quinta-feira, 12 de maio de 2016

Facções Criminosas X GEPAE/ UPP./ Blog do Segadas Viana/ 10-5-16.


 Artigo postado pelo Jornalista Segadas Viana, estudioso em segurança publica e conhecedor dos meandros da criminalidade violenta em nosso Estado. 


Total acordo caro Segadas. Inclusive quero registrar que sou defensor das UPP. Afinal , as UPP são carcaças e almas dos GEPAE, criados durante meu Comando , tendo sido o Projeto Piloto, implantado no mês de Setembro do ano de 2000, nas Comunidades do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho, tendo como primeiro Comandante o Maj PM Carballo. Durante um tempo seguiu seu caminho vitorioso, sendo GRADATIVAMENTE, implantado em outras 14 Comunidades, nos governos que se seguiram, tendo sido inclusive, criado para sua Coordenação e Controle,  um Comando Intermediário,  denominado pela Corporação, de CPAE  ( Comando de Policiamento em Àreas Especiais), cujo primeiro Comandante foi o Cel PM Ubiratan.

Apenas registraria, à guisa de comentários em rede,  em seu profissional artigo, algumas poucas observações abaixo:

1. A premissa básica das UPP, massa e volume de homens em determinada área geográfica, ocupando todos os pontos críticos, durante 24 horas,  acabou, a ponto de alguns efetivos terem sido reduzidos a metade. Preste atenção que não estou levando em consideração alguns  fatores  fundamentais, como qualificação  do homem, armamento ( patrulhar área  vermelha com pistola é suicídio), equipamento, base blindada, etc...

2. Só vejo  uma solução, e urgente. A se manter a estratégia de ocupação,  há que se mudar a tática , ou seja diminuir consideravelmente a àrea total ocupada, voltando a massificar as áreas possíveis,  e passando a utilizar novamente o sistema de Operações Policiais Periódicas ( Politica do Big Stik ). Alguém tem que tomar essa decisão antes que a PM acabe. Retrair com ordem e estratégia não é vergonhoso nem humilhante, é ciência da guerra. Avançou-se rápido  demais, esquecendo-se do fundamental fator logístico. Afinal a bicentenária PM, levou 207 anos para implantar pouco mais de meia centena de UOp, não foi à toa.   Aprende-se com a natureza, que a  Onça quando retrai, é para dar um bote maior, quando possível e oportuno;

3. O CV, TC, TCP, ADA , etc, nunca acabaram .  O fenômeno é o da menor visibilidade que a  grande imprensa decidiu tratá-los, após acordo realizado com vários OCS, de parar de glamourizar as facções criminosas,   em razão do brutal e covarde  assassinato do Jornalista Tim Lopes , no ano de 2002;

4. Conforme você citou, a ocupação mal gerenciada, ( chinelada nas baratas, fazem com que as mesmas mudem de lugar, mas nunca deixam de ser baratas, pelo menos enquanto livres ou vivas),   provocou a descentralização e fragmentação do trafico de drogas , dos criminosos violentos e das armas de guerra para todo o território de nosso ERJ,  tendo em vista que, os Departamentos  de Policia  descentralizados ( BPM e Delegacias ) , com o tempo,  a grande maioria perdeu sua capacidade plena de combater o crime,  em razão da automática redução em  mais de 50% de seus efetivos, seja por remanejamento  de pessoal, seja por falta de recompletamento. Mas o que  foi pior é que esse avanço histórico da criminalidade violenta, em nossa Baixada e Interior,  não foi em decorrência de perda de força criminosa na Capital, que continua assolada por cada vez mais,  impiedosos fuzis e granadas;

5. Já passou da hora de vestir-se as sandálias da humildade, sentar-se a beira de uma fogueira e trocar ideias, invocando se possível os espíritos do bem , que, cada vez mais agoniados,  teimam em costurar mantos de proteção divina para a bicentenária Policia de Vidigal e Castrioto. O problema é que o tempo está acabando,... mas  sempre se deve lembrar do velho Fernando Pessoa " Tudo vale a pena quando a alma não é pequena "....... Seelvva.   Cel PM Wilton.




Comando Vermelho e sua nova estratégia no Rio

Primeiro o Comando Vermelho e suas subdivisões diante da entrada das UPPs com o apoio das Forças Armadas deu uma certa refluída. Mantiveram algumas esticas aqui e ali, algumas lideranças, as que estão nas ruas, ou foram para a baixada Fluminense ou São Gonçalo e Niterói ou mesmo para o interior do estado montando novas bases de tráfico de drogas.
Ao mesmo tempo, face a estratégica completamente equivocada em nossa opinião das ocupações anunciadas os traficantes puderam não só montar bases móveis nas matas circunvizinhas às favelas e instalar nestas matas grandes paióis de armas, munições e drogas e de lá monitoravam as ações policiais, abasteciam as ‘esticas’ e volta e meia fustigavam os efetivos das UPPs com ações armadas.
E assim foram sentindo o pulso da política de segurança. Uma coisa logo foi identificada pelas lideranças do Comando Vermelho. Com exceção da UPP Dona Marta nenhuma outra reunia condições para um domínio territorial completo nas comunidades e seus em torno e isto levou os traficantes a reocuparem estas áreas.
E os fustigamentos aumentaram, elevando-se ao patamar de confrontos de maior duração e de maior letalidade tanto para os marginais, quanto para a PM e ainda de sobra para os moradores das comunidades. Outro ponto facilmente verificado foi a falta de preparação adequada de PMs de algumas UPPs que incorreram em erros gravíssimos como o ‘Caso Amarildo’ na Rocinha e o desaparecimento de quase dez pistolas na UPP do Parque Alegria no Caju.
Estava demonstrado cabalmente que os PMs das UPPs eram suscetíveis a comportamentos questionáveis e iguais a que maus PMs já tinham tido na história da corporação.
No quesito enfrentamento o Comando Vermelho observou também outras facções, principalmente o Terceiro Comando e o Terceiro Comando Puro enfrentando frontalmente PMs das UPPs em suas áreas e em vários destes confrontos o resultado foi até mesmo trágico para os PMs como no caso do Morro da Coroa, no Catumbi, onde um PM perdeu as pernas por um ataque com granadas. 
O cenário estava pronto e completo. O Comando Vermelho percebeu que podia passar para o confronto direto e aberto com os PMs das UPPs e das Unidades regulares, refluindo apenas nas grandes operações que envolvessem o BOPE, o Batalhão de Choque e o de Ação com Cães ou de Delegacias Especializadas da Polícia Civil retornado ao fim das operações a seus postos.
Os alvos passaram a ser as bases das UPPs, criminosamente feitas de lata, a patrulhas de PMs das UPPs dentro dos morros e viaturas em qualquer lugar da cidade, principalmente à noite ou nas madrugadas.
Para os soldados do Comando Vermelho a morte não tem a mesma importância que tem para os PMs. Um traficante quando opta por sua entrada na chamada ‘vida loka‘, a vida do crime, ele sabe que dificilmente chegará aos trinta anos a não ser que pegue uma longa pena na cadeia e já um PM tem a pretensão, apesar de saber os riscos de sua profissão, de cumprir integralmente sua missão até o dia de sua justa aposentadoria junto à sua família.
O momento no Rio é gravíssimo em nossa opinião e tempos atrás escrevemos aqui que os bandidos do Rio haviam perdido completamente o respeito pelos policiais caçando-os pelas ruas e nas proximidades de suas casas, torturando-os e executando-os.
Hoje o quadro é outro. O Comando Vermelho perdeu o respeito pela PM ( a Polícia Civil tem estado muito ausente nas favelas e acaba não sendo uma prioridade para as lideranças do CV tanto nas ruas quanto as da cadeia) e não a vê mais como uma ameaça e sim como um alvo. Inclusive em algumas comunidades estabelecendo preço pela cabeça de determinados PMs mais combativos.
Qual é a resposta que a sociedade pretende dar a esta situação? Continuar ouvindo as mesmas desculpas esfarrapadas de sempre?

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