segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ainda a respeito da indecorosa e fatal ausência absoluta de pundonor militar na iniciativa de venda do Quartel General da PMERJ. Ou, a força da maldição de todos os santos e demonios existentes nos mais elevados céus ou recônditos subterrâneos infernais , mais cedo ou mais tarde desabará sobre a cabeça dos vendilhões do Templo Sagrado.

Após meu pronunciamento a respeito da falta de lógica, que justificasse a venda/demolição/ destruição do QG/PMERJ, prosseguimos na luta, sempre junto ao Clube dos Oficiais e sua Diretoria, tentando sensibilizar as forças vivas de nossa Sociedade contra tal atitude insensata do poder público. Assim foi junto ao Comando Geral da PM, Ministério Público, Defensoria Pública, Advogacia Geral da União, IPHAN, Petrobras, Sociedade dos Arquitetos e Engenheiros, Comando Militar do Leste, Associações de Moradores, Associações de Policiais Militares, Irmandade da PM,  Imprensa, Redes sociais, colocação de Outdoors, Câmara Municipal, ALERJ, etc...
 
Após incessante luta, em razão de determinação do MP Estadual, chegou-se a conclusão que o procedimento da venda teria que ser submetido a ALERJ. Luz no final do túnel. Imediatamente, e hoje digo, romanticamente/ingenuamente/infantilmente, passou pela nossas cabeças, que não seria possível que os ilustres representantes do Povo, que por tantos anos (séculos), independente de ideologias ou tendencias e preferências  politicas, além do conhecimento a respeito  da missão constitucional bicentenaria da Casa de Vidigal, tiveram suas vidas e de seus familiares, amigos e correligionarios em algum, ou vários momentos, ligados ao nobre e diuturno  trabalho de Anjo da Guarda da Policia Militar, permitissem a concretização do desvario, provocado pelo  intenso frenesi, tendo como pano de fundo o barulho das caixas registradoras da especulação imobiliária durante alguns meses,  de destruir-se tal obra carregada de imenso legado heróico e histórico para a sociedade fluminense, e por que não dizer, para a história nacional.
Cabe registrar inclusive a omissão de todos que por lá passaram, de nunca terem tomado a iniciativa de tombar tal Patrimônio Histórico. É que na cabeça de guerreiros honrados nunca houvera espaço para se admitir siquer mencionar o evento venda/demolição/destruição do Templo Sagrado. Durante quase 200 anos foi TABU. Aqueles que ousassem, interna ou externamente tocar no assunto corriam risco de serem transformados em nuvem. Em algo ou alguém de absoluta invisibilidade moral. Em algo ou alguém que inexoràvelmente caminharia em direção a um Túmulo sem Honra. Mas as coisas mudaram.
 
Nada foi capaz de deter a marcha do  "trem da morte" cornucópico do QG. Inclusive, ao procurarmos, eu e os Presidente e Vice Presidente do Clube dos Oficiais, Coronéis Fernando Belo e José Maria, a Presidência daquela Casa de Leis, com o intuito de solicitarmos apoio, fomos tratados como se tal fato já estivesse consumado, de forma quase belicosa e totalmente indiferente aos anseios da Instituição de D. João VI. Não só autorizaram, com raras excessões de alguns representantes a quem seremos eternamente gratos, em sessão rapidíssima a venda do QG, como também do 2º BPM, 6º BPM e outros próprios públicos, nivelando  inclusive Quartéis centenários com mínimas  e nada históricas construções ( apartamentos)  situadas em ruas secundarias de Niterói.
 
Diante desse quadro, nada mais a fazer que  tomar a decisão abaixo, registrada em carta pessoal, naquele mês de Setembro de 2012, na qual muito decepcionado e profundamente entristecido como Cidadão Fluminense,  com os mecanismos de gerencia  republicanos de hoje, resolvi devolver a Casa dos Representantes do Povo a maior Comenda recebida  em minha vida profissional até os dias de hoje:

Integra da carta:

"DD Deputado Estadual Paulo Melo


Venho através desta, comunicar a Vossa Excelência que estou utilizando do sistema dos Correios para devolver a essa Casa Legislativa minha Comenda (Medalha) Tiradentes, a mim concedida tão honrosamente em solenidade ocorrida em 1997, pelos motivos que elenco abaixo:

1. Não consigo entender como necessário, justo e saudável institucionalmente para a Bicentenária Policia Militar, a venda/implosão/demolição de seu Símbolo Maior de Poder e Autoridade, o seu Bastião da Lei e da Ordem, seu Quartel General;

2. Os argumentos apresentados até agora, inclusive por Vossa Excelência, pessoalmente, a este Servidor Público,bem como ao Coronel Fernando Belo e ao Coronel José Maria, por ocasião da votação do projeto autorizando a venda do QG e outras instalações Policiais Militares, não consigo aceitá-los como factíveis do ponto de vista do pensamento técnico - cientifico militar, citando-os a seguir: "Problemas ligados a ego", não são, já que não estamos defendendo nada pessoal, e sim institucional; "Já viajei por muitos Países e nenhuma Policia tem Quartel, só aqui", não Senhor, não confere, pois, a quase totalidade dos Oficiais Superiores ao realizarem suas viagens curriculares depara-se com imensas instalações prediais a dignificarem os que ali trabalham em defesa de seu povo, sediando seus Comandos e Estados-Maiores, a exemplo das Policias de Nova York, Washington, Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica, Japão, China, Chile, Peru, Bolívia, Rússia, etc. Os nomes das Sedes em alguns casos são diferentes, mas as funções são as mesmas que as nossas, quanto ao fato de "já ser assunto encerrado", somente Deus tem esse poder;

