terça-feira, 17 de março de 2015

A Historia do GAM ( Grupamento Aeromarítimo Ten PM Antunes) da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro- 5ª Parte/ Conclusão.


ESCANINHO DE RECORDAÇÕES

Continuação/Conclusão.

Alguns fatos  que passo a narrar logo a seguir ( não o serão com intenção absoluta, apenas garimpando algumas nuances), creio que darão mediana  sustentação a " teoria da conspiração ", que já se apoderava do Comando da PM , à época, evidenciando que o Projeto Asas Móveis da PMERJ, corria serio risco de não  se concretizar, pelas razões expostas abaixo.

No prosseguir da luta administrativa, viemos a saber que :

1. Nosso Planejamento/ Proposta oficial contendo todos os pré-requisitos exigidos em lei para criação de novos Órgãos na PM, encaminhado por nosso EMG ( Estado Maior Geral ) com mais do que tempo útil para a SSP ( Secretaria de Segurança Pública, sim senhores,  a SS, já foi SSPública  ), estava simplesmente acautelado ( engavetado ) em poder do Delegado de Policia Civil Reimão, Subsecretario Operacional, creio que com a melhor das intenções. Ocorre que o Delegado era oriundo do Serviço de Salvamento do Corpo de Bombeiros, sendo muito ligado fisicamente ao Posto da Barra da Tijuca, e amante dos esportes náuticos. Assim,   viu em nosso Projeto uma grande oportunidade de realizar antigo sonho de criar um Órgão na Policia Judiciaria ( Civil ), para combater o crime no céu e no mar,  à semelhança daquele que nós  estávamos propondo, como Policia Ostensiva. Pronto, assim que nosso Projeto começou a tramitar na SSP, ele" pediu vistas",  segurou nosso Projeto, torno  a dizer,  creio que com as melhores das intenções,  enquanto fazia o dele. O resultado foi que, por longo tempo,  a nossa Proposta  não tramitava pelos canais competentes.  Felizmente, tomamos conhecimento a tempo e conseguimos neutralizar tal investida, digo mal entendido;

2. O Chefe do CGOA, Cmt Maia, Engenheiro, oriundo dos quadros do DER, eternamente contrario a qualquer iniciativa que desse autonomia ás Forças Policiais na área de Patrulhamento Aéreo, tratou durante anos, enquanto pode,  de obstaculizar a devolução do Helicóptero da PM  que estava sob sua guarda desde a década de 90. Até o último momento ( Oficio número 248/ 02- 20/3/02)-Cmdo Geral), tentamos junto ao CGOA a devolução de nossa Aeronave |Prefixo PPEMA, não obtendo êxito ( Of 217/02- 22/3/02-CGOA ). Conseguimos no entanto avançar com a atitude tomada na defesa de nossa Aeronave nova, comprada pelo Governo e sendo aprestada na Helibrás,  conforme registrado mais a frente;

3. Além dos vários problemas de engenharia encontrados no local escolhido para a construção de nossa Base ( era  a antiga Sede do CMM - Centro de Manutenção de Material) da PM do antigo Estado do Rio de Janeiro, desativado portanto desde o ano de 1975, o que mais me preocupou e nos fez perder precioso tempo, foi a questão do solo. Ocorre que o solo ao se fazer as primeiras sondagens  mostrou-se problemático , tendo em vista ser à beira -mar, em área aterrada. Tal fato, atrasou um pouco as obras fazendo fugir  pelos meus dedos   o cronograma inicial. O Cel Maia, Chefe da DGAL  ( Diretoria Geral de Apoio Logístico) e sua equipe,  mergulharam  de cabeça nesse problema com garra e profissionalismo, e através de novas escavações,  estaqueamento e múltiplas  camadas de concreto especial, inclusive adotando-se o método moderno à época denominado " nível zero ", chegaram a padrão de excelência das instalações , dentro daquilo que se tinha a mão. Mas o tempo corria;

4. E,  finalmente a última tentativa ( pensava eu ) de " golpe de mão " ( física ) que o Projeto sofreu, esta  já no derradeiro momento, a qual passo a narrar :

