sábado, 1 de junho de 2013

NÃO À VENDA DO QUARTEL GENERAL DA PMERJ - "NON PASSARAN"

QUEREM VENDER/DEMOLIR O BASTIÃO MAIOR DA LEI E DA ORDEM EM NOSSO ESTADO, A CASA DOS BI-SECULARES VULTOS HISTÓRICOS DE NOSSA PM, O CAMPO SANTO CONTRITO ONDE GOTEJA O SANGUE E OS PEDAÇOS DAS CARNES FERIDAS E MORTAS DE NOSSO HERÓIS SOCIAIS, NOSSO QUARTEL GENERAL, O QG DA PMERJ.

 
Em Março do ano passado (2012) surgiu a noticia que as autoridades governamentais de meu Estado pretendiam vender/demolir o quase bicentenario Quartel General da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Tomado de infeliz surpresa, e grave indignação, creio justa, primeiro como Chefe do Estado Maior Geral e Cmt Geral da Corporação, que fui, segundo como PM, com quase 40 anos de serviço ativo, que também fui e terceiro como cidadão e patriota que sou, julguei-me na obrigação de encaminhar ao Sr Presidente do Clube dos Oficiais da PM (AME), a comunicação abaixo, hoje com pequenas correções e inserções, que ora acredito ainda útil para conhecimento, daqueles que ainda lutam por um futuro melhor para nosso filhos e netos:

 
AO DD PRESIDENTE DO CLUBE DOS OFICIAIS
Sr CEL PM FERNANDO BELO


Não posso e não devo calar-me nesse grave momento de extermínio do Patrimônio Policial Militar, por isso encaminho-vos minha colocação a respeito do problema.

Qual é a lógica da venda do Quartel General da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro?

1. Não é a lógica da modernidade, pois se fosse, seria demolido o Quartel General atual e construído no mesmo local, no mesmo sitio histórico, nosso, um prédio moderno, funcional e inteligente;

2. Não é a lógica do “desaquartelamento”, pois a Polícia sem base é a Polícia propícia a aderir ao movimento dos sem-quartel, e a Polícia sem quartel daria margem a política de governo da “des-secretarização”, da “des-delegacização”, da “des-bombeirização”,da “de-seseguização”, da “des-procurizaçâo”, da “des-camarização”, da des-alergização, da des-tribunização, enfim da “des-sedização”, isto é, nenhum Serviço Público mais, necessitaria de Sede, desta forma, estas poderiam ser vendidas açodadamente e gulosamente, implantando-se de vez, a escola peripatética de administração. Mas como tal fato só está a envolver a Polícia Militar, cabe a pergunta, por que só o PM tem que perder a sua casa?

3. Não é a lógica do mimetismo ao se tentar copiar as civilizações ditas mais modernas, pois nós, em nossas viagens de estudo de polícia comparada, pudemos visitar, inspecionar, fotografar e filmar, o Quartel General da famosa Polícia Francesa (é um quarteirão), da Scotland Yard, (é um quarteirão), da Polícia fardada alemã, (são dois quarteirões), dos Carabineiros do Chile e da Itália, (grandes Quartéis), da Polícia de Nova York, todos os QG, majestosas construções, a renderem homenagens àqueles que ali trabalham, enfim, todas as Policias do dito primeiro mundo e também àquelas que tivemos oportunidade de visitar no cone sul, possuem dignas instalações para seus Quartéis Generais;

4. Não é a lógica das forças assemelhadas de terra, a exemplo de nosso glorioso co-irmão, o Exército Brasileiro, que ao longo de sua existência teve e terá sempre alguns de seu quartéis fechados, remanejados, adaptados, vendidos ou doados. É que, nesse caso, o seu inimigo é diferente, dada a sua missão constitucional, desta forma, hoje, se o pretenso inimigo dele, e consequentemente da Pátria, está na Amazônia, sendo lá que nos dias de hoje, o Brasil corre risco em sua integridade territorial , arrastando junto a preocupação com a soberania nacional, é para lá portanto que os Quarteis do Exercito tem que ser deslocados. Não é o nosso caso, porquanto nosso inimigo (adversário), o criminoso, o traficante de drogas, o portador de fuzis, pistolas e granadas, os batedores de carteiras,os estupradores, os homicidas, os pedófilos, os ventanistas, os latrocidas, efetivos e potenciais, podem surgir a qualquer hora, e em qualquer parte de nosso território estadual, daí a necessidade de mantermos nossas bases operacionais (Quartéis) onde estão e, de acordo com a necessidade, nos articularmos e desdobrarmos cada vez mais em outros núcleos, alicerçados cientificamente pela Teoria dos Sistemas e Subsistemas;

5. Não é a lógica da ausência de recursos para manutenção física dos próprios estaduais. Seria risível, indigno, vergonhoso, vexatório e até assustador, pois, primeiro, todo orçamento sério e responsável teria obrigatoriamente que contemplar tal necessidade, e segundo, para onde o Comando fosse deslocado, sua nova sede (mesmo que fossem contêineres ciganos) teria que ser manutenido (despesas) com recursos públicos.

Enfim, não conseguimos vislumbrar dentro de um enfoque científico, qualquer suporte administrativo/técnico, tático ou estratégico que amparasse a iniciativa da venda do Quartel General da PMERJ.
Não conseguimos vislumbrar, em termos de respeito profissional ao homem e mulher Policial Militar e, sob a ótica não menos importante da funcionalidade das instalações PM, como um Comando obraria em sua missão diuturna de dirigir a vida de 70.000 homens e mulheres (a PMERJ busca esse efetivo) fardados e armados, com poder de vida e de morte sobre seus semelhantes, com necessidades logísticas monstruosas e terríveis, às quais, cada uma demanda no mínimo lugar salubre, seguro e compatível para apoiar a tropa com material bélico, almoxarifado, tesouraria, rancho, alojamento, salas de aula e pátios para permanente instrução, etc, além da necessidade de departamentalização ótima para um Estado Maior Geral, nas já acanhadas e acotoveladas, e também a necessitar melhorias, instalações do BPChq,sem falar que este, a qualquer momento poderá também entrar no frenesi das caixas registradoras das companhias imobiliárias (ainda bem que o BPChq, pelo menos em um primeiro momento, tombado está).
Não conseguimos igualmente, vislumbrar, como, além de responsabilizar-se pela Polícia Ostensiva, também preservar a Ordem Pública (Art. 144 da Constituição Federal), sem que tenhamos o mínimo de espaço físico para colocar nossos homens, periodicamente, como soe acontecer ao longo de 204 anos, em regime de sobreaviso, expediente prolongado, prontidão e ordem de marcha.
Não nos esqueçamos que distúrbios civis são cíclicos, o que está em ordem hoje, amanhã poderá não estar. Facilmente, independente de qualquer ideologia, nas grandes cidades principalmente, uma massa humana pode se transformar de aglomeração em multidão, daí em turba e turba multa, e nesses casos somente as Polícias Militares, por capitulação legal e constitucional bem como, competência profissional, adquirida ao longo de séculos do exercício da atividade , historicamente, tem conseguido evitar a afronta pela força desmedida e as graves perturbações da ordem pública, com o fito de enfraquecer, destruir e provocar a dissolução do Estado/Governo, evitando males inimagináveis.
Portanto aqueles que inadvertidamente tem criticado que Quartéis de Polícia são grandes, tem campos de futebol, ginásios de educação física, espaçosos alojamentos e Ranchos etc, estão a apostar no caos, nos massacres, nos grandes desastres, na morte coletiva de brasileiros por ocasião de distúrbios civis. Essas pessoas, seja por inocência, ignorância, desconhecimento, romantismo exacerbado ou caracterizada má fé são um mal para a população fluminense.

Finalmente, registramos, que estamos a ver sim, na venda do QG/PMERJ:

a. A lógica das 336 moedas,

b. A lógica do desamor institucional, da falta de corporativismo sadio e do desconhecimento total e absoluto a respeito de 204 anos de luta, prestação de serviço e proteção à Sociedade por parte da gloriosa Corporação Policial Militar,

c. A lógica da obediência ( a exemplo da venda da nossa ESPM – Escola Superior de Polícia Militar) à irrefreável sanha da especulação imobiliária, a atropelar, sepultar, destruir qualquer coisa que lhes ouse opor obstáculos na busca dos cada vez maiores ganhos, mesmo que sejam patrimonios públicos com legados  heróicos e históricos. Essas pessoas não tem compromisso com a história e nem com o sangue Policial Militar derramado. Nós, os Policiais Militares de sangue, temos.


Vamos encerrar companheiros, falando um pouco de história, honra e sentimento.

