quinta-feira, 3 de abril de 2014

Vivaaaa a PPMMM!!!! A PMERJ e o artigo do General.

Hoje ( 1º Abr 2014 ) pela manhã, um amigo enviou-me uma matéria de autoria do Sr General da Reserva e Consultor de Segurança,  Fernando José Sardenberg, publicada na Pag. 15 do jornal O Globo, com o título, "UPPs: O que é preciso para dar certo".

Li e fiquei extremamente desconfortável, como cidadão e Oficial de Policia Militar. Porém, caso a PMERJ não sofresse no artigo,  impiedosas e injustificáveis críticas, nunca me pronunciaria. Nesse caso no entanto, julgo ser dever, e  dever não é facultativo, de informar a realidade operacional e moral de nossa PM, oferecendo um contra ponto, baseado em minha experiência profissional, principalmente nas funções de Comandante Intermediário,  Chefe do Estado Maior Geral e Comandante Geral, conforme segue abaixo. 

 Primeiro, é assustador que a opinião do articulista, baseada em  extenuante experiência própria, acumulada em ocupações militares no Haiti ( América Central) e no Complexo do Alemão ( RJ/Brasil) o conduz a emitir conceito fechado e acabado  de que  no "processo de pacificação" só existe um vilão, a Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Segundo sua ótica, única responsável pelo possível fracasso do projeto, em razão de seu criticado regime de trabalho, falta de compromisso institucional e ausência de sustentáculos éticos e morais.

Segundo, a opinião também fechada e acabada, que somente o Exercito Brasileiro é exemplo, de eficiência, competência e dedicação exclusiva ao serviço e ao Brasil, e nossa PM não.

E terceiro, é fundamental esclarecer os fatos tendo em vista a demonstração apresentada pelo Sr General, do quase total desconhecimento com respeito a estrutura, missão constitucional, óbices, história  e estratégia de emprego do efetivo de nossa Instituição.

 Tendo em vista os parâmetros acima passo a enumerar as seguintes observações:

1.As missões de ocupação territorial realizadas em âmbito nacional ou não, levadas a efeito pelo glorioso Exercito Brasileiro, por mais complexas e longas que tenham sido, um determinado dia acabam. A da PMERJ não. A PM, grosso modo, nunca volta a seus Quarteis, Sua "ocupação territorial" já dura 205 anos, não existe o " tempo necessário". Beira a eternidade;

2. Na prática não há a "grande diferença" na estratégia de emprego do pessoal do Exercito e da PM. O órgão público avaliado ( nós , a PM)  não "labutamos apenas com um terço ou um quarto de nosso efetivo por mês", apenas nos adaptamos a missões que precisam ser cumpridas por anos e anos a fio. Não estamos em campanha durante um curto ou médio período. No nosso caso a campanha é eterna.  E nem tampouco  somos diferentes, quanto a visão de "comprometimento, ética, e preparação profissional, dentre outros aspectos", de qualquer Instituição Militar ou Civil de nosso País ou do mundo, muito pelo contrário sempre fomos muito ciosos quanto a esses primados virtuosos;

3. Quanto a algumas escala de serviço empregadas em nossa Corporação, são frutos de exaustivos estudos e vivencias profissionais, levando- se sempre em conta  a relação custo/beneficio do resultado ótimo no cumprimento da missão versus o aspecto humanitário de uma  Tropa profissional que passa nas ruas no mínimo 30 anos de seu período castrense.
 Por exemplo quando empregamos a escala de 12x24x12x48 é para que um posto ou uma área sejam guardados e/ou patrulhados com o máximo de eficiência profissional durante as 24 horas do dia, por cada turno de 12 horas, por tempo indeterminado , quiça , eternamente. .Nesse caso teremos sempre 1/4 de nosso efetivo, lutando, combatendo, patrulhando, confrontando, prendendo, preservando a ordem pública. Caso fizéssemos diferente, como, por exemplo a escala de 24x48 historicamente empregada nos Quartéis das Forças Armadas, manteríamos em determinados períodos apenas 1/3 de 1/3, tendo em vista que homem nenhum  consegue ficar acordado as 24 horas do dia, em atitude de vigilância necessária para atuar em área vermelha.
Ainda à guisa de exemplo, voltemos a relação custo/beneficio, em que um Cia a 90 homens fosse empregada em uma escala de 24x48 teríamos 30 homens ECD por dia. Ao final do dia, e ao final de um longo período de emprego,  teríamos fatalmente, homens mal dormidos, cansados, talvez mal alimentados, com a atitude de vigilância grandemente comprometida,  etc. Vejamos agora a escala de 12x24, 12x48. Teríamos 23 homens a cada 12 horas,  apenas 7 a menos ( quase uma guarnição de PATAMO), só que bem dormidos, sempre descansados, bem alimentados, vigilantes, e em condições de manter a ocupação por dezenas de anos. Aprendemos isso na prática de 205 anos de diuturna , incansável  e eficiente luta contra a criminalidade, seja a violenta seja a de menor potencial ofensivo em nosso Estado.
Obs-Cabe registrar que essa estratégia de emprego de pessoal não invalida de forma alguma  as técnicas empregadas em situações extraordinárias. Poucas pessoas tem ideia do numero cada vez mais regular  de vezes por ano que a heróica Tropa da Policia Militar é colocada sob regime de trabalho de Sobreaviso, Prontidão e guardadas as devidas proporções, Ordem de Marcha;

4. Nosso regime de trabalho não é incompatível. É o melhor, levando-se em consideração a missão, os meios, as peculiaridades da força e o tempo de emprego, a curto, médio e longuíssimo prazo, ou seja os principios da economia de forças e da otimização do emprego dos meios Afinal estamos sempre na " Linha de Frente".