Estava eu representando  nossa PMERJ , em reunião extraordinária de Comandantes Gerais ( desmilitarização, desconstitunacionalização, termo circunstanciado, etc,,.. como sempre. ), no Estado de Goiás, quando em meio as intermináveis reuniões, recebo telefonema  angustiado de meu Ch EMG ( Chefe do Estado Maior Geral ), Cel PM Montenaro, dando conta que havia recebido um telefonema do Gerente Geral da Helibrás em Itajubá, Minas Gerais,  informando que o Helicóptero  nosso já estava pronto para a entrega, mas que naquele momento  lá estavam para recebê-lo uma equipe a paisana chefiada por um Major  do Corpo de Bombeiros que estava a disposição da SSP/RJ  ( Secretaria de Segurança Pública ) e portava um Oficio assinado por aquela Secretaria de Estado  determinando a entrega do Aparelho àquela equipe alienígena. . Dessa forma, perguntava qual deveria ser o  procedimento daquele Gerente.

Fiquei estarrecido e muito aborrecido. Um desconfortável sentimento de perda começou a me incomodar.  Um cenário mental imediatamente  transcorreu diante de meus olhos. Se aquilo acontecesse, estaria se repetindo o descalabro do primeiro helicóptero ( era da PM mas não saia da CGOA ). Teríamos que inaugurar um Grupamento Aéreo sem asas.... Inacreditável.

De bate pronto comuniquei ao Ch EMG/ PMERJ  minha decisão, dando-lhe as seguintes missões:

1. Avisar ao Gerente da Helibrás que de forma alguma, sob nenhum pretexto, ele deveria entregar nossa Aeronave a um não PM;

2. Localizar o Tenente PM Balthar, Oficial nosso que fazia Curso de Mecânica de Aeronaves na Helibras, e determinasse que o mesmo se armasse e fosse imediatamente para o interior  de nosso Helicóptero, estivesse onde estivesse. Lá dentro não acatasse ordem de ninguém a não ser minha ou do CH EMG. Não permitisse que ninguém, civil ou militar, se aproximasse do Aparelho em um raio de 10metros. A partir dai aguardasse novas ordens. Tal missão foi cumprida com zelo total;

3. Acionar o Cel PM Claudecir Ribeiro da Silva para que montasse equipe e seguisse imediatamente por terra para Itajubá e lá  resgatasse, usando os meios necessários , a nossa Aeronave em perigo. Tal missão também foi cumprida com galhardia.  Inclusive, quem conhece o Cel Claudecir,  imagina o que não deve ter passado a equipe alienígena que queria nos desfalcar de nossa única Asa Móvel  naquele momento;

4. Pedisse imediatamente audiência ao Maj Brigadeiro Marcos Vinicius Sfoggia , à época Comandante do III COMAR ( Terceiro Comando Aéreo Regional), e nosso amigo e amigo da PM , e após narrar a situação institucional que estávamos vivendo, solicitar um local de guarda em meu nome, seguro, inviolável e coberto das  vistas  para nossa Aeronave,  até a inauguração da Base do GAM. Tal permissão teria que ser imediata tendo em vista que o Cel Claudecir, a qualquer momento poderia chegar com o Helicóptero. O Brigadeiro imediatamente nos atendeu, tendo reservado e logo a seguir guardado a Aeronave, em um Hangar coberto, e sob vigilância, na área  do III COMAR/  Aeroporto Santos Dumont,   até  o dia 21 de março de 2002,  data da inauguração de nosso GAM;

Prossegui  nas atividades do Encontro de Comandantes Gerais,  defendendo os pontos de vista de nossa PMERJ, junto a outras Co-irmãs  e representantes de outras instituições.

A partir dai o tempo passou mais rápido ainda.

Faltando uma semana para a data da inauguração, tudo que dependia da PM já estava equacionado, qual seja :

1. Preparação e envio da documentação/ Proposta para a SSP, visando a criação oficial do GAM, inclusive com a minuta do Decreto do Governador, na qual inserimos a obrigatoriedade da devolução de nosso helicóptero numero 02;

2. Alocação de recursos humanos compatíveis, formados e treinados,  tendo o Bol  PM nº 51  de 18 Mar 2002, constituído o Grupo Fundador do GAM , composto a princípío de 13 Oficiais e 46 Praças. Podendo-se nominar os Capitães Fabio Almeida de Souza, Miguel Francisco Ramos Junior, Valdeci Santos de Lima, Sergio de Andrade Alves,  Daniel de Miranda Queiroz,  Rodrigo Sanglar, Roberto de Sena e Tenentes, André Roberto M. Balthar, Fernando Pereira Viana, Alexandre Barbosa de Lima, Claudius Ferreira da Silva, Gilson Fernandes e Rodrigo Duton Alves;

Das 46 Praças., incluía-se o pessoal de terra, os " canelas pretas ". Ocorre que, como o clima de tensão em torno da iniciativa da inauguração pela PM,  de Órgão Operacional de tal magnitude, fatalmente natural que começassem a surgir boatos e informes a respeito até da possibilidade de atos de sabotagem contra material e instalações de nossa Base GAM  recém construída. Decidi não brincar com coisa séria. Eu sabia a pressão que a Corporação estava sofrendo desde o inicio do Projeto. Determinei que um Pelotão completo , de Tenente a Soldado mais moderno do BPChq ( Batalhão de Policia de Choque), fosse hipotecado sem prazo, ao efetivo do novo Grupamento.Sua missão inicial era estabelecer um perímetro de segurança de 360° em torno da Base do GAM, 24 horas por dia, enquanto qualquer ameaça de violação  das instalações pudesse ocorrer, pelo menos até a data da inauguração. Julgava que com o fato consumado, as pressões diminuiriam.   Esse Pelotão foi com armamento, viaturas, equipamento e fardamento do Choque, dai a primeira farda operacional do GAM ter sido a do BPChq;

Já haviam sido formalizados  para assunção de Comando e Sub comandos o Cel PM Claudecir Ribeiro da Silva, e os Majores PM Eduardo Luis Brandão Ribeiro e Renê.


3. Alocação de recursos materiais. também ECD ( em condições de).  Pelo menos com  3 embarcações em ótimas condições já podíamos contar. Um helicóptero novo, nosso 01 devidamente camuflado no Hangar  do III COMAR ( Havíamos recebido noticias que equipes do CGOA haviam repetidas vezes, não sei com que intenção,  realizado sobrevoos em alguns  locais do Estado,  tentando localizar nossa Aeronave).  Não lograram êxito...... Havia ainda a esperança de conseguirmos a devolução de nosso segundo Aparelho. Outros materiais , mercê da urgência, também já estavam na mão, como por exemplo viaturas terrestres, kits de ferramentas, macacões especiais, equipamentos de primeiros socorros, manuais, legalização de nosso Heliporto e Atracadouro,  material burocrático, etc, etc...;



4. A construção de nossa Base já estava praticamente concluída, inclusive nosso Porto provisório;

Só nos restava esperar.

Só que esperei e nada aconteceu. Foi quando decidi na véspera do evento, na ausência de outro documento formal superior,  criar o GAM  através de Portaria do Cmt Geral, (Bol da PM de 20 de Março de 2002). Nesta publicação  consta  não só a Portaria de criação, mas também sua constituição, missão, e NGA ( Norma Geral de Ação) equacionando  suas rotinas de trabalho. Regulei  também a denominação das Aeronaves, FENIX em alusão ao ser mitológico que renasce das cinzas das dificuldades e perseguições, como soe acontecer com  as pessoas e coisas da PM. Às embarcações dei os nomes de SELVA, em homenagem a formação natural, que ocupa ainda nos dia de hoje, mais de 50% do território nacional. .Junto com a água, a origem de tudo.  Terra de gente simples, generosa,  mas firme , coerente e digna  em suas posturas e condutas.

E,  finalmente, também em BOL PM,  com grande emoção, batizei nosso GAM com o nome do saudoso Guerreiro,   1º Ten PM RG 50.980 Cidimar Antunes de Almeida, Oficial  assassinado  tragicamente, no dia 17 de Março de de1995,  em Operação Helitransportada, no combate a criminalidade armada com arma de guerra, no Bairro do Caramujo, Niterói, por ocasião   de ações contra o tráfico de drogas no período de meu Comando no 12º BPM ( Decimo Segundo Batalhão de Policia Militar ).