No espaço físico de solo pátrio denominado QG da PMERJ, localizado na Rua Evaristo da Veiga, nº 78, não ficam só sediadas as vetustas instalações do nosso Comando Geral.
Lá estão imersos e vagueantes também, os espíritos de brasileiros que para ali foram em outrora hospital, terem sua qualidade de vida melhorada.
Estão imersos e vagueantes os espíritos dos religiosos capuchinhos da Ordem dos Barbonos, que ali passavam suas longas vidas a conversar com Deus.
Lá está a 1ª muda de café plantada no Brasil.
Lá vagueiam os garbosos espíritos dos fundadores e mantenedores dos destinos da ínclita Irmandade Nossa Senhora das Dores, entre eles do Imperador Pedro II, fundador de sua Imperial Capela, erguida para homenagear os heróis da PM que lutaram na Guerra do Paraguai.
Lá estão imersos e vagueantes os espíritos do Marechal Vidigal, Comandante da Guarda Real de Polícia; do Brigadeiro Castrioto, 1° Comandante da Polícia Militar do antigo Estado do Rio de Janeiro; do Major Portugal, Conselheiro de Dom Pedro I; dos Coronéis Assunção e João José de Brito e todas as suas tropas, heróis da Guerra do Paraguai; do Duque de Caxias, que comandou a Polícia Militar durante 7 anos; do Marechal Hermes da Fonseca, Chefe do Estado Maior Geral e Comandante da PM e Presidente da República; dos saudosos Coronéis Carlos Magno Nazareth Cerqueira, Manoel Elisyo dos Santos Filho, Gonzaga, Vidal, Rangel, Barros,Vargas, e tantos outros brasileiros ilustres. E principalmente, por lá vagueiam também os ensanguentados espíritos e/ou as memórias ou ainda as claudicantes presenças físicas dos mais de 5.000 policiais militares mortos ou feridos, amputados, tetraplégicos, loucos, arruinados física e mentalmente em defesa da Sociedade Fluminense.
Principalmente por esses heróis sociais, pelo perceptível e permanente cheiro das gotas, ribeiros e igarapés de sangue, que a criminalidade fez brotar de suas veias por estarem defendendo os homens, mulheres e crianças de nosso Estado do Rio de Janeiro, sangue esse entranhado em cada grão de areia formador daquele divino solo, que não podemos desistir.
Queremos também que nossos espíritos por lá vagueiem, quando nossa hora chegar, até a eternidade, junto com nossos bicentenários heróis, temos esse direito.

O Quartel General da Rua Evaristo da Veiga n? 78 tem que continuar com a sua vocação de eternidade, para o bem de toda a população fluminense.

Nós, a Policia Militar, todos os nossos ancestrais e descendentes e demais cidadãos de nossa terra fluminense, e por extensão, a Nação brasileira, pelo que a PMERJ representa para a história do Brasil, precisamos de todo e qualquer centímetro quadrado do solo pátrio do Quartel General da PMERJ.
Ele é nosso !!!!! , não foram os homens, foi a história que nos deu.
Por isso somos contra, radicalmente contra, irreversivelmente contra a venda do QG/ PMERJ, e/ou qualquer outro patrimônio seu, sem a devida fundamentação administrativa/técnica, tática ou estratégica. Para isso contamos com o espírito patriótico de todo PM vivo ou morto.
Selva!!!!

Niterói, março de 2012.
WILTON SOARES RIBEIRO – Cel PM Ex -Cmt Geral

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6 comentários:

  1. soluçao: acabar com militarismo nas polícias brasileira

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  2. No mundo inteiro, cada País,de acordo com sua gênesis, possui segmento uniformizado/fardado/ostensivo,militar/militarizado.Em alguns inclusive, não só um segmento, mas todo o Ciclo de Policia. Por que só aqui seria diferente?

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  3. Prezado Cel Wilton,
    Parabéns pela defesa veemente do vetusto quartel-general da PMERJ, um importante exemplar da memóra arquitetônica da cidade. Comento que uns anos atrás, antes da infeliz decisão (afinal revista)de demolir e vender a área p/ Petrobras, eu defendi em carta p/ O Globo, se restaurar o pórtico da fachada, que foi descaracterizado pelo revestimento em mármore polido. Poderia se aproveitar o ensejo da campanha p/ finalmente se recuperar (c/ base em projeto original e fotos) a entrada nas suas feições antigas. Julgo ainda oportuno se dinamizar a ampliar o acervo do Museu da PMERJ, inclusive pelo inercâmbio c/ outras instituições congêneres no mundo e pelo acúmulo de peças representtivas da atualidade. Também se poderia plantar algumas palmeiras na calçada ao longo da fachada p/ dar tratamento paisagístico ao entorno da sólida edificação.
    Atenciosamente,
    Marcelo Morgado

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  4. Caro Marcelo Morgado, obrigado pela intervenção e o apoio na campanha de preservação do histórico QG/PMERJ. Gostaria de contactar com o companheiro para saber mais a respeito de suas ideias sobre o tema. Grande abraço.

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  5. Prezado e Eterno comandante.
    Somente a nossa BRIOZAR e BICENTENÁRIA PMERJ, ,,,,Mesmo com toda dificuldades e a única instituição a trabalhar 24.00 hs por dia,365 DIAS e desde que fazemos os nossos juramento até o fechamento da tampa dos nossos caixões. E a única Instituição que prende o mal POLICIAL MILITAR E EXCLUIR O MESMOLA, ,,,PORQUE DIGA DE PASSAGEM NÃO SÃO UNS VERDADEIROS GUERREIROS COMO O SR E A MAIORIA DA NOSSA FAMÍLIA DE SANGUE AZUL. AO SR SEMPRE AS MINHAS CONTINGÊNCIAS.

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    1. Muito obrigado caro J Kleber pela intervenção. Total acordo com você.

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