5. Quanto  as UOp como Forças de Recobrimento, já as possuímos. São o BPCHq, o Regimento de Cavalaria, o BAC, o BOPE. Caso o Comando Geral da PM julgue a seu tempo, criar outras, como já foi o caso do GETAM, com certeza o fará.

6.  Nossa missão não é só no Alemão, na Maré, no Borel, Providência, ou outra área especial semelhante. Ela é para ser executada, e o é,  em todo e qualquer centímetro quadrado dos 42 mil  quilômetros quadrados de nosso Estado do Rio de Janeiro. E o que é fundamental, não é episódica. É eterna, ou pelo menos já dura 205 anos. Portanto temos que racionalizar cada vez mais nosso emprego, para que possamos servir e proteger nossa população por pelo menos mais 205 ANOS.

7. A Policia Militar, ao contrario do que consta no artigo, está sim, há 205 anos " à disposição de seus comandos, por tempo integral e sendo  empregada quando necessário, sem interrupção do serviço". Aliás, ai do Brasil se assim não o fosse. Somos uma Força e não um bando;

8. Não abrimos mão de que sejamos ( A Policia Militar) reconhecidos também como "exemplos de eficiência, competência e dedicação exclusiva ao serviço e ao Brasil". É questão de justiça;


9. A PMERJ e todos nós sempre nutrimos um profundo respeito e admiração muito grandes pelo Exercito Brasileiro, afinal de contas é nosso modelo estrutural, desde 1809,  o que muda é a missão. Temos o orgulho de termos sido comandados por um sem número de figuras ilustres oriundas, entre outras, o Duque de Caxias, o Marechal Hermes da Fonseca, o Marechal Vidigal, o Brigadeiro Castrioto, o Gen Odílio Dení, o Gen Pessoa.

Mas tem um valor do qual também não abrimos mão. O respeito pessoal e Institucional. A Policia Militar merece respeito por tudo que ela já fez em prol da sociedade nos últimos dois séculos, e tenho certeza que continuará fazendo.


 Por isso o cumprimento do dever de prestar esses esclarecimentos.







19 comentários:

  1. Minha respeitosa continência Comandante! Tenho a honra de ter sido um de seus comandados e continuo preservando a admiração de outrora. Permita-me apenas uma pequena correção, informando ao General que a PMERJ atua em todos os 43 MIL quilômetros quadrados deste Estado (tópico 6).

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  2. O que ele falou sobre o fiasco do EB na ocupação do Morro da Providência? Nada?... Ora, que vá plantar batatas!

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    1. Caro amigo Larangeira, pessoas são pessoas, Instituições são Instituições.

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  3. Caro Comandante, a busca do conhecimento envolve diversos fatores, como pesquisas, estudos, habilidades, experiências, respeito, humildade e etc. Algumas pessoas acham que já possuem o conhecimento de tudo e de todos, somente pelo fato de possuírem um dos fatores acima citados e esquecem dos demais, principalmente do respeito e da humildade. Os profissionais devem ter a humildade de aprender e ter o respeito por outros profissionais e instituições que eles conhecem e/ou desconhecem. O caso em tela demonstra total desconhecimento, por parte do Sr. General, da história, da missão e das experiências diárias vividas pela gloriosa PMERJ e seus heroicos profissionais. Segundo o General Chinês, estrategista e filósofo, SUN TZU, antes de empreender qualquer ação, devemos conhecer o caminho, o clima, o terreno, a liderança militar e a disciplina. Acredito que o nobre General tenha errado o caminho e comentado algo que desconhece...
    Parabéns, mais uma vez, pela abordagem técnica, objetiva e respeitosa do tema.

    Lopes de Aracaju/SE

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    1. Obrigado caro amigo Lopes. Como sempre, falsas premissas levam a análises capengas e despropositadas, e consequentemente a errôneas decisões. Ou melhor ainda, usando a linguagem da Tropa, NA PRÁTICA A TEORIA É OUTRA. Grande abraço Guerreiro.

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    2. Minha respeitosa continência 01!

      Tenho apenas 3 anos servindo a Briosa e nesse tempo estou lotado em uma UPP da ZS. Trabalhei na escala12x48 e agora na 12x24x12x48.

      A impressão que tenho é que rendiamos mais na 12x48. Nas primeiras 24hs de descanso da escala atual, este descanso e o convivio familar fica comprometido tendo em vista as horas perdidas no transito para o deslocamento residencia-23BPM-residencia.

