domingo, 13 de novembro de 2016

RECUERDOS DE LA REP DOM ( Capitulo III )


                                           ESCANINHO DE RECORDAÇÕES




( CONTINUAÇÂO)   3ª Parte


Na área do acampamento principal, éramos colocados periodicamente em regime de ALERTA e PRONTIDÃO, sempre prontos para qualquer emergência. A Guarda do perímetro era também mantida diuturnamente, inclusive sendo dobrada quando os S/2( Oficiais de Informações ) obtinham dados que justificassem uma maior segurança, e quando as ocorrências  de tiros aumentavam,  oriundas da Favela Mata Hambre. Havia um Plano de Segurança por fases. Dependendo da criticidade do Alarme, abríamos em leque e nos posicionávamos  em posições de tiro adredemente ensaiadas, para protegermos o Acampamento.
Proteção ao Acampamento ( Plano de Segurança)




Um dos serviços internos que eu gostava de concorrer era o de Cabo de Dia ao Acampamento da Cia. Durante 24 horas toda a segurança do Acampamento de La Feria, relativa àrea da 2ª Companhia  ficava sob minha  responsabilidade. No decorrer do serviço, relacionava os Soldados que ficariam de Sentinelas. Supervisionava os Postos, fiscalizava as substituições, verificava a atitude, uniformes e armamentos e munições utilizados,  verificando sempre se as instruções superiores estavam sendo cumpridas. Afinal estávamos em terra estranha, nós éramos os " inimigos".
Periodicamente os disparos vinham do interior da Favela Mata Hambre.
Eu me sentia responsável até a alma por todos os meus companheiros que estavam dormindo seus merecidos sonos. Nesses dias não conseguia dormir,  meia hora que fosse. Tirava todo meu serviço acordado, ligado,  atento, vigilante. Todo cuidado era pouco. 
Em um desses serviços porém,  arrumei uma grande inimizade. É que havia chegado  a hora do Sd Marcelo (Piu Piu) assumir seu quarto de hora. Obs -seu rosto e cabeça, de fato eram igualzinhos ao Passarinho  Piu Piu do desenho do Gato Frajola. Era o último quarto, já estava por amanhecer, o Corneteiro já lustrava seu instrumento. Piu piu não aparecia. Rondei e fui acha-lo sem nenhuma condição para o serviço, estava acometido de intensa diarreia provocada pela janta anterior , a base de embutidos  e muita batata em pó. A alternativa regulamentar era fazer o Sd  da hora,  dobrar, este no entanto ,  já estava praticamente dormindo em pé. A segunda seria   acordar o próximo,  praticamente em uma dobra de serviço. Olhei o relógio, faltavam apenas 30 ou quarenta minutos para o termino do serviço, com a luz do sol quase chegando, o Corneteiro saracoteando , o inicio da balburdia que é o amanhecer de um Acampamento Militar em plena campanha, e decidi em frações de segundos , que essa deveria ser comigo , pessoalmente.
Ato continuo, retirei a minha gandola e vesti a  do Sd Marcelo  e assumi seu Posto. Me parecia a decisão que  menos danos colaterais  causaria. Dali a 30m minutos o mundo voltaria ao normal.  Piu Piu,  trancado no Banheiro, seus dois outros companheiros dormindo pelo cansaço das 24 horas de serviço e o Posto coberto pelo Sd/ Cb antes 2231 e agora  612 Wilton, aguardando o já próximo  amanhecer. Só que eu não contava com a astucia do 3º Sgt  Rondante Teixeira. Faltavam cerca de cinco minutos para o encerramento do serviço, quando o Sargento Teixeira me abordou com uma prancheta na mão. Ué, você agora virou Soldado,  Cb Wilton, o que está acontecendo? Baixei o Fuzil que estava em cruzar armas, expliquei o ocorrido. Ouvi pela centésima vez a máxima atroz, "explica mas não justifica". Após a Parada procure o Sgt Brigada, disse de maneira bem clara,  terminou a abordagem e saiu.  Procurei e expliquei. O Brigada , o 2 º Sgt Guerra estava surpreso com o tamanho da Parte disciplinar, em prazo recorde , que ele havia redigido contra mim . Disse que mesmo se tivesse ocorrido um erro extremamente grave, o que não fora o caso, aquela parte parecia que estava sendo dada contra um rebelde dominicano. Me orientou pra tomar cuidado, não mais repetir aquela bobeada e mandou que me retirasse  da Barraca da Sargenteação. Nunca mais ouvi falar daquele documento, mas também , nunca mais repeti tal atitude. Havia cometido uma afronta grave ao Regulamento, mesmo na melhor das intenções.  Porém,  como nem tudo é noticia ruim em uma guerra, a partir daquele momento senti que, mercê daquela atitude tomada em plena madrugada, praticamente sem testemunhas,   o respeito em torno de mim aumentou  junto a Tropa. Em um Quartel, as noticias, principalmente as da madrugada,  correm com uma velocidade incrível.  Claro que até o final da missão, passei ao largo, bem ao largo  do Sgt Teixeira, assim como durante uma semana o Sd Marcelo Piu Piu teve que pagar dezenas de flexões, toda vez que se aproximava de mim.


