ESCANINHO DE RECORDAÇÕES
" A Cezar o que é de Cezar "
Tenho observado ao longo do tempo que a poesia intitulada " Canção Medieval" tem sido citada e/ou escrita "in totum" em seguidos momentos e locais diversos, alguns dos quais registro, após superficial pesquisa, para fundamentar a presente intervenção, e que seguem abaixo:
1. Blog do Cel PMERJ Esteves, no ano de 2007, a título de mensagem;
2. Blog do Odir Cunha, no ano de 2012, em comentário atribuído a Leonardo Henrique Peixe Cabeça. Apenas transcreve;
3. Blog Vale Quase Tudo, ano de 2012. Apenas transcreve;
4. Blog A Verdade Sufocada, ano de 2012, inserção atribuída ao Gen Bda Ref Arsênio Souza da Costa. Publica paráfrase do General;
5. Blog do TERNUMA, sem data, publicando paráfrase atribuída ao Gen Arsênio Souza da Costa;
6. Blog Mulher na Policia, em 2014. Apenas transcreve;
7. Face book do Cel PMERJ Mario Sérgio, no ano de 2014. Apenas transcreve;
8. Livro intitulado " Entre a caserna e a rua: o dilema do 'pato' ", de autoria do Cel PMERJ Robson, o qual transcreve o poema sob a indicação " Considerações preliminares sobre o simbolismos da espada" e diz que o mesmo se encontra emoldurado num quadro que decora a sala do Cmt do BOPE;
Assim, como o "poema de cavalaria" está ganhando mundo, tenho por obrigação contar a narrativa de sua real origem, pelo menos sob meu ponto de vista, até mesmo porque , segundo uma mensagem, também medieval, intitulada "VERDADE", e apresentada como "SABEDORIA ANTIGA": Calar de si mesmo, é humildade. Calar os defeitos alheios, é caridade. Calar palavras inúteis, é penitencia. Calar nos momentos oportunos, é prudência. Calar na dor, é heroísmo. Calar a verdade é omissão.
Corria o ano de 1973. Era Tenente da PM do antigo Estado do Rio de Janeiro. Cumpria missão no Serviço Estadual de Informações e Contra- Informações (SEICI), orgânico do Gabinete Militar do Governo do Estado. Era Chefe do Gabinete o Ten Cel PMRJ Marinel de Souza Carvalho e Governador o Dep Federal Raymundo Padilha.
Em uma de minhas idas oficiais a Sede do Governo, no Palácio do Ingá, passava na ante sala do Governador, quando o Cap Guerra (Cel PMRJ Sylvio Carlos Guerra), chamou-me e apresentou-me a um senhor de estatura mediana, cabelos grisalhos e olhar muito vivo, que seria o próximo a ser introduzido no Gabinete do Governador. Era o poeta e jornalista paulista Nóbrega de Siqueira. O Cap Guerra com seu jeitão desembaraçado, amigo e comunicativo, sem perder a estética militar que o caracterizava, apresentou-me: "Este, Dr Nóbrega, é o Tenente Wilton, primeiro colocado na EsFO ( Escola de Formação de Oficiais) , no curso de Guerra na Selva, no CIGS ( Centro de Instrução de Guerra na Selva ), ( nesse caso , equivocou-se, embora bem colocado, não fora o primeiro no cômputo geral. Havia sido o primeiro entre os Oficiais Policiais Militares ), e em todos os Cursos que fez até agora. É um orgulho para nossa Policia Militar, etc, etc..".O Sr. Nóbrega olhou-me, puxou um apanhado de papel em seu bolso do paletó, destacou um, e passou às minhas mãos, seguido das palavras que, creio serem parecidas com essas: "Leia Tenente, ficaria feliz se o senhor gostasse deste poema". Logo a seguir acompanhado do Cap Guerra, adentrou o Gabinete do Governador. Nunca mais o vi.
Ao chegar a minha sala de trabalho no centro de Niterói, fui olhar o papel e lá estava uma cópia xerox, de um pequeno poema intitulado " CANTIGA MEDIEVAL", encimado pelo nome do que julguei ser o autor " NÓBREGA DE SIQUEIRA " e datado ao final - Niterói, 8 de abril de 1973.
O poema era uma pequenina "bomba", no tocante ao teor explosivo e inflamável. Uma caracterização estupenda do sentimento de honra, que deve revestir integralmente o arcabouço moral de um militar, que incorpore em sua jornada diária o verdadeiro espirito de missão e de lealdade pessoal e institucional. Lia e relia. Decorei-o rapidamente. Recitá-lo sozinho me fazia um grande bem. Este reduzido pedaço de papel passou a me acompanhar em meus guardados. A infinidade de mudanças domesticas e profissionais não me levaram a perde-lo.
Até que em 1993, já como Tenente Coronel, por questões de foro intimo me vi compelido a retirá-lo do "baú" e transcreve-lo na publicação de minha Ordem do Dia de passagem traumática do Comando do Batalhão de Operações Policiais Especiais, do qual tenho orgulho de ter sido um dos fundadores. Lá está o poema de Nóbrega de Siqueira, no último Boletim Interno assinado por mim no Comando do BOPE.
Passados alguns dias de minha saída do Batalhão , recebi um pedido de autorização do Cap Penteado, Oficial P/4 ( Oficial de Logística ) do BOPE, o qual pretendia confeccionar quadros em tamanho grande com o teor da "CANTIGA MEDIEVAL" e coloca-lo no Gabinete do Comandante e da P/4 ( Seção de Logística ) da Unidade. Autorizei pró forma , não tinha mais autoridade para isso. Soube posteriormente que tal desejo foi realizado.
Vida que segue. Dois anos após, em 1995, outro Governo, outra administração na área da segurança pública , encontrava-me comandando, por convite do Cel PMERJ Dorasil , Cmt Geral, o Batalhão Berço da Nação Treme Terra, o Bataleão, o 12º BPM, quando, abruptamente, deixa o cargo o General Bda Euclimar Lima da Silva, Secretario de Segurança Pública , em momento tempestuoso. Logo após o fato sou procurado pelo meu amigo de Caserna, o Cel Lenine Freitas da Silva. ( nossa amizade fora forjada e fortalecida pelos longos três anos de EsFO). Me dizia o Cel Lenine que os companheiros mais próximos do Gen, queriam lhe fazer uma última homenagem, tendo em vista sua exoneração, e sabedores que eu tinha um texto bem compatível com aquele momento, queriam transcreve-lo em um grande quadro e oferta-lo ao substituído. Tal foi feito, e lá foi a "CANTIGA MEDIEVAL" cumprir sua honrosa missão mais uma vez.
Foi a última vez que soube de sua utilização de forma oficial. Ainda bem.
Alguns dados sobre o Poeta Nóbrega de Siqueira:
. Seu nome completo era Samuel Nóbrega de Siqueira, nascido em São Paulo em 1905;
. Foi poeta, crítico teatral, escritor e jornalista, tendo trabalhado no Jornal O Povo, de São Paulo;
. Escreveu os livros Terras roxas, Cartas da terra e do homem, Canto do Brasil novo; Memorias do Almirante Jaceguay, Poemas de amor, Sanhaços.
. Recebeu o título honorifico de Cidadão Niteroiense, pela Resolução nº 582 de 23 Mar 1970, da Câmara Municipal.
Para finalizar, segue o original (cópia xerox ), na forma como se encontra , após acompanhar-me em inúmeras e intermináveis jornadas por longos 42 anos :
Obs1- Este pequenino papel prossegue guardado em meus salvados de "guerra".
Obs 2- Esta é a copia que foi aumentada e emoldurada compondo os quadros colocados nas instalações do BOPE, em 1993.
Obs 3- E finalmente, esta foi a cópia que ao ser aumentada, foi também emoldurada para ofertar ao Gen que havia deixado a Secretaria de Segurança Pública em 1995.
Comandante.
ResponderExcluirBom conhecer, finalmente, a origem da Cantiga Medieval.
Sem conhecer mais sobre ela, sobre seu autor e como havia chegado ao BOPE, mas após tê-la aprendido, tenho procurado ser seu divulgador e não foram poucas as vezes que pude faze-lo, tanto em ambientes militares como civis.
Bem sabemos que somos indivíduos experimentando a realidade sensível com os impulsos de nossa visão particular das coisas, o que proporciona ora coincidências e ora dissidências na avaliação e na realização do que nos propomos. É o que a filosofia chama por axiologia, uma teoria geral de valores que vamos aderindo e nos permite, impulsiona e ajuda a "escolher".
Comandante, podemos ter pontos de vista diferentes sobre tantas coisas que nos permitiram escolhas diversas, mas a essência do nosso pensamento militar é única e nela o imperativo da honra é categórico.
Obrigado por mais um saber. Têm sido muito os que aprendo com o senhor.
Minha continência respeitosa.
Força e honra.