      Na minha humilde visão a PMERJ preciso reavaliar a escala tendo em vista a nova dinamica das UPPs pois estas estão espalhadas pela cidade e seus membros espalhados pelo Estado.

      Poucos de nós, lotados em UPPs, trabalhamos em vtrs. A grande maioria trabalha em GPPs que acarreta em patrulhento ostensivo a pé no terreno nada favoravel tendo em vista o perigo e a irregularidade. Com isso , o desgaste fisico é maior.

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    3. Caro Paulo. Nem tanto nem tampouco. Obrigado pela intervenção e boa sorte.

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  4. Sou Papa Mike e digo, a PMERJ não está ne aí pra seus Policiais.
    E o projeto UPP fracassou pelo Governo que temos e pelo corpo de oficiais dessa PM.
    O PM não tem um estimulo para se fardar e arriscar sua vida nas ruas dessa cidade e muito menos nas UPPs.
    Escala Ruim, o cara trabalha feito condenado em escala de 12 por 24 e 12 por 48 , isso é escala??
    cansado vai prestar um bom serviço nuncaaaaaaaaaaaa.
    sentado no ar condicionado e dizendo que a policia é um sacerdocio , que tem que bancar e tal.
    papo furado.
    todos os guerreiros estao descontentes.
    2016

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    1. Caro anônimo, qualquer debate em que uma das partes ou as duas, estão com o coração pleno de ódio e decepção, nunca será racional e/ou eficaz. Aguardarei que o manto da razoabilidade volte a reinar neste ambiente didático e voltaremos a conversar. Abraço.

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  5. NÃO EXISTE A POSSIBILIDADE DE SE PRESTAR UM SERVIÇO COM EXCELÊNCIA, QUANDO O PRESTADOR DE SERVIÇO ESTA CANSADO FISICAMENTE E MENTALMENTE.
    RECEBENDO UM SALÁRIO DE JUDAS.
    SENDO EXECRADO PELO GOVERNO E PELOS SEUS PRÓPRIOS COMANDANTES.
    COMO UM PM DO RIO QUE COMBATE UMA GUERRA CIVIL GANHA UMA MERRECA E UM PM DO TOCANTINS QUE CORRE ATRAS DE LADRAO DE GALINHA GANHA 7.000,00.
    O CARA NÃO TEM DINHEIRO PRA TRABALHAR O GOVERNO ATRASOU O PAGAMENTO EM 12 DIAS E PAGA 100,00 DE AUXILIO TRANSPORTE E ACHA QUE O PM TEM QUE TRABALHAR 14 DIAS NO MES E QUEM 100,00 D´QA PRA CUSTEAR A PASSAGEM.
    É BRINCADEIRA, E TEM COMANDANTE QUE QUER PRENDER.
    SEM CONTAR ESSE RDPMERJ QUE EU ODEIO, NÃO SERVE PRA NADA SÓ DESAGREGA.
    E OUTRA, SE NÃO FOSSE OS PRAÇAS A POPULAÇÃO TAVA FERRADA.
    POLICIA DE VERDADE, BRABO , DISPOSIÇÃO, GUERREIRO E QUE SABE O QUE É SEGURANÇA PUBLICA DE VERDADE SÃO OS SOLDADOS, CABOS, SARGENTOS E SUBTENENTES.
    O RESTO, É O RESTO.
    SE ACHAM QUE SÃO MELHORES QUE OS PRAÇAS, VEM BANCAR : GATE, POG, SETOR, SUBSETOR, APREV , VISIBILIDADE.
    VEM QUE EU QUERO VER !
    SÓ FALEI VERDADE.

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  6. Boa tarde Sr cmt.
    Gostaria de saber a vossa ilustre opinião sobre a exclusão de policiais militares reformados por incapacidade mental. Grato.
    Alexis Giestal da Costa 1 SGT PM REF 52233

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    1. Sou contra. Nosso Policial nessa condição, já foi mais do que penalizado pela vida.

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  7. Boa tarde Sr cmt.
    Gostaria de saber a vossa ilustre opinião sobre a exclusão de policiais militares reformados por incapacidade mental. Grato.
    Alexis Giestal da Costa 1 SGT PM REF 52233

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  8. Coronel Wilton, suas palavras, centrada e esclarecedoras fazendo, polidamente, (eu não chegaria a tanto!) um contra ponto ao que obra o ínclito(?!) General, são lídimas e corretíssimas. PPMM, guerra diária, sofrimento diuturno, heróis anônimos, guerreiros na essência plena do vocábulo. E, para mim e muitos de nós, FFAA é, na realidade reserva das PPMM E NÃO O CONTRÁRIO! o SENHOR ME ENTENDE! Selva!!!

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    1. Obrigado caro Cel PMES Montagnoli. Seellvvvaa !!!!

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    2. Dois grandes guerreiros que dedicaram suas vidas em defesa das populações de seus Estados: Wilton e Montagnoli. Concordo com tudo o que vocês disseram.

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