Boletim interno da 2ª Cia . Lá está o Cb 612.
Escala de serviço primitiva original na Rep Dom



  


Alguns de nós teve oportunidade de compor Patrulhas Conjuntas ou Mistas com outros Países. Os Comandantes, normalmente, eram Oficiais e Sargentos dos EUA e as viaturas e equipamentos também eram deles. Tivemos  oportunidade de assistir, infelizmente, alguns excessos cometidos por militares americanos no decorrer dessas Patrulhas Mistas, nada que chocasse além da conta, como lançar notas de dólares de baixo valor para a população,  e gracejos mais pesados para as mulheres dominicanas. Nossos homens nesses caso,  mantinham -se em silencio,  mas em compensação não perdiam seus pescoços e cabeças a noite,   como era o caso de costumeiros ataques de homens-rãs,  cuja principal missão era degolar  sentinelas americanos.
Patrulha Mista ( americanos, brasileiros, paraguaios, hondurenhos e nicaraguenses)








A cobertura de Check- Points, os famosos Pontos ou Postos de Controle de Transito de Pessoal ou de Carros ( PcTRAN ), era feita também por escalas. Tínhamos treinamento constante para isso. Os mesmo eram formados por sacos de areia padronizados e rolos de arame farpado, os quais soubemos ali que chamavam-se concertinas. Vez ou outra,  seguíamos de Caminhão para coletar areia na Praia de Boca Chica, há cerca de 30 minutos do Acampamento,   com essa finalidade. Na estrutura de sacos de areia, haviam buracos denominados seteiras, para posicionamento do armamento, que eram mudados à noite para evitar tiro inimigo enfiado, tendo em vista que o transito da população durante o dia por esses PCTran era normal, desde que não portassem armas , explosivos ou gasolina. Na nossa Zona de Responsabilidade eram construídos e operados  também por nós, embora os nossos FN ( Fuzileiros Navais) recebessem para cobrir, aqueles situados em áreas mais sensíveis. Essa missão sempre se travestia de grande tensão.




Os primeiros Postos de Controle de Transito/ PC Tran
Os lideres de nossa cadeia de comando,  a quem tínhamos acesso, eram, o Comandante do Batalhão Tenente Coronel Paulo Campos Paiva, o Subcomandante Maj Gladstone Pern                                                                                                                                                                                                                  assetti Teixeira. Nosso Comandante de Companhia era o Capitão Osmar José de Barros Ribeiro e o Subcomandante o Tenente William da Rocha. Nosso Comandante de Pelotão, o Terceiro Pel,  era o estimado Tenente Joaman.




Vários militares, embora alguns não  tenham participado da Campanha,  marcaram também nossa formação. Listo-os em conjunto: Coronel Milton Tavares de Souza, Major Gondim, o Capitão João Cosenza, O Cap Newton FerreiraLeitão . o Ten                                                                                                                                                                                                                                                                                      oTenente Alberto Mendes Cardoso, o Tenente Roberto, o Tenente Magiolli, os Sargentos Ronaldo, Souza, Jorge Carlos, Gloria, Hermes José de Farias, Jorge de Freitas, Nazaré, Sebastião Lourenço da Cunha, Cabo Pedro Gomes e Cabo Valle, e outros a quem me penitencio por não mais lembrar seus nomes. Sabíamos também que éramos comandados no Escalão Superior (Comandantes da FIP), pelo General Hugo Panasco Alvin e depois General Álvaro Alves da Silva Braga. Nosso Batalhão recebia ordens diretas do então Comandante da Brigada Latino Americana, Coronel Meira Mattos.


