terça-feira, 28 de maio de 2013

A historia do CAVEIRÃO ( 2ª Parte)

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES

 
....não mais em CDC( Controle de Distúrbios Civis), mas no confronto direto ao traficante armado de fuzil e granadas de guerra. Dirigi-me ao Cb Abraão, bom dia Cabo, bom dia meu Coronel. Essa viatura aguenta tiro de fuzil, perguntei. O Cb velho olhou para mim, entre assustado e ressabiado, e, em vez de responder, perguntou , por que Chefe? ( o interessante, é que ao mesmo tempo em que falava, procurava posicionar seu corpo entre eu e as  viaturas , como a fazer instintivamente uma linha de policia defensiva, de um homem só, em clara atitude de proteção as suas antigas amigas. Tudo isso sem tirar os olhos um segundo de minha farda preta do BOPE e de minha Faca de Trincheira/  Guerreiro de Selva, que aquela época usávamos, compondo o fardamento). Fingi que não percebi.  Calma Guerreiro, continuei, é que estou precisando delas para uma Operação Policial, e necessito saber até onde elas aguentarão o tranco.
Abraão coçou o queixo, e tomando coragem perguntou, é para instrução de guerrilha com os Senhores Alunos da EsFO, Senhor? Não, é Operação real mesmo, contra a vagabundagem, companheiro. O velho Cb Abrãao , a partir daí não parou mais de falar sobre as boas e más qualidades de suas protegidas. O BRUCUTU, não, permanece aí só de amostra, nem se desloca mais. Mas o PALADINO, esse aguenta até bala de canhão, que dirá de fuzil. E continuou falando até mais não poder das qualidades do Blindado. Isso sem que eu em momento algum lhe dissesse " o quanto aquela carcaça deveria tremer , pois somente o Ten Cel Wilton sabia aonde a iria levar". Pouco falei, não que me preocupasse no momento com o cumprimento dos dispositivos de segurança de sigilo operacional, mas é que fiquei imensamente zeloso e cauteloso com o fato  de que a paixão homem/máquina, demonstrada pelo velho Cabo, pudesse interferir nos momentos futuros da ação real do emprego da especial viatura, tão querida por ele. Afinal para se constituir em um Colete a Prova de Balas Coletivo, como era parte de meu plano, ela teria que tomar muito tiro, mas  muito tiro mesmo. E os ferimentos na máquina ficariam inteiramente visíveis.( Foi exatamente o que aconteceu....)

À tarde procurei o Cel Nery, Comandante do BPChq  e real   " propietário" do PALADINO. Expliquei a ele meu intento e meus planos, isto é, UTILIZAR  MILITARMENTE A VIATURA BLINDADA  PALADINO, do BPCHq,  EM OPERAÇÕES DE POLICIA OSTENSIVA , CONTRA AS QUADRILHAS DE TRAFICANTES DE DROGAS  EM SEUS  LOCAIS DE HOMIZIO E ATUAÇÃO. O Cel Nery  não apresentou nenhuma objeção. Imediatamente hipotecou o PALADINO sob minha responsabilidade, e fez apenas duas observações , a primeira sobre o estado da VTR, afinal era um carro velho, de manutenção custosa e dificílima, e portanto inconfiável. Além disso perguntou duas vezes se eu estava convicto do ineditismo do conceito da nova modalidade e emprego da VTR que eu estava propondo, tendo em vista, até agora, a mesma haver sido projetada e  utilizada dentro de uma concepção de apoio a Operações de CDC ( Controle de Distúrbios Civis), e não em ações contra criminalidade comum, armada com arma de guerra, em terrenos de difícil acesso. Respondi que quanto a isso ficasse tranquilo, eu estava bem a cavaleiro , tendo estudado  e meditado bastante a respeito da mudança do conceito de emprego da VTR. Quanto a primeira observação, eu iria juntamente com meu Estado Maior  proceder a alguns testes com o carro.
Sai de seu Gabinete vibrando. Retornei ao Cb Abraão informei-o do decidido pelo seu Superior, ao mesmo tempo que agradeci sua participação. Ao chegar ao BOPE, me reuni com meu Estado Maior, o Sub Cmt Maj Beltrão, P/1- Ten Guimarães, P/2- Cap Meinick, P/3- Cap Moura- P/4 Cap Penteado e o Ch da Seção de Instrução Especializada, Ten Pinheiro Neto, informando-os de minha pretensão.

Como não houvesse objeções de monta, determinei imediata inspeção logística e operacional na Vtr PALADINO, sob nossa responsabilidade a partir daquele momento, e marquei sua estréia para o dia seguinte, em Operações na favelas de Vigário Geral  e Parada de Lucas, pois iríamos intervir no que estava parecendo aos órgãos de inteligencia, que antiga rivalidade estava para ressurgir entre facções criminosas daquelas áreas. Na minha cabeça estava a condicionante de utilizar o novo aliado PALADINO, segundo alguns tópicos do Principio de Economia de Forças, porquanto, se a distancia de marcha até a Zona Norte era considerável , o Teatro de Operações por outro lado era  plano em grande parte, portanto o motor da VTR não seria tão solicitado ( no fundo, já  estava  era a pensar em quando chegasse a hora de exigí-la nas subidas e descidas das  íngremes ladeiras  do Morro da Mineira e adjacências).

Passado algum tempo , os Capitães Moura e Penteado ( P/3 e P/4) trouxeram as boas/más noticias : blindagem  excelente em inspeção visual ( não havia, lógico, como sairmos dando tiro de fuzil na carcaça do PALADINO em pleno patio do BPChq- pelo menos de dia); pneus e vidros em total atitude suspeita para o fim desejado. Motor velho, extenuado e inconfíavel.

Fingi frieza. Lancei rápido olhar  de onça estafada  no relatorio e determinei não só a  manutenção da execução da Operação nas localidades de  Vigário Geral e Parada de Lucas para o dia seguinte, como exigi a inclusão do PALADINO na Ordem de Operações( OOp). Seja o que Deus quiser!!!!!!!( CONTINUA).

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