3. Não há como aceitar também, como argumento técnico, a justificativa tornada pública, toda vez que o assunto é tratado, de que "uma nova visão que busca, ao diminuir os aquartelamentos aumentar-se-á a quantidade de Policiais nas ruas".  Primeiro porque em regra, as instalações não são tão grandes assim, levando-se em conta a missão constitucional das Policias Militares, segundo, porque, a se confirmar isso, no exato momento, estaríamos vivendo uma situação em que a Tropa em sua maioria, estaria sendo escondida nos subterrâneos dos Aquartelamentos dada a sua "imensidão espacial", o que não ocorre; e finalmente todo o Oficialato sabe que este enfoque sempre foi e sempre será um problema de Gestão, qual seja, o Gestor Militar de má fé ou incompetente, independente do tamanho de seu Quartel, sempre usará de subterfúgios para, gordurosamente, aumentar sua atividade meio ( administração) na retaguarda, durante o planejamento do emprego de sua Tropa, em detrimento da atividade fim, o  Policiamento Ostensivo nas ruas. Reafirmo, é uma questão de Gestão, não de Arquitetura.

4. Desta forma, não vejo outra solução para este velho Soldado, que não seja devolver a essa Casa de Leis, a Comenda que tão orgulhosa e honrosamente trago em meu peito até agora, motivo de sublime satisfação, a sempre mostrar a meus amigos, parentes, vizinhos e principalmente meus netos e seus pequenos companheiros, como o símbolo do reconhecimento maior recebido como Servidor Público Especial, dos representantes de toda Sociedade Fluminense, por haver dedicado minha vida à causa da Segurança Pública em nosso Estado. É que, Senhor Presidente, a partir do momento em que baldados todos os nossos esforços, a certeza  me faz convicto, que chegará o dia em que o arrependimento de tal decisão, inquestionavelmente virá, mas aí, tarde demais, nossa Bicentenária Casa das Ordens, já não mais existirá, por ter sido produto de venda, como se símbolo de honra não fosse, e sim apenas objeto comercial, material, sem alma, me faz tanto mal, que a Comenda (Medalha) Tiradentes, a partir daí, passará, em vez de emblema de orgulho e honra, a ser um pesado fardo. Pesado demais em meu peito, a carregar como marca de vergonha e desonra, que não conseguirei conviver, sem devolvê-la, por haver testemunhado e nada ter podido fazer para evitar golpe tão mortal contra a honra e as tradições de nossa Policia Militar, bem como contra o respeito a seus antepassados, às gerações atuais que não conseguem entender o que está se passando e às gerações futuras, a quem, estará se negando o direito de privar da verdadeira história que brota há 204 anos daquelas paredes, vigas e colunas feitas de carnes mortas e feridas por ferro e fogo, amalgamadas com o sangue derramado por milhares de heróis sociais.

Despeço-me desejando sucesso e vitórias, tanto para Vossa Excelência como para a Casa que preside.
Rio de Janeiro, Setembro de 2012

CEL PM WILTON SOARES RIBEIRO, Ex- Comandante Geral da PMERJ







 

9 comentários:

  1. Faço só uma única e incisiva pergunta: esse seu ato fez eco entre nossos irmãos?!
    Quanto à minha pessoa; calou fundo e minha admiração também!

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  2. Obrigado caro amigo Montagnoli.Quanto a sua pergunta,somente agora estou tornando público, embora alguns companheiros tenham tomado conhecimento indiretamente. Grande abraço.

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  3. De um policial militar de grande categoria, competência no servir e honestidade em todas as suas ações, como o senhor, Coronel PM Wilton Ribeiro, só poderíamos esperar atitudes como esta.
    Posso falar com consciência, porque em minha vida de jornalista profissional há 52 anos, estive lado a lado, com integrantes da PMERJ, que merecem ser sempre lembrados, pela honradez e dignidade, como Vossa Excelência. Tenho orgulho de dizer que sou jornalista "Treme-Terra", já que conheci nomes que hoje atingiram altos cargos na corporação, no início de suas carreiras. E, estes nunca mancharam a gloriosa farda.
    Em minha sala de visitas, ostento com orgulho, diplomas, cartões de prata e troféus, que me foram outorgados por unidades da PMERJ.
    Conte com a minha solidariedade!. Abraços. Assueres Barbosa da Silva - Jornalista.

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  4. Caro amigo Assueres,muito obrigado por suas gentis palavras. Cumpri apenas com minha obrigação de cidadão brasileiro. A realidade atual, com as manifestações, ora legitimas, ora entregues à sanha de baderneiros /arruaceiros, no centro da Cidade está mostrando que estrategicamente, por exemplo, a localização do QG e do BPChq, não podem nunca sair daqueles sitios históricos. Será realmente um crime de lesa-pátria, improbidade administrativa e ausencia total de responsabilidade profissional/policial/militar. Abraço.

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  5. Não poderia esperar do Sr. Cel PM WILTON, nenhuma outra forma de repúdio, eles não irão destruir uma instalação Policial Militar, e sim, o orgulho, respeito, dignidade e honra que muitos carregam em seus corações, em suas vidas. O Sr. não deve ostentar em seu peito, uma honraria que fora dada por pessoas que não nutrem estes sentimentos, vá e vença!!!

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  6. Caro guerreiro, você não está sozinho nesta luta! A derrubada do QG da PMERJ é a destruição total da instituição PMERJ. Já amargamos a destruição da nossa antiga EsFO e junto com ela tornou-se pó o nosso romantismo, como se isto fosse pecado mortal e não o modo como as instituições se tornam seculares. Vamos torcer apara que a AME/RJ seja bem-sucedida, já que os PMs-deputados não estão nem aí para a corporação. São quatro que permanecem de quatro para o maldito governante.

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