Chega o dia 21 de Março de 2002, ás 10 horas.  Com a Tropa em forma, recebemos o Sr Secretario de Segurança, o Cel PM Josias Quintal de Oliveira e logo após o Governador do Estado, Antony Garotinho.
Tenho em minha mente ( e também gravado em DVD), o susto que o Cmt Maia, pilotando a Aeronave do Governador , transmitiu para seu Aparelho ( parecia que sofrera a consequência  de um repentino " efeito solo "),   quando ao realizar seu primeiro pouso em nossa Base, viu de bem perto nossa Aeronave 01, em toda sua majestade azul gendarme, santamente, mas com cara feia, aterrissada   em nossas humildes mas dignas e orgulhosas  instalações aeronáuticas, com suas laterais escritas em letras garrafais, POLICIA MILITAR.  Nossa FENIX  I, havia sido retirada de seu esconderijo estratégico no III COMAR , havia  apenas meia hora antes.  Confesso que naquele momento cheguei a temer pela integridade física do Governador, dado ao volteio abrupto da cauda do seu helicóptero, ao buscar aterrisagem.  Mas tudo terminou bem, embora chovesse.

Me senti muito honrado também quando o Governador ao termino de seu discurso, sacou de seu paletó, o texto do Decreto  de criação do GAM e o assinou em público, diante de toda a Tropa, passando após às minhas mãos para os procedimentos administrativos usuais. Ao lê-lo, orgulhoso, vi que ali constava também em artigo próprio,  a determinação   governamental da devolução de nossa Aeronave 02, Prefixo PPEMA, passando a ser nossa de fato e de direito.

Exaustiva cobertura de imprensa teve efeito em razão do evento. Me permito no entanto por razões sentimentais , destacar o texto da primeira página do Jornal  O São Gonçalo, edição do dia 22 Março de 2002 :

" PM GANHA NOVO GRUPAMENTO EM NITERÓI"

"A Policia Militar vai passar a combater a entrada de armas e drogas pela Baia de Guanabara, com a inauguração do Grupamento Aeromarítimo de Niterói. " Agora vamos patrulhar o Estado por Terra, Mar e Ar", ressaltou o Comandante Geral da PM, Coronel Wilton Ribeiro. Ontem mesmo foram entregues dois Helicópteros e três lanchas. "
 
 
 
 



Ao retornar ao meu Quartel, com a alma feliz  e o felino coração em regozijo pela satisfação do dever cumprido, cometi um grande erro. Julgando que as ações inimigas estariam terminadas ,  esqueci da máxima Suntzuana: " O inimigo não dorme, nunca !!!". Encaminhei o Decreto de criação do GAM Ten PM Antunes, recém assinado pelo Governador através os  trâmites burocráticos normais , isto é, formalmente a SSP, para que de lá como era praxe, fosse encaminhado ao Gabinete Civil e ai sim,  Diário Oficial. Nada que  consumisse mais de um ou dois dias.  Bem,  10 dias depois o Governo acabou, foi substituído.  O Decreto desapareceu e o GAM ficou criado por Portaria do Comandante  Geral até o dia 07 de Abril do ano de 2004, ocasião em que novo Decreto foi assinado e ai sim publicado em Diário oficial, e também ai sim,  finalmente a devolução de nossa Aeronave 02.

Esta é a história do Grupamento Aeromarítimo Tenente PM Cidimar Antunes de Almeida, da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

Obra possível graças a um  punhado de valentes, idealistas  e determinados Policiais Militares, os quais  acreditaram em seus sonhos de tornar sua  Policia Militar cada vez melhor.

Vida longa ao GAM Ten PM Antunes. Que  a Policia Militar, a Rainha das Ruas, continue a ser também a  Rainha dos Céus e a Rainha dos Mares, na árdua e nobre missão de combater para controlar a criminalidade em nosso Estado do Rio de Janeiro.

ENQUANTO MISSÃO HOUVER MISSIONÁRIOS SEREMOS !!!!!!!!!

Seeeelllvvvaaa !!!!!



Um comentário:

  1. Linda história de vitória.
    Me chamo Cátia e nesta época era funcionaria da DGS, conhecia o Cel Maia indo trabalhar com ele depois na DIP e o na época Capitão Andrade e o Capitao Lima e me lembro do trabalho empenhado e a espera do GAM ser inaugurado

    Foi muito bom ver aqui com exatidão toda a história do GAM

    PARABÉNS PELA CORAGEM E DETERNINACAO DOS QUE FIZERAM ISSO ACONTECER.

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