Cel Meira Mattos



A capacidade de adaptação do brasileiro é ímpar. Com poucos dias na nova terra, a maioria já ensaiava alguns termos, a principio vulgares,  da língua espanhola, como “Coño”, "Pendejo”, “Maricas”, “Maricón” e depois mais sofisticadas como “preciosa”, “gustosa” ,“exquisito”, “pollo com papas fritas”, “Cerveza bien helada”, " No te apures", " Muchacha", etc. Como também, após mais algum tempo, alguns já exibiam termos em inglês como “Stop Now”, “Stop there”, “Stop here”, “Put the hand in your head”, “Sit down”, “fire”, "I'm tired", etc.
As técnicas de motivação da Tropa, cultuadas por nosso Exercito, visando manter elevado o moral da tropa, funcionavam muito bem. Periodicamente nos era permitida uma saída pelas redondezas do acampamento, mormente aos sábados. Nesses casos, além da obrigatoriedade de sairmos fardados, era cobrado  exibirmos no Corpo da Guarda das Companhias, cada um isoladamente, um pequeno Croqui feito pelo Comando, assinado pelo Cmt da Companhia onde constavam as ruas enquadrando a area até onde seria considerado seguro onde poderíamos transitar,  e a Carteira de Identidade, confeccionada  pela Administração da Brigada e um exemplar de preservativo, lá denominado de Condon. Era obrigatório também  a saída e o retorno sempre em grupo. Em uma oportunidade em que deixamos um companheiro para trás, tal erro deu margem a palestras do comando e formaturas de cobrança castrense. Felizmente terminou tudo bem. Ali a maioria pode sentir que o  Exercito é realmente  uma escola de vida.  Por vezes acessávamos a área de recreação do Hotel Embajador, situado nas proximidades do acampamento principal. O retorno nunca poderia passar das 20 horas.




Identidade da  FIP
Permissão para deixar o Acampamento estando de folga









Ciudad Vieja




Residência de veraneio do Ex Presidente Rafael Trujillo


Passeio Turístico no Parque San Cristobal




Fachada do Hotel Embajador









Além dessas saídas, nos eram proporcionados também, periodicamente, com os recursos do Exercito, visitas a pontos turísticos, parques federais, monumentos, prédios especiais como as residências do ex-presidente Rafael Trujillo e outros, desde que estivessem no interior da Zona Permitida. Para culminar, aos de bom comportamento, pelo menos durante o período inicial de nossa temporada, eram-nos oferecido para pequenos grupos, uma estada de uma semana na aprazível Puerto Rico, a cerca de uma hora de avião. Recebi essa chance, em razão de ter sido o primeiro colocado em um exercício de Pista de Aplicação.  Ao segundo colocado, o Cabo Carlos Alberto Vaz também foi concedida tal distinção.



Porto Rico

Puerto Rico
Puerto Rico


Nosso armamento como já disse, era o Fuzil Automático Leve Cal 7.62 de fabricação Belga, o FAP, Fuzil Automático Pesado Cal 7.62, a Pistola Colt M11 Calibre .45, a Mtr Browning .30, a Mtr Browning .50, os Morteiros Calibre 81 mm, os Lança Granadas, os Lança Rojões 3.5, e os Canhões Sem Recuo 106 mm, montados sobre Jipes especiais.


Fal, Pistola . 45, Lança Rojão 3.5 e Mtr Browing . 30


Canhão 106 Sem Recuo







O armamento rebelde constituía-se do Fuzil Mauzer Modelo 1908, de fabricação Alemã, repassados pelo Brasil na época do Governo Vargas, para o Exército Dominicano; Fuzil San Cristobal, de fabricação local; Mtr .30; Mtr .50; Canhões Calibre 37mm e 57 mm Shnider e muitas Granadas de Mão. Usavam também com muita constância, o recurso do Coquetel Molotov, que lançavam do alto de lajes e telhados.
Rebeldes




Canhões 37 e 57 mm Shnider operados por rebeldes













( CONTINUA ). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário