incontrolável fator tempo, tomou nos seu alvos e pontiagudos dentes de sabre, as filigranadas e nervosas rédeas e acelerou sua veloz montaria, sem que nada de concreto a respeito do tema  BLINDADO acontecesse naquele período.

Cabe registrar apenas, como fato coadjuvante desta fase, as baldadas tentativas informais que fiz junto a Unidades do Exercito e Fuzileiros Navais, no sentido da PMERJ receber pelo menos algumas carcaças de URUTUS e/ou CASCAVÉIS,  não mais em uso , já que a legislação não nos permitia comprá-los novos.  E outra coisa, tinha certeza que nosso heróis do CMM ( Centro de Manutenção de Material ) fariam miséria na recuperação  de tais carcaças, colocando-as novinhas em folha, totalmente em condições de uso, mais uma vez repito, sem suas armas ofensivas, somente as carcaças de aço.

Nada feito. Luz no final do túnel com respeito ao assunto VBTP/T, só no segundo semestre do ano de 2000, ocasião em que assumi o Comando Geral da Corporação. ( Continua na próxima e  última parte ).









Um comentário:

  1. a impressão que eu tenho é que o exército só atrapalhas as polícias militares

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