domingo, 18 de outubro de 2015

Armas de Guerra nas mãos de criminosos no Estado do Rio de Janeiro, ou Sempre dá para se fazer mais alguma coisa .

ESCANINHO DE RECORDAÇÕES

A Revista ISTOÉ deste sábado, ( 17/ 10/15), publica matéria policial, com o título: " O DEA chega ao Rio"/ " Agentes da policia americana abrem escritório na cidade para entrar na guerra contra o tráfico de armas".   O que surpreendeu foi que julgávamos que a  existência do DEA ( Agencia Drugs Enforcement Administration) no Brasil já ocorria há muitos anos, com total interação entre os Estados.
Se é a partir d'agora no entanto, já não era sem tempo, afinal são as armas fabricadas pela indústria bélica dos Estados Unidos que, pelo menos, desde a década de 80, matam nossos Policiais, matam civis, bem como desequilibraram e desequilibram até os dias de hoje, a correlação de forças no combate à coluna vertebral da criminalidade violenta em nosso  Estado, o narcotráfico, pelas forças de segurança locais, principalmente a Policia Militar.

Existem todavia, outras armas de guerra, nas mãos de nossos criminosos, vindas de outros Países ( AK-47 russos, SIGS suíços, FALs belgas, HK alemães, USI  israelenses, entre outras) e nesta matéria contarei inclusive,  interessante história a respeito do AK chines ( NORINKO), porém  os emblemáticos AR-15,  M-16 e  Ruggers,  americanos, sempre fizeram e fazem parte atuante dos arsenais de todas as facções criminosas de nosso Estado. Atualmente estão chegando os Fuzis especiais Barret .50.   Não precisa ratificar que são ARMAS DE GUERRA, projetadas e fabricadas para guerra, e não para uso da criminalidade comum. São armas fabricadas desde as pranchetas, para ferirem e matarem  o inimigo, tanto a curta como a longuíssima distância. Para, por conseguinte, utilizarem munições também de guerra, de altíssima velocidade, com volumosas  cargas de pólvora, e corpos e/ou pontas de projetís  contendo materiais, cada vez mais destruidores,  pesquisados, pelas poderosíssimas industrias bélicas  para esse fim. Para provocarem TOTAL EFEITO  DESTRUIDOR NOS ORGANISMOS HUMANOS, bem como interferirem diretamente nas estratégias e táticas de guerra, procurando sempre obter a supremacia nos combates.

Desde a década de 80, portanto, arredondando, 35 anos, que as Forças Policiais fluminenses sofrem na carne a ação desse vergonhoso e interminável contrabando de armas de guerra, para utilização dos  mercadores da morte,  no infame  negócio do tráfico de drogas. Quantas mortes de Policiais, de civis, de crianças, de brasileiros e brasileiras, não teriam sido evitadas caso o fator fuzil/ arma de guerra  não existisse no binômio policia x criminalidade em nosso  Estado? Alguém dirá que o uso e a venda de drogas sempre existiu e sempre existirá  em qualquer lugar do mundo. Concordo, mas  cercadas/ permeadas,  de fuzis de guerra e granadas  para existirem/ funcionarem, creio que em  pouquíssimos lugares e épocas.

As armas de  guerra, nas mãos dos criminosos  de nosso Estado , sempre foi objeto de preocupação de qualquer Chefe Policial Militar. Quando assumi o Cmdo Geral da PMERJ, no ano de 2000, imprimi e divulguei entre os Cmdos subordinados o lema : " RETIRAR ARMAS DAS MÃOS DOS CRIMINOSOS É A GRANDE META" . Creio que deu certo, durante dois anos mais de 20.000 ( vinte mil) armas de fogo, em geral,  foram apreendidas.

Mas vamos a história do AK chines. Quando assumi em 1995 o Comando do 12º BPM, em Niterói, já chamava atenção a quantidade de armas de guerra portadas, usadas e apreendidas com a criminalidade ( recordo-me que em ocorrência na comunidade de Nova Brasilia, na Engenhoca, a quantidade e diversidade de origens de armas/fuzis estrangeiros, apreendidas por minha heróica Tropa, levou-me ao comentário, no local, devidamente registrado em reportagem do Jornal do Brasil : "PARECE QUE O MUNDO DECLAROU GUERRA A NITERÓI"). Em meio a essas armas estavam alguns fuzis AK-47 NORINKO, de fabricação chinesa. Não o conhecia até aquele momento. A partir daí durante toda minha passagem no 12º, a Tropa continuou apreendendo grande quantidade daquele armamento chines.

Quatro anos após, (1999)  assumi a Chefia do Estado Maior Geral ( EMG ) da Corporação, posição que me permitia ter os dados e informações de pronto. Passei a observar que o fenômeno das apreensões  dos AK chineses não se passavam somente em Niterói e sim em várias àreas do Estado, finalizando as planilhas ao final de cada mês, com quantidades preocupantes daquele armamento estrangeiro. Foi nessa época que recebi uma grande distinção em minha carreira.  A missão do Sr Cmt Geral , o Cel PM Da Cruz,  de participar de uma viagem de estudo às Forças de Segurança Publica da República Popular da China, juntamente com Oficiais Policiais Militares de outras Co-irmãs. Acompanhou-me o Ten Cel Luis Antonio, Ch da PM/3 ( Seção de Planejamento). Na semana de preparação da viagem, por intuição, determinei ao então Chefe da 2ª Seção ( Inteligência), Ten Cel Marcilio,  que preparasse uma planilha seletiva contendo todas as apreensões realizadas por nossa Policia Militar, até aquela data, de armamento chines ( Fuzil Norinko), com o maior detalhamento possível.  Tal documento ocupou algumas páginas.

Não sabia exatamente o que fazer com aquela informação. Mas sabia que se tivesse oportunidade de ajudar minha Corporação, o faria.

E esta oportunidade surgiu. Lá pelo meio da programação, que durou cerca de 10 dias, nesse dia  havíamos visitado oficialmente algumas Unidades de Policia Ostensiva da Policia Nacional, bem como a inigualável obra de superação  humana, a Muralha da China. Nós e nossos anfitriões estávamos  satisfeitos com a excelência do planejamento dos eventos  até aquele momento. Os Generais de Policia chineses nos ofereceram naquele  dia mais um almoço especial. A Chefia de nossa comitiva, o Delegado de Policia Dr. Oswaldo, Chefe da recém criada Secretaria Nacional de Segurança era um gentleman. O Sub chefe, o Gen Serra muito profissional. Tudo corria bem.
Quase ao término do almoço, o qual contou com as mais variadas comidas típicas locais, senti que a hora havia chegado. O ambiente estava como sempre respeitoso, mas descontraído e fraternal.  Desde o inicio havia convidado para sentar ao meu lado, o nosso competente intérprete, o qual, todos chamávamos carinhosamente de Pequeno Panda, tendo em vista sua incrível semelhança com o animal símbolo da China.
Cheguei próximo a seu ouvido, tirei  as dobradas páginas do documento do bolso de minha farda azul petróleo, e informei-o, aos sussurros, da minha intenção. Em um primeiro momento reagiu como se não estivesse entendendo. Falei um pouco mais alto, sua palidez e movimentos negativos de cabeça chamaram a atenção do Gen Chefe da comitiva de anfitriões. O Pequeno Panda continuava a empalidecer e sacudir a cabeça. Passei meu braço em volta de seus ombros  enquanto insistia junto a seus ouvidos da minha intenção de entregar meu documento ao General Chefe. Este fato inusitado despertou mais acentuadamente a curiosidade  do  Chefe, que perguntou amavelmente o que estava ocorrendo. Tendo em vista que as planilhas e o  memorial, já estavam em cima da mesa, o interprete  teve que dar a tradução exata de minhas intenções . O General então pediu para ver o documento. Após rápida passada de olhos ( estava em língua portuguesa), perguntou do que se tratava. Nessa ocasião pude através do interprete contar em detalhes o que  estava ocorrendo em meu Estado/ Pais, na área da segurança pública em razão do  contrabando  dos Fuzis Norinko chineses, que chegavam regularmente às  mãos dos criminosos, servindo de ferramenta de morte a ceifarem  integrantes de minha Tropa Policial.  Fez-se um prolongado silencio na mesa . O Gen Chefe mostrou o documento a todos os seus colegas Policiais de alto mando, ocasião em que trocavam rápidas palavras, sempre acompanhadas de acentuados  sulcos de preocupação  em seus rostos. Ao final, o interprete informou-me que seu  Chefe perguntava se o documento poderia ficar com ele, respondi que sim. E que também, ele iria fazer o que estivesse ao seu alcance, a respeito do assunto. Acabou ali o almoço.

Mais tarde,  já no hotel, meu acompanhante o Ten Cel  Luis Antonio foi chamado ao Apto da Subchefia da comitiva brasileira. Passado algum tempo, Luis Antonio demonstrando grande preocupação, transmitiu-me  a mensagem que minha iniciativa não havia sido bem vista pelo alto escalão da  comitiva brasileira,  pois poderia causar um incidente  diplomático entre os dois  Países. Entendi a mensagem, e falei com ele que não esquecesse que, quem estavam morrendo eram os nossos homens, de nossa PM, com o que ele concordou plenamente, tanto com minha assertiva, quanto com a entrega das planilhas.  mas nada de novo ocorreu até o termino da missão.

Pois bem, além de não haver causado incidente diplomático nenhum,  creio que o General da Policia Chinesa, cumpriu o seu dever com marcada eficiência, eficácia e efetividade. A partir dai, fiquei mais de dois anos no Comando Geral, e em nossas planilhas poderiam ser contadas a dedo as apreensões de Fuzis chineses. Como a PM nunca parou de apreender armas de guerra , não tenho dúvida que a quase paralisação do contrabando  de armas  chinesas para a criminalidade do  Estado do Rio de Janeiro se deveu, a partir daquela data ,  à patriótica ação daquele General da  Policia Chinesa, a quem agradeço até hoje em nome de toda  Tropa Policial Militar de nosso Estado.

2 comentários:

  1. Emir Larangeira disse: assim que se faz história. E não esqueço do primeiro fuzil AR15 apreendido em Acari no ano de 1989. Na época deu notícia até no New York Times. De lá para cá as comportas do contrabando de armas de guerra foram escancaradas, o que eu prognostiquei em apreensão. Fui mal interpretado pela imprensa e por algumas autoridades políticas que tentaram minimizar a grave questão. Enfrentou todos eles dizendo que eles não seguravam as fr
    onteiras e nós, PMS, é que levariam os os tiros letais no futuro. Não deu outra!

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  2. A cada vitória de Pirro, mais um cemitério de Policiais Militares é aberto. Lamentável, extremamente lamentável companheiro.

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