quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

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Uma árvore no fundo da água

Luciano Candisani


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Uma árvore no fundo da água

por Luciano Candisani em 28 de fevereiro de 2013

Árvore submersa próxima a margem do Rio Touro Morto, durante uma das maiores cheias da história
No post anterior, mostrei a fotografia de uma nuvem de tempestade impregnada de uma forte mensagem sobre o poder das chuvas no Pantanal. É um “rio voador”, me disseram, depois, leitores especialistas no assunto.  Hoje, neste segundo texto da série com as histórias das fotografias do livro Pantanal, na linha d’água*, não me distancio do tema do regime hídrico na grande planície e tampouco daquela nuvem peculiar.
Essa árvore submersa fora fotografada no dia seguinte àquela tormenta, em 8 de junho de 2011, no mesmo rio, o Touro Morto, durante o auge de uma das maiores cheias já registradas na região.  Na minha visão, essa imagem da árvore  também apresenta claramente a água como o elemento controlador da vida pantaneira.
Pelo menos foi isso que senti quando, mergulhando nos campos alagados para além da margem afogada do Touro Morto, notei essa planta típica de terreno seco com sua copa visitada por peixes. Foi “amor à primeira vista”, mas chegar na composição ideal foi um desafio à paciência: um emaranhado de cipós, raízes e vegetação aquática formava uma barricada caótica ao redor da cena e a visibilidade da água não passava de dois metros.  Qualquer tentativa de produzir uma imagem minimamente organizada e clara passava por vencer esse obstáculo – e sem levantar o sedimento do fundo, para não turvar ainda mais ainda a água.
Com muito esforço cheguei na posição apropriada me esgueirando na trama vegetal. Cheguei, mas sem vencer os cipós. Ao contrário, fiquei completamente enroscado neles e, pior, levantei uma densa nuvem de “poeira” que reduziu meu campo de visão a um palmo.
Essa manobra toda, dificultada pela forte correnteza do rio, durou cerca de 40 minutos e consumiu todo o ar que restava no meu cilindro de mergulho. Quando finalmente a “poeira” assentou, já não vinha ar no regulador, cilindro zerado. Mas como o local era muito raso, pouco mais de um metro, coloquei o snorkel na boca  e passei a respirar por ele. Tomava o ar na superfície, baixava lentamente o corpo, fazia uma foto, voltava a  superfície, baixava de novo tentando não mexer o fundo, esperava um pouco, outra foto.
E foi assim, depois de hora e meia nesse procedimento cômico, com frio, fome, um cilindro de ar vazio nas costas, preso numa rede vegetal e respirando precariamente por um snorkel, que consegui a composição que imaginei quando vi aquela árvore no fundo da água.
* O livro Pantanal, na linha d’água será lançado no dia 14 de março às 19 horas, na livraria Fnac da Avenida Paulista.

Para chegar até a árvore, foi preciso vencer esse emaranhado